terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CAP.VIII EMOÇÕES DESTRUTIVAS

O stress, sob a ótica de muitos especialistas, é um subproduto do regime cada vez mais competitivo das empresas. Para exemplificar seu raciocínio, entre os milhares de exemplos existentes, valem-se daquele personificado pelo gerente que, recebendo a incumbência de dobrar as vendas, mesmo dando tudo de si não o consegue. A conseqüência é um executivo transformado numa pilha de nervos: grita com os subordinados, a noite não dorme e quando em casa discute com a esposa e filhos. Em suma, sua vida pessoal se torna um inferno e seus funcionários, assim acossados, passam a responder, como ele, com cansaço, irritação, desânimo, impaciência, revolta e até depressão. Situações que nas empresas determinam prejuízos devido a queda de produtividade.
Pessoalmente vivi uma situação semelhante. Em um momento da minha carreira fui promovido ao cargo de gerente de filial e transferido para Fortaleza, Ceará, passando a residir em um apartamento à beira mar em frente ao clube Náutico.
Meses depois, apesar dos poucos passos necessários para ir à praia, só a freqüentava nos fins de semana, mesmo assim, não para correr e nadar como fazia no Guarujá quando em São Paulo, mas no clube bebendo, fumando e conversando.
O trabalho exigia muito: pressão da matriz; competição entre as filiais; mercado difícil, porque a maior fatia repousava sobre as repartições públicas que na época necessitavam de 45 dias de receita para pagar 30 de despesa. Quadro comercial sem a agressividade desejável, estoque, faturamento, cobrança e todas as demais tarefas que deviam ser exercidas para garantir uma boa gestão. Sim, queria ser o melhor.
Havia trocado a megalópole, a agitação paulista cuja dinâmica jamais me havia afetado, por uma cidade calma, de clima ameno e a beira mar - os ingredientes apropriados para uma vida saudável e confortável.
Meses depois, já com um bom circulo de amigos, passei a freqüentar reuniões, festas, almoços, jantares: lagosta no Náutico, peixada no Expedito e entre o fim do sábado e o inicio do domingo, na prainha além de Aquiraz na casa do amigo Chico, aluaradas sempre regadas a whisky, tira-gosto e violão.
Um ano depois comecei a me sentir desconfortável. Mal estar, irritação, tensão, flatulência e dores de estômago que em pouco tempo se tornaram insuportáveis, alucinantes mesmo, forçando o médico a me aplicar injeções que me induziam a dormir dias seguidos.
Assustado, procurei um especialista que após a consulta me disse: O melhor a fazer é ir para São Paulo e consultar um gastroenterologista, porque entre as possíveis causas da dor uma pode ser grave.
Dias após, em São Paulo, fui atendido pelo titular de um Instituto de Gastroenterologia sediado na Rua Silvia, o qual, depois de me ouvir longamente disse: Quero que esta noite você saia para jantar e “tome todas”. Aqui tem o telefone do meu assistente. Se a dor vier, chame-o. Não importa a hora.
Obedeci, e por volta das três horas da madrugada, já na cama, eis a dor. Suave inicialmente e logo depois alucinante. O assistente veio, conversamos, aplicou uma injeção e agendou uma consulta para o dia seguinte.
Depois de me submeter a uma interminável seção de endoscopia, com a retirada de amostras de suco gástrico de quinze em quinze minutos, o exame terminou. O diagnóstico: Gastrite aguda de origem nervosa - stress - que na medida em que se ampliava (conforme havia sido constatado pela análise do suco gástrico) diminua o índice de acidez a ponto de torná-lo incapaz de processar a digestão.
Por que isso, perguntei? Você come depressa demais, não mastiga o alimento como deveria, e, além disso, bebe e fuma em demasia. Como a digestão não se processa adequadamente, são gerados gazes que recheiam e pressionam as cavidades abdominais e das regiões adjacentes. O resultado é a dor.
Sua receita: mantenha-se calmo e se dedique a algum hobby. À noite, quando deixa o trabalho, tranque os problemas no cofre e não pense mais neles. Seja profissional, complementou. Execute sua função friamente como eu faço com meus pacientes, mesmo porque está é a melhor maneira de trabalhar.
Temos que desempenhar nossa atividade o mais responsavelmente possível. Porém, devemos admitir antecipadamente que, uma vez que o resultado depende ao mesmo tempo de fatores que fogem ao nosso controle, nem sempre é aquele que desejamos.
O que devemos perseguir é um grau de profissionalismo sempre ascendente. Este deve ser o objetivo primário. É como subir por uma escada: mais você sobe, mais enxerga longe, e mais enxerga longe, maiores são seus conhecimentos. A decorrência disso é uma só: o resultado da atividade que exercemos cresce na medida que nos tornamos melhores profissionais. É só uma questão de perseverar.
A prescrição foi um ano sem ingerir bebida alcoólica ou refrigerante, fumar no máximo cinco cigarros dia e ao longo do mesmo período limitar a alimentação a arroz branco muito cozido, eventualmente acompanhado com caldo de feijão ou purê de batata. O mingau de maizena era a outra opção. Além disso, no meio da manhã e da tarde, um chá de camomila com biscoitos de maizena.
O único medicamento receitado foram gotas preparadas manualmente pela botica Veado de Ouro (para facilitar a digestão), que deviam ser ingeridas em 1/2 copo de água durante as principais refeições.
Segui a risca a prescrição médica, mesmo quando os amigos, divertindo-se, degustavam suculentas lagostas ou outras iguarias. Doze meses depois, em férias em São Paulo, fiz um teste... A saúde estava perfeita.
Havia aprendido duas importantíssimas lições: Evitar excessos quais quer que fossem, coexistir com as nuances da vida mesmo se estas contrariam expectativas e lutar, lutar com unhas e dentes quando é o caso, mas sem jamais se envolver emocionalmente se o resultado não era o esperado.
Afirmo que desde então, moléstias como cansaço, irritação, desânimo, dores, impaciência, revolta etc. (que acometem até hoje amigos por viverem estressados), não me afetaram mais. Estes são alguns sintomas de uma enfermidade que tem atingido cada vez mais o mundo: o stress.
Nas empresas, não importa de que área ou região, o fato é que estruturas mais enxutas, competitividade, metas, mercado instável e desemprego estão levando as pessoas a adoecer, e, segundo alguns médicos, até morrerem.
O mundo contemporâneo, em sua cadência acelerada, fez da extração, transformação e comercialização um ciclo que exige dos homens que a ele se dedicam que se tornem robôs. Robôs no sentido de se capacitarem a abdicar de seus sentimentos, interesses, família e às vezes até da saúde para que a “bandeira” que servem se torne cada vez mais competitiva.
Esta infindável maratona, sim, colaborou e colabora para transformar o stress em uma doença moderna, uma enfermidade que com sua evolução trouxe enormes prejuízos pessoais, familiares e empresariais.
No Brasil não há números oficiais, mas, repetindo o que se lê na mídia especializada, o prejuízo operacional causado pelo stress chega a contabilizar um custo de US$ 300 bilhões por ano nos Estados Unidos, e 265 bilhões de Euros na Europa.
Mas são somente as empresas que devem ser responsabilizadas pela geração e repartição do stress, distribuindo-o em primeira instância a seus funcionários e através destes a seus dependentes? Claro que não, porque o ser humano nas últimas décadas se engajou, sem medir conseqüências, em uma obstinada luta para possuir e usufruir - e no menor prazo possível, tudo aquilo que julga que deve propiciar a si mesmo “para que a vida valha a pena ser vivida”, segundo ele.
Por essas e outras, é comum ouvir frases do tipo “estou estressado”. Não obstante, na maioria das vezes, a necessidade de externar estas palavras reside em uma classe de ansiedade que poderia ser evitada se os indivíduos, ao nível de suas responsabilidades pessoais, antes de sucumbirem diante das ações comandadas por instintos, as sujeitassem ao crivo da razão, além de cuidar da saúde física (inclui alimentação) e mental como deveriam. Isso porque, na maior parte das vezes, o significado de “estou estressado” é outro: não acho o tempo para fazer tudo o que preciso, estou cansado, a noite não durmo, estou tendo problemas de relacionamento, parece que na minha vida nada dá certo e centenas de outras considerações análogas que só frutificaram porque a humanidade passou a desprezar aqueles valores morais que eram os pilares daquela sociedade que se perdeu no passado.
Afirmar que são as empresas as responsáveis pela geração e difusão do stress é uma inverdade, porque a moléstia nasce e se desenvolve também entre os cidadãos de todas as camadas da sociedade ao perceberem que suas expectativas correm o risco de não se realizarem. Até um semáforo na cor vermelha, se retém um motorista apreensivo, se transforma em uma fonte de stress. Este é o motivo pelo qual se tornou corriqueiro desrespeitá-lo.

Stress-caso 1: o episódio de João e Alfredo.
João, irritado por estar atrasado para um compromisso, tentando minimizar o prejuízo, imprimia ao seu veículo uma velocidade além daquela permitida em área urbana. Na sua frente, Alfredo, por não conhecer o bairro, a cada esquina, guia na mão diminuía a velocidade para ler o nome da rua.
João, apoquentado, cada vez mais exasperado com as atitudes de Alfredo, cada vez que diminuía a velocidade de seu veículo, buzinava feito louco e o insultava.
Sentindo-se agredido, Alfredo, também pavio curto, em uma das esquinas parou o carro e desceu para tirar satisfações.
O que vocês acham que João imaginou a respeito das atitudes do Alfredo? Tudo, menos à verdade.

O stress possui níveis diferenciados? Claro, existem momentos em que, mesmo desconhecendo a razão, não nos sentimos à vontade, e, por estarmos aborrecidos, respondemos grosseiramente até para aqueles que nos são caros. Este comportamento pode ser atribuído à fase “pré-stress”, porque antes dela, enquanto equilibrados, cantarolando sem o perceber, respondemos serenamente até para aqueles que, por estarem estressados, não se dão conta que estão agredindo.
Nessa fase, a irritação pode suceder à serenidade, e vice-versa, simplesmente porque o homem, no caminho da sua evolução natural, alcançou tão somente o degrau em que hoje se encontra.
O primeiro estágio do stress é o positivo, aquele que é representado pelo nível de ansiedade e expectativa que nos prepara para enfrentar os desafios da vida moderna. Uma reação natural à pressão que gera aquela pujança que leva, em determinados momentos, alguns indivíduos a superarem a si mesmos.
O problema começa a surgir depois, porque o stress, como uma pintura que ao receber varias camadas assume cores mais intensas, se acentua na medida em que o indivíduo perde o controle de si mesmo.
Esta é a etapa chamada “fase de resistência”, aquela em que o stress causa irritação, desequilíbrio emocional, angústia, distúrbios de sono, dores de cabeça, problemas digestivos etc., que podem desembocar na exaustão física e mental.

Stress-caso 2: o episódio da Dna. Madalena.
Dona Madalena é uma avó de 73 anos que, além de ter sido internada uma centena de vezes, sofreu 32 intervenções cirúrgicas. Mesmo assim, seu estado de saúde sempre esteve lastimável. Este é o efeito. As causas: marido cardíaco, filhos separados vivendo as turras com as ex-esposas devido á dificuldade de pagar a pensão alimentar, netos semi-abandonados e entre eles um na cadeia e outro jurado de morte por ter se envolvido na comercialização de drogas.
Esta senhora, diante dos acontecimentos, após adentrar em um impasse psicológico (a soleira através da qual adentrou em longos anos de vida desequilibrada) somatizou, isto é, desenvolveu aquelas doenças que lhe causaram os problemas de saúde citados. Vamos analisar o porque? Deixou seu assento na platéia, onde como expectadora era obrigada a só assistir o desenrolar dos acontecimentos sem poder intervir, e invadiu o palco assumindo um papel que não era dela. Decorrência: dentre todos os eventos negativos vivenciados pela família, o dela foi o mais grave.

A concepção do matrimônio também mudou acentuadamente nos últimos trinta anos, porque antes, por causa da tradição que passava de mãe para filha, que incluía aceitar com humildade a imposição da igreja de que o marido era a cabeça do casal, esta continuava a ser aquela criatura que se dedicava tão somente ás tarefas de manter higienizado o lar e cuidar, no sentido mais amplo possível, do marido e dos filhos. Resultado, este consenso era uma força poderosa que mantinha a família unida mesmo diante de atitudes irracionais do cônjuge.
Hoje, o fato de ser comum marido e mulher trabalharem fora, por si só trás em seu bojo um constante conflito de interesses, conflitos que para serem resolvidos exigem que uma das partes abdique do seu. Entretanto, isso nem sempre é possível, e se torna cada vez mais difícil na medida em que os dois se dedicam cada vez mais ao seu crescimento profissional. As dificuldades não param por aqui, porém, visto agora são dois a trazerem para dentro do lar as tensões, alem do cansaço, claro, que impregnam a maioria dos ambientes empresariais.

Stress-caso 3: episódio do casal Carlo e Giovanna.
Quando os conhecemos, o jovem casal há quase um ano não partilhava a mesma cama e não se falava. Haviam chegado a um acordo tácito, porém, que era o de se separarem. Este era o efeito.
A causa tinha a raiz na demissão do marido há oito meses e no fato que ainda permanecia desempregado. Para “amenizar a desonra”, segundo suas próprias palavras, passara a beber. Desonra, porque depois de tanto tempo ele, além da casa, permaneciam sendo sustentados pela esposa, uma professora que para fazer frente à situação assumira em diferentes escolas uma carga horária que exigia, entre deslocamentos e aulas, que saísse de casa as cinco da manhã para só retornar 14 horas depois.
Apesar do voluntariado da esposa, a incompreensão deflagrara quando, após três meses sem ao menos ter sido chamado para uma entrevista, apesar de ter enviado centenas de currículos, passou a acreditar, devido ao embaraço psicológico do momento, que se encontrava em um beco sem saída, isto é, que jamais conseguiria uma nova colocação. Havia mais um agravante. A poupança, pouca porque jamais haviam se preocupado com possibilidade de perderem o emprego, garantiria só por mais alguns meses o pagamento ao sistema financeiro habitacional do apartamento em que moravam. Sim, era isso o que mais o assustava.
No inicio, sem maiores compromissos além daquele de encontrar trabalho, querendo ajudar, passara a cuidar de algumas tarefas de casa e entre estas a cozinha. Desse modo, ao chegar em casa à noite à esposa encontrava a mesa posta.
“Bem, como foi o teu dia”, perguntava ela no decorrer do jantar? Uma pergunta, a qual o marido começara a responder naturalmente visto o carinho que os unia. Logo, porém, cada vez mais tenso, principiou a achar que a esposa o perquiria. “Está cobrando o que”, passou a responder ele. Faço o possível para encontrar trabalho! A culpa não e minha se as empresas não estão admitindo ninguém...Em seguida passou a beber e isto se tornou mais um motivo de desentendimento.
É comum, em seqüência a desavenças nas quais com ou sem razão a esposa se percebe agredida, que ela assuma que deve negar o sexo. Por conseguinte, como em outros casos, a situação entre os dois ficou ainda mais tensa. Decorrência: deixaram de partilhar a cama porque esta também se tornara mais um espaço de enfrentamentos.
Tempos depois, mesmo não dialogando, cada um comunicou à sua família que iria se separar.
Foi nessa fase que, a pedido de uma delas, assumimos o compromisso de ajudar. Semanas após, entendendo a irracionalidade de seu comportamento, visto que o “braseiro” entre os dois permanecia aceso, após muito diálogo lhe sugerimos um fim de semana em um hotel-fazenda.
Retornando, agora harmonizados, recuperaram a serenidade perdida, o ingrediente que ajudou o marido a deixar de beber e logo um novo emprego.

Ser demitido, em qualquer outra parte do mundo assim como no Brasil de vinte anos atrás, sempre foi um evento corriqueiro, mesmo porque quem trabalha sempre teve o direito de se demitir se assim o desejasse. O fato novo é que de alguns anos para cá o desemprego ou o medo dele, neste país, se tornou uma fabrica de stress.

Stress-caso 4: o episódio de uma gerente de marqueting.
Mariana, gerente de marketing de uma divisão de produtos de uma multinacional, já assustada com a possibilidade de perder o emprego, somava a seu desfavor o resultado abaixo da previsão de sua última campanha promocional. Preocupada, avaliava que seu diretor já não se relacionava com ela tão afavelmente como costumava fazer.
Convocada para uma reunião apresentou-se ao diretor na hora aprazada, entretanto, como ele atendia o gerente de outra divisão, lhe disse: Sinto, mas não vou poder atendê-la nesse momento vez que tenho ainda assuntos pendentes com o Fernando.
O colega continuava expondo suas premissas quando Mariana, ao fechar a porta, ouviu o diretor lhe perguntar: Fernando, você estaria confortável se lhe entregasse a operação toda?
Mariana retornou à sua sala pensativa e logo seus olhos marejaram lágrimas. Angustiada, pegou o carro e saiu para almoçar. Só que, perturbada, por não dirigir com a atenção necessária, colidiu com outro veiculo. Machucada, foi levada ao hospital, entretanto, seu nível de tensão era assustador.
No dia seguinte, após tomar ciência do acontecido, seu diretor e alguns colegas foram visitá-la, e ao se despedirem o diretor lhe diz: Mariana recupere-se logo porque estamos atrasados em relação à planificação da campanha para o Natal!
As idéias que pairavam na mente da Mariana quando saiu para almoçar, podemos imaginá-las. Contudo, estavam erradas. O acidente que sofreu por causa delas, no entanto, foi real, e lhe poderia ter causado danos físicos muito graves. Isso se deu porque, independentemente de vir ou não a ser demitida, ao invés de se comportar como um ser humano, racionalmente, portanto, agiu como os descendentes daquela outra linhagem de quem falamos.

Quantas vezes ouvimos alguém dizer “que dia maravilhoso!” Talvez nunca, ou então em ocasiões totalmente atípicas. Não obstante, literalmente falando, todos os dias são iguais chova ou faça sol. A única alteração possível de um dia para o outro é o nosso humor. Sendo assim, se sentimos a necessidade de externar um pensamento (quando não a sentimos estamos sendo tolerantes), qualquer que ele seja, ele sempre reflete a nossa harmonia ou o nosso caos interior. “Que dia maravilhoso” expressa felicidade, paz e plena harmonização com tudo o que nos rodeia. “Que horror, este tempo é insuportável”, ao contrário, demonstra o nosso mau humor e desequilíbrio psíquico.
Por conseguinte, quando ouvimos de alguém um comentário semelhante a este, estejamos atentos. É um alarme que diz para evitar qualquer tipo de contenda com ele, caso inverso, poderemos estar iniciando um grave desentendimento.

Os indivíduos, quando não fortalecem sua estrutura emocional para suportar o “peso” dos eventos indesejáveis, similarmente aquela estrutura projetada para suportar 200 Kg., mas carregando 300, começam a chiar e bufar mesmo pelas causas mais banais: se planejavam ir a praia em um determinado fim de semana e para isso contavam com o sol, se ao invés disso chove, além de ficarem profundamente apoquentadas, o desgaste é tanto que por alguns dias continuam imprecando vez que não conseguem “deglutir” o que aconteceu. E o desequilíbrio se agrava se na segunda feira o bendito sol aparece. Então, encontramos a dona de casa, revoltada, comentando com as amigas que o mau tempo lhe estragou o fim de semana, e que há muito tempo, todas as vezes que pensa ir á praia, chove.
Enquanto o marido, por sua vez, se deleita enunciando este descalabro aos colegas de trabalho ou à noite no bar ao longo daquela paradinha que habitualmente faz para se revigorar com algumas cervejas.
Nessa “atmosfera”, como em qualquer outra produzida por eventos semelhantes, se o cachorro late, os canários cantam ou o papagaio do vizinho fala, a tensão atinge níveis que vez ou outra provocam perigosas reações: chutar a bunda do cachorro, bater com a vassoura na gaiola ou gritar para o vizinho para que de jeito no papagaio porque está “enchendo o saco”.
O descontrole assim gerado não tem limite, e por não tê-lo – sem pensar nas conseqüências e no provável arrependimento posterior, os mais insignificantes desentendimentos dão origem a desenfreadas discussões, que tanto podem acontecer entre o marido e mulher, pais e filhos, no trânsito, na padaria, no supermercado ou onde estiverem. Nesse estado, as pessoas passam a exercer papéis não somente ridículos, mas incabíveis.
Estes, entretanto, são somente os efeitos exteriorizados, assim como o é a fumaça de enxofre e o pó que são arremessadas para o alto quando um vulcão se predispõe a entrar em erupção. É a “pressão que se acumula internamente”, no entanto, a causa os maiores estragos, porque enquanto no caso de um vulcão a explosão pode abrir uma brecha ou destruir no seu todo ou em parte sua estrutura rochosa, no homem, somatizando, pode se responsabilizar por um acidente cardiovascular, um câncer ou qualquer outra enfermidade grave.
São incontáveis as enfermidades que vitimam a humanidade devido aos desarranjos psicossomáticos causados pela intolerância, a não aceitação dos opostos ou aos vícios que são assumidos a guisa de fuga diante das ocorrências que o homem, “corrompido” pelo bem estar que conseguiu para si mesmo, não tem mais força para enfrentar.
Elas afloram porque ele, ao perder a modéstia e a humildade (o segredo do sábio), tornou-se abusivamente arrogante e exigente demais. Por um lado, em sua audácia afronta tudo e todos, mas se sobrepujado (no amalgama da vida há sempre mais insucessos do que vitórias), não sabe coexistir com a derrota.
Chegou-se ao ponto que peita até Deus. Inicialmente o exalta tentando suborná-lo, mas, quando acontece o inevitável, culpando-o pelo acontecido, blasfema, impreca, chegando a se tornar ateu ou a se filiar a outras religiões para se vingar.
Com a perda da humildade floresceu a impaciência, o lufa-lufa, a afobação, o querer já aqui e agora, e como essa irracionalidade insana é a antítese do equilíbrio emocional, com a perda dessa sobrevém o stress, e com ele prosperam, de certa forma sem controle, dezenas e dezenas de enfermidades.
A característica que se estende a todos os casos, e que ninguém, por mais estressado que esteja, mesmo admitindo sentir dores, ter o pavio cada vez mais curto, não fazer a digestão, não conseguir dormir ou fazer sexo, não mais se relacionar com a família etc.etc., admite que sofre de stress.
É fato, ninguém sofre de stress conscientemente. Só inconscientemente (a não ser aqueles que, por estarem esgotados por outras razões, se acreditam estressados), o que nos leva à psique de cada indivíduo e ao grau de aperfeiçoamento que em cada um deles ela alcançou.
A psique, como vimos, é o inconsciente, a alma ou o espírito, o espaço para onde os traumas emocionais se transferem depois que as pessoas acreditam que conseguiram processá-los ao nível do seu consciente.
Sigmund Freud, dizia que no inconsciente do homem se encontram os conteúdos psíquicos (desejos, impulsos, medos etc.) que a consciência escondeu de si mesma por não conseguir aceitá-los. O que o homem acredita que esqueceu (afastando dessa forma o sofrimento que lhe é inerente), mas que, por ter sido removido para o inconsciente, lá permanece até que, assumindo as mais variadas formas patológicas, quando o sistema defensivo da consciência não mais possui condições de realizar sua tarefa, emerge novamente.
O trabalho da psicanálise, afirmava Freud, consiste em trazer à luz (lembrar) o que as pessoas desejaram esquecer, e fazer reviver as experiências traumáticas que estão na origem do sofrimento psíquico.

Ele afirmava ainda: Aquilo que o homem pensa e diz de si mesmo através da reflexão racional, jamais é verdadeiro, porque é impossível que ele se de conta dos conteúdos psíquicos profundos, mesmo porque, ainda que alguns deles aflorem, ele os deforma para torná-los aceitáveis a si mesmo. Ocorre, desse modo, buscar a verdade através de manifestações nas quais a atividade racional é menos presente.

Stress-caso 5: o episodio da Senhora Fernanda.
Esta Senhora, de aproximadamente 40 anos, se queixava de dores de cabeça, de uma espécie de entorpecimento seguido de tonturas durante as quais pouco ou nada lembrava e de fortes dores na coluna, mesmo depois de ter sido internada e tratada algumas vezes devido a estes distúrbios.
Abandonada pelo marido, com um filho no exterior, um viciado e o outro com problemas de relacionamento, após se tornar depressiva, não só engordara desproporcionalmente, mas havia desenvolvido a tendência de afogar suas consternações no álcool.
Havia dois novos fatores, entretanto, e estes surgiram contemporaneamente: O filho que trabalhava no Japão, após lhe dizer que estava fazendo as malas para voltar, mudou de idéia e renovou seu contrato por mais dois anos, e ela, que há mais de quinze anos trabalhava em uma grande empresa, ao perceber que esta iniciara um processo de terceirização, passara a temer ser demitida.
No dia seguinte, após chegar em casa, uma repentina e intensa dor, no lado superior direito da cabeça a deixou tonta e segundos depois, ao se refazer, não sabia distinguir onde se encontrava. Minutos depois, recuperada, foi ao hospital e lá permaneceu internada.
Por continuar extremamente tensa, os vasos de uma região do cérebro ao se constringir dificultaram o fluxo sangüíneo e este evento era o responsável pela dor de cabeça, esquecimento e dormência.
Em relação às dores da coluna havia duas causas. A primeira era ocasionada por um deslocamento das vértebras lombares devido ao peso corporal e má postura, e a segunda, na cervical, por causa das tensões do dia-a-dia.
Minutos depois, sem dores e despida do peso de suas angustias, após uma demorada explanação a respeito de como driblar o stress lhe perguntamos se havíamos sido suficientemente claros. Sim, contrapôs, e lhe agradeço. Só não entendi o que isso tem a ver comigo. Sei que estou atravessando uma fase difícil, ela me atrapalha um pouco, mas não chega a me estressar!

Aproveitando o ensejo da mulher que trabalha - uma conseqüência da vida moderna ou o inverso segundo alguns pontos de vista - além das conceituações que serão tratadas posteriormente, há as causas que focaremos agora porque são uma inesgotável fonte de stress por causa das preocupações, insatisfação e incontido arrependimento tardio que lhe são implícitas.
Se olharmos o passado recente, veremos que nunca houve tantas mulheres bem sucedidas no mercado de trabalho, e em função deste sucesso, tantas mulheres solteiras com idade em que o casamento se tornou um sonho dificilmente realizável.
Alguns anos atrás, possivelmente por volta de 1990, um trabalho publicado na revista “News week”, dizia que as mulheres que devido à ascensão no mercado de trabalho (ou pela intenção de se dedicar a ele em busca de uma posição de destaque), optavam para se casarem mais tarde, corriam o risco de jamais se casarem mesmo se o casamento sempre fora a maior aspiração feminina.
O texto em sua abrangência incluía as que postergavam o casamento por não tolerar ou exigir demais do parceiro, ou ainda por temor de perder sua liberdade. Essa reportagem baseava-se em uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Harvard, cuja conclusão dramática proferia que essas mulheres tinham mais probabilidade de morrer devido a um ataque terrorista do que se casarem.
A esse cenário, devido ao aspecto que desejamos abordar, acrescentamos as que por razões análogas adiam por anos, a custa da ingestão diária de anticoncepcionais, a decisão de engravidar.
Em um primeiro momento, sob a coação do arrependimento tardio, certamente são muitas aquelas que, ao se darem conta que perderam a oportunidade de ter um companheiro, e com ele filhos para se enriquecerem com a experiência da maternidade, se tornam, quando financeiramente possível, inveteradas freqüentadoras de terapeutas sem que estes tenham como lhe aliviar o “peso” do dia-a-dia quando, a caminho da senilidade, se torna mais intenso devido à solidão.
Para explorarmos com mais ênfase essa questão, por não existir esta estatística no Brasil, (as que existem indicam que as mulheres, em média, vivem 7.5 anos mais do que os homens, recorremos àquela que a Pfizer Corporation apresentou em Bruxelas no dia 25 de junho de 2003.
Na Europa, segundo este relatório, devido às doenças relacionadas à depressão: má alimentação, fumo, álcool etc, além do sedentarismo, a expectativa média de vida naquela data era de 78,20 anos, enquanto que a da boa saúde era de somente 69,83 anos. Isto demonstra que o europeu vive os últimos 8,37 anos de sua vida em precárias condições de saúde. Como são superados estes anos se a pessoa estiver sozinha?
Na Europa, ainda, a renda per capita supera os R$. 75.000,00, enquanto no Brasil é de apenas R$. 7.400,00, ou seja, nem 10% da européia. Se projetarmos, agora, o que pode significar a renda per capita no “velho mundo” em termo de infra-estrutura destinada a preservar a saúde de seus cidadãos, comparando-a com o atendimento médico-hospitalar que é oferecido aos de brasileiros, deduziremos que se estes últimos em 2005 tinham uma expectativa de vida de 71.9 anos, a da saúde provavelmente se situa muito aquém dos 60. Conseqüentemente, viver sozinhos talvez expresse o porque da existência de tantos asilos para idosos.
Hoje, seja a mulher solteira que decide priorizar o trabalho em detrimento do casamento, ou a casada que delibera procrastinar a gravidez pela razão que for, não o fazem abdicando do sexo, mas servindo-se de anticoncepcionais. Mas como estes agem?

Os contraceptivos hormonais orais "combinados" atuam através de três mecanismos básicos, isto é, interrompem a maior parte da função ovariana devido a uma interferência nos intrincados mecanismos de "feedback" do eixo hipotálamo-hipófise-ovários. Com isso, os padrões usuais de secreção do FSH (hormônio folículo estimulante) e do LH (hormônio luteinizante) pela hipófise são consideravelmente alterados.
Como conseqüência, o desenvolvimento dos folículos ovarianos é interrompido nos seus primeiros estágios de crescimento e a conseqüência é que nenhum deles atinge o estágio de folículo maduro.
A liberação do pico ovulatório de LH pela hipófise também fica abolida, e esta interferência no funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-ovários constitui o principal mecanismo de ação dos contraceptivos hormonais, resultando na supressão da ovulação. Com isso, eles produzem alterações específicas no endométrio (a mucosa que reveste o interior da cavidade uterina) que, no caso de uma eventual falha na inibição da ovulação, criam uma considerável dificuldade para a implantação do ovo fecundado.
Além disso, produzem um espessamento da secreção mucosa produzida pelo colo uterino criando, dessa maneira, uma certa dificuldade à subida dos espermatozóides para o interior do útero.
Assim sendo, os contraceptivos hormonais do tipo "combinado" apresentam um mecanismo contraceptivo principal (a interrupção da função ovariana com a conseqüente inibição da ovulação) e dois outros mecanismos complementares (que, isoladamente, não são confiáveis, mas que, associados à supressão da ovulação, aumentam a eficácia contraceptiva total).Como é sobejamente conhecido, os anticoncepcionais hormonais orais usuais são tomados em séries de 21 dias, com um intervalo de 7 dias de descanso entre as séries.
Nos ciclos artificiais induzidos pela "pílula", este intervalo visa imitar a costumeira queda hormonal que se dá ao final de cada ciclo natural (à qual o organismo feminino está fisiologicamente acostumado) e permitir a vinda da menstruação (apesar de que as menstruações que vêm ao final de cada série da "pílula" são artificiais, visto serem causadas exatamente por esta periódica interrupção no uso do contraceptivo hormonal).
Considerando-se que os anticoncepcionais hormonais inibem a função ovariana, é aconselhável que, pelo menos uma vez ao ano, suas usuárias fiquem um ou dois ciclos sem usar a "pílula" com a finalidade de evitar uma inibição prolongada do já citado eixo hipotálamo-hipófise-ovarios.
Com relação à presente idéia de abolir-se a vinda das menstruações através do uso ininterrupto de hormônios, minha opinião está claramente expressa no meu artigo "Uninterrupted use of hormonal contraceptives for menstrual supression: why I do not recommend it" ("Uso ininterrupto de contraceptivos hormonais visando a supressão das menstruações: porque não recomendo"), publicado no "Museum of Menstruation and Women’s Health"
Fonte www.mum.org./soucas.htm ).

Antes de continuarmos a explorar essa matéria, à qual retornaremos em seguida, focaremos o artigo a seguir publicado pela revista Veja de 7 de fevereiro de 2007, uma vez que os detalhes que pormenoriza são muito importantes.

Há dois anos, a vida dos empresários gaúchos Crismeri Corrêa, de 40 anos, e Marcio Silva, de 45 anos, mudou radicalmente. De profissionais bem sucedidos, focados exclusivamente no trabalho e no casamento, eles acumularam a função de pais das gêmeas Eduarda e Daniela. “A minha prioridade passou a ser o futuro das minhas filhas, o que se tornou uma fonte extra de preocupação”,diz a mãe. Ao que o pai faz coro: “Sinto-me mais pressionado para manter a estabilidade financeira, e assim, garantir um futuro tranqüilo para as meninas”. Crismeri e Marcio retratam fielmente o resultado de duas pesquisas recém concluídas sobre o perfil de homens e mulheres mais vulneráveis ao stress. De acordo com levantamentos realizados no Brasil e nos Estados Unidos pelo Instituto Gallup, brasileiros e americanos com idade entre 30 e 49 anos que trabalham e têm filhos pequenos são as grandes vítimas do mal. Nada menos do que 50% da população nessa faixa etária relata estar constantemente sob tensão. O índice supera em cerca de 10% a media geral.
O stress excessivo a que esses homens e mulheres estão submetidos explica-se por uma conjunção de fatores. Com a conquista do mercado de trabalho, a mulher adiou a maternidade para depois dos 30 anos. E não há como que a chegada de um bebê é fator de mudanças profundas na vida de um casal. Ou seja, uma fonte de stress para ambos. Além disso, essa fase da vida é a da consolidação da carreira. Portanto, um período de desafios e preocupações. De um lado, está a cobrança em garantir o futuro da prole. De outro, o fato de que manter uma criança pequena custa caro. Um levantamento feito recentemente no Brasil pelo Instituto de Pesquisas LatinPanel mostra que as famílias com criança de até 5 anos são as que mais se endividam. Elas gastam, em média, 5% além do que ganham. O dinheiro vai embora em fraldas descartáveis, xampus antilágrimas, papinhas prontas...
Entre homens e mulheres, elas estão com os nervos mais a flor da pele. O índice de brasileiras que se definem como “muito estressadas” é o dobro do de brasileiros. “Elas estão sujeitas a uma avalanche de cobranças: o trabalho, a casa, as crianças, o marido...”, afirma a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente do International Stress Management Association-Brasil. “O que gera, na maioria delas, a angústia de não poder dedicar mais tempo ao marido e aos filhos”. Nos Estados Unidos e no Brasil, multiplicam-se sites, blogs, livros e até revistas especializadas em tentar aplacar a aflição dessas mulheres. Uma dessas revistas, a americana Working Mother (algo como Mãe Trabalhadora, em português) com tiragem mensal de 850.000 exemplares, trás reportagens como “As 100 melhores empresas para uma mãe trabalhar” ou “Como conciliar o bebê com Wall Street”.
O stress é uma resposta do organismo a situações novas, sejam elas boas ou ruins. Nessas ocasiões, há um aumento considerável na produção de dois hormônios, o cortisol e a adrenalina, cuja função é, principalmente, deixar o corpo em estado de alerta. Essa capacidade é extremamente útil em situações de perigo e pode ser até positiva, se bem canalizada. Por outro lado, a liberação continua dessas substâncias é uma ameaça à saúde. O stress constante pode levar a doenças como insônia, fadiga crônica e depressão. “È impossível eliminar o stress da vida moderna” (SIC), diz a psicóloga Marilda Lip, professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e autora de livros sobre o tema. “Por isso, é preciso aprender a lidar com ele”.Tudo é uma questão, como cantava Walter Franco, de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo.

Do nosso ponto de vista, considerando que na Itália, durante os últimos anos da segunda grande guerra, com 8 / 10 anos de idade, em mais de uma dezena de diferentes ocasiões não morri porque “alguma coisa” aconteceu, e sopesando, além disso, que depois do desembarque aliado no sul da península, uma refeição de batatas era uma riqueza, o 50% de brasileiros que, segundo a entrevistada, vivem estressados por causa de seus filhos, deveriam se sentir felizes e agradecer a Deus - se religiosos, claro - porque seus filhos, diante de tantas barbáries que ocorrem no mundo, são extremamente privilegiados.
O último relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), diz: “O crescimento da pobreza, fome, desigualdade, analfabetismo e mortalidade infantil, continua em um ritmo alarmante apesar de os governos de 189 países terem se comprometido, em setembro de 2000, na Cúpula do Milênio das Nações Unidas, em Nova York, a tomar diversas medidas para reduzir significativamente os indicadores desses problemas - segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2004, lançado pelo PNUD nesta quinta-feira.
O RDH 2004 destaca que, apesar de todos os avanços e iniciativas voltados para a melhoria das condições de vida nas últimas décadas, o mundo chegou à virada do milênio com enormes carências em desenvolvimento humano. No ano 2000, do total de cerca de 6 bilhões de habitantes do planeta — segundo a Divisão de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU —, o índice de pessoas com subnutrição era de 13,7% (831 milhões), da mesma forma que 18,1% (1,1 bilhão) estavam em situação de pobreza extrema, ou seja, viviam com recursos equivalentes a menos de US$ 1 por dia.
O relatório mostra também que 11 milhões de crianças morreram em 2002 antes de completar um ano de vida. Essa taxa de mortalidade é reflexo direto das condições de vida de grande parte das populações, na medida em que 19,7% dos habitantes do planeta (1,197 bilhão de pessoas), não têm acesso à água potável e que 45,2% (2,742 bilhões) vivem em domicílios sem saneamento básico como mostra o documento “.

Para retornar à matéria anterior, nada melhor do que analisar o trabalho desenvolvido pelos pesquisadores Cyro Ciari Jr, Jair L. F. Santos e Eucides Ayres de Castilho, da Disciplina de Higiene Materna do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP – Av. Dr. Arnaldo, 715 – São Paulo, S.P. Brasil pesquisou um grupo de 565 mulheres pareado segundo idade, nível sócio-econômico e estado de saúde, divididas em quatro grupos: um grupo de controle com 155 mulheres e três grupos de estudo sendo:
· O grupo I, com 162 mulheres, tomou anticoncepcional hormonal oral durante um ano.
· O grupo II, com 127 mulheres, tomou o mesmo anticoncepcional por dois anos.
· O grupo III, com 121 mulheres, tomou o mesmo anticoncepcional por três anos.
Feitas as curvas de freqüência relacionando tempo de uso com o período para conceber, verificou-se uma significativa diferença entre as curvas do grupo de controle e o grupo I em relação aos grupos II e III. O material foi submetido à análise de variância que confirmou os resultados das curvas. Conclui-se, assim, que o uso de anticoncepcionais hormonais orais, a partir do segundo ano, interfere com o sistema reprodutor determinando um aumento de prazo para conceber em relação ao grupo de controle e de um ano de uso.
Essa pesquisa limitou-se a analisar o efeito da “pílula” em relação ao tempo de utilização, concluindo que após o segundo ano o conjunto reprodutivo, depois de ter sido “bloqueado” pela ação do medicamento, demora para se refazer, isto é, a mulher necessita de “um tempo” antes de “retornar a ser fértil”.
Ele não traduz o que significa “um tempo” na baliza de meses ou anos, muito menos qual a porcentagem de mulheres que por não recuperarem a fertilidade, se desejam engravidar, tem que recorrer a métodos cujos processos são sempre estressantes porque esse não era esse seu objetivo.
Postergar a gravidez para priorizar outras ocorrências é uma decisão premeditada. Quer dizer, uma decisão consciente que precede a execução deste ato. Em outras palavras, escolhe-se preferenciar “algo” que naquele momento é ajuizado mais adequado. Logo, se em decorrência da decisão a pessoa se estressa, é porque o “algo” objeto da preferência não foi alcançado ou se o foi, não satisfez. Nesse caso, se o tempo que transcorre para correr aos reparos é extenso demais, pode surgir um estorvo, uma inexaurível nascente de stress, vez que sabemos que uma vez que a mulher se decide um ter um filho, não engravida já no primeiro mês...Sim, haja stress.
Consternação, angústia, expiação e lágrimas, infelizmente, podem também advir da utilização dos anticoncepcionais, de especial modo para as mulheres que começam a utilizá-los ainda adolescentes.
A partir fim do II milênio nos tornamos espectadores de uma realidade que nossos pais jamais iriam tolerar, porque a mulher, sob o estandarte do modernismo, começou ainda púbere a freqüentar o ginecologista para se preparar para o sexo.
Doutor está tudo bem comigo? Quero me iniciar no sexo, qual é o método mais seguro para não engravidar?
Os anticoncepcionais, claro.
Disseram-me que existem riscos, que há efeitos colaterais. O Doutor Confirma isso?
Não, filha, é uma inverdade! Milhares de mulheres os tomam ao redor do mundo e todas elas, por estarem satisfeitas, continuam tomando-os para evitar filhos.
Este diálogo, considerando a cultura que há em relação à figura do médico (existe uma enorme auréola mítica a seu respeito, conseqüência da tradição que é perpassada de pai para filho), é mais do que suficiente para dirimir todas as dúvidas. Mais do que isso, porque se alguém ousar contestar seu veredicto, eis que a mocinha transformada em mulher, empertigando-se sobre seus 13/16 anos, de dedo em reste, o defende por julgá-lo o mais sábio do mundo.
O diálogo a respeito da segurança dos anticoncepcionais, incluindo os que suspendem os ciclos menstruais, é muito antigo na medicina. Contudo, nos últimos anos tornou-se mais acirrado devido ao desenvolvimento dos métodos contraceptivos que, por possuírem baixas doses de hormônios, podem ser tomados continuamente. Isto é, sem aquela interrupção de quatro a sete dias mensais que deve ser observada quando são usadas as demais pílulas.
A este respeito, mais uma vez, a posição dos médicos é ambígua, porque enquanto muitos afirmam que a utilização de fármacos sintéticos para suspender a menstruação pode oferecer risco à saúde, visto que altera um evento que faz parte integrante da natureza da mulher (mesmo porque não há estudos de longo prazo que atestem ou não a segurança do uso ininterrupto de contraceptivos), outros asseveram que antinatural é a mulher, com as responsabilidades sociais que hoje adquiriu, ter que continuar menstruando sem necessidade por tantos anos.
A maioria dos médicos, hoje, alem de atenderem pacientes que nunca viram (entre as muitas razões há a especialização), dedica a eles um tempo tão curto que lhe impede de “intuir”, através de perguntas bem formuladas o que realmente eles sentem. E para suprir este vácuo tentam solicitar dezenas de exames. Todavia, como a maioria das vezes os convênios assistenciais não os autorizam - que cada um interprete a sua maneira - casos como estes se repetem constantemente:
· Com quadro depressivo, recentemente, um conhecido procurou um terapeuta que lhe receitou uma quantidade de fármacos que o assustou. Alarmado, procurou um outro profissional e este, após escutá-lo, asseverou: para tratar seu caso, que é facilmente reversível, temos duas alternativas. A primeira é lhe receitar por algum tempo doses amenas de antidepressivo aguardando que o Senhor, racionalmente, supere as ocorrências que o estão desestabilizando. Ou então, se o preferir, como acho que será capaz de superá-las por si mesmo, lhe dou a receita, mas o Senhor só adquire e toma o medicamento em última instancia.
· Uma amiga, professora de dança, após cair durante seu trabalho, por sentir dores, foi levada a um ortopedista que, após os exames de praxe lhe disse: o tendão fibular, por se ter rompido, necessita de uma cirurgia que vou agendar para a próxima semana. Até lá, vamos lhe engessar o pé. Ao visitá-la, constatamos que o tendão nada havia sofrido e que a dor era ocasionada pelo trauma e por uma minúscula trinca no metatarso. Procurou um outro ortopedista que lhe confirmou quanto havíamos informado.
· Uma Senhora, durante uma visita rotineira ao médico, comentou que com seu olho direito já não via tão claramente como a algum tempo. O clinico, após alguns exames, lhe disse que como era portadora de desvio do septo nasal, a falta de oxigenação correspondente era responsável pela anomalia do seu olho destro. Conseqüência: tornava-se necessária uma cirurgia. Coincidentemente, por tê-la encontrado poucos dias depois, ao sermos colocados a par do ocorrido lhe sugerimos que antes de qualquer coisa procurasse um oftalmologista... O problema foi resolvido com um simples colírio.

Alias, estes fatos, recordam o que os cientistas discutiam nas últimas décadas do século XX quando analisavam as possíveis conseqüências dos processos cada vez mais desenfreados de extração das matérias primas para viabilizar a produção cada vez maior de bens. Sim, porque enquanto uns alertavam que assim agindo acabariam por transformar o habitat terreno em um planeta adverso a vida, outros sustentavam que o aprimoramento das tecnologias existentes permitiria manterem estáveis, ou até aprimorar, as condições de habitabilidade do nosso mundo. Hoje, tardiamente, nos damos conta dos estragos irreversíveis que foram (e ainda estão sendo) causados ao nosso mundo porque desrespeitamos as leis que há bilhões de anos lhe regem a vida.
Infelizmente, porém, quando se trata de lucrar, nada ou ninguém consegue impedir que os limites lógicos sejam respeitados. Na medicina, como em todas as demais áreas, estes cenários são gritantes.

À tese desenvolvida pela universidade de Harvard divulgada em 1985, que considerava a reposição hormonal uma saída para amenizar os efeitos da menopausa e diminuir concomitantemente em até 30% os riscos de desenvolver doenças cardíacas, foi torpedeada com a publicação do estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde americano, feito entre 1995 e 2002, que concluiu que há relação entre a terapia de reposição hormonal e uma maior incidência de doenças cardiovasculares, câncer de mama e de endométrio.
Os pesquisadores concluíram que com a reposição hormonal havia um risco 100% maior de trombose, 41% mais elevado de derrame, 29% de probabilidade de infarto e 26% de câncer de mama.
As últimas pesquisas, publicadas no jornal da Associação Médica Americana, indicam que até o risco de demência aumenta quando a reposição hormonal é feita depois dos 65 anos. Para este estudo foram analisadas 4.500 mulheres de 65 anos ou mais ao longo de cinco anos. Entre as que tomavam hormônios, o número de casos, na maioria mal de Alzhimer, foi duas vezes maior que entre as que tomavam placebo (a pílula de farinha).
Entretanto, quantos ginecologistas continuam indicando a reposição hormonal: “em minha opinião”, dizem muitos deles, “antes pecar pelo excesso do que pela falta. Embora não se possa resolver tudo só com remédios, não se pode negar ajuda farmacêutica a quem está sofrendo”. Com certeza este comportamento é aplaudido pelos laboratórios que continuam fabricando estes hormônios.
Errar é humano, diz o axioma, mas persistir no erro é....

Sob o título “medicina de alto risco”, um estudo da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) concluído há um mês, apresentou uma radiografia preocupante dos médicos brasileiros. A pesquisa mostra, entre outras coisas, que eles freqüentemente receitam remédios sem muita segurança. Abaixo as principais conclusões do estudo.
73,0% Reconhecem que já receitaram medicamentos sem conhecer exatamente a composição deles.
71,0% Esquecem de avisar o paciente sobre as reações provocadas pelo uso conjunto de dois ou mais remédios.
72,0% Dizem que cumprem dupla jornada de trabalho, o que os impede de continuar estudando.
62,5% Não freqüentam congressos médicos.
40,0% Não lêem publicações médicas ou cientificas.
Fonte: revista Veja de 16 de junho 2004
Enquanto nos EUA a cada seis minutos morre uma pessoa em decorrência de infecção hospitalar, a realidade brasileira não e diferente: cerca de 45 mil óbitos ocorrem anualmente. Isto significa aproximadamente 12 milhões de internações hospitalares e um gasto extra de R$.10 bilhões por anos, segundo dados do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
A alarmante estatística levou o Institute for Healthcare Improvment, órgão americano de fomento a melhoria da qualidade em saúde, e a Joint Commission International, representada no Brasil pelo Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), a realizarem campanha mundial para salvar 100 mil vidas, que será apresentada no Seminário Nacional de Acreditação Prevenção e Controle de infecções, a ser realizada no dia 04/08, no Centro de Convenções do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
A campanha é baseada na modificação dos processos de prevenção e controle das infecções hospitalares. Na opinião do médico e avaliador do CBA, Paulo Neno, “cabe a nos gerarmos ambientes seguros para os nossos pacientes, familiares, funcionários e colaboradores”, revela o médico brasileiro.
Para se ter idéia da gravidade do problema, a infecção hospitalar é a principal causadora de morte em pacientes internados nos Estados Unidos. No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que 13 a 15% dos pacientes internados adquirem algum tipo de infecção durante a hospitalização, o que pode levar a morte (...)
Nos últimos anos a assistência à saúde tem sofrido alterações no Brasil e no mundo. Os hospitais, antes considerados centros assistenciais para o tratamento de doenças, acusaram redução no número de atendimentos face ao aumento de atendimentos ambulatoriais e de serviços de assistência domiciliar. Vários fatores explicam essa mudança: a humanização da assistência, a desmistificação do hospital como único centro de tratamento de doenças e o alto custo vinculado à admissão hospitalar.
“Optar por um modelo assistencial alternativo que reduza o tempo de internação do paciente no hospital é sem duvida um sonho entre os profissionais de controle de infecção. Hoje os custos relacionados e a própria ocorrência de infecções são considerados indicadores de má qualidade no cuidado prestado aos pacientes”, define Heleno Costa Junior, do CBA, órgão responsável pelo processo de acreditação de diversos hospitais brasileiros, entre eles o Albert Einstein (SP), Hospital do Coração (SP), Sírio Libanês (SP) e Copa D´Or (RJ).
Para Heleno Junior, a não abordagem do tema durante a graduação, o numero insuficiente de profissionais nos serviços de saúde e o precário atendimento nas redes de saúde refletem as altas taxas de infecções hospitalares no Brasil (de 13% a 15%). “E embora dentro dos níveis aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que são de 9% a 20%, o Brasil ainda precisa de investimentos em educação e em saúde pública. Na Europa, por exemplo, os índices variam de 3,5% na Alemanha a 10,1% na Suíça”, assegura Heleno.
Pesquisa do Ministério da Saúde apontou que os maiores índices de pacientes com infecção foram obtidos em hospitais públicos = 18,4%, e os menores em hospitais privados sem fins lucrativos = 10%.
As regiões mais afetadas são: sudeste = 16,4%, nordeste = 13,1%, norte = 11,5%, e centro-oeste = 7,2%.
Fonte: Yahoo Noticias, 19 de julho 2006

Na Itália, são 90 por dia as mortes causadas pela prática da má medicina. Pesquisas de anestesistas e de jornais especializados demonstram que 50% das mortes que acontecem poderiam ser evitadas.
Roma – Os erros da medicina causam mais vítimas do que os acidentes de trânsito, do enfarte e de muitos tumores. Estima-se que quase 90 mortes diárias sejam causadas por erro médico, uso errado de fármacos, dosagens erradas e “cochilos” cirúrgicos.
Estes números, segundo a associação dos anestesistas, seriam 15 mil anualmente, e segundo a “assinform” - editor de revistas especializadas no setor de risco médico - seriam 50 mil. Além destes óbitos, 320 mil pessoas, anualmente, são prejudicadas pela medicina, e isso representa um custo equivalente a 1% do PIB, ou seja, 10 bilhões de Euros.
Esta situação deverá ser discutidas entre expert, médicos, representantes de instituições e pacientes durante a primeira “Consensus Conference sul Risk Management in Sanitá”, no dia 23 de setembro na sede da “Guardia di Finanza de Ostia” em Roma. O objetivo é constituir o “observatório” dos riscos sanitários e a database nacional dos erros médicos.
As indagações a respeito das intervenções de contenção dos riscos da saúde, afirma Cesare Cursi, subsecretario da saúde, ao longo da apresentação desta iniciativa – devem ser de interesse de todas as áreas nas quais o “erro” pode ser cometido ao longo do percurso clínico: diagnóstico, cura e assistência ao paciente.
Um primeiro relatório a respeito dos erros que são cometidos nos hospitais foi realizado pela Comissão Técnica Sobre Risco Clínico, instituída pelo Ministério da Saúde. Este indica que o maior número de erros é cometido nas salas cirúrgicas:
Salas cirúrgicas, 32%;
Seções de indigência, 28%;
Departamentos de urgências, 22%;
Laboratórios 18%.
Enquanto que as quatro especializações de maior risco são:
· Ortopedia e traumatologia, 16,5%;
· Oncologia, 13%;
· Obstetrícia e ginecologia, 10,8%;
· Cirurgia geral 10,6%.
As causas pendentes nos tribunais, relativas aos enfrentamentos médicos / paciente, estão entre 12 a 15 mil por ano, nas quais cerca se 2/3 dos sanitaristas acabam sendo absolvidos. A demanda de ressarcimento por danos, segundo dados da Ania, a Associação que representa as empresas de seguro, soma 2.4 bilhões de Euros por ano.
Infelizmente, o índice de risco na medicina jamais será zero, explica o ministro da saúde, mas com o nosso empenho deve ficar próximo de zero.
Fonte: Jornal “Corriere della Sera” do dia 17 de setembro 2004

Em Portugal todos os anos morrem nos hospitais três mil pessoas devido a erros cometidos pelos profissionais de saúde. Quarenta e cinco por cento ocorrem durante as cirurgias e de 20 a 30 por cento são devidos a falhas na prescrição de medicamentos. A estimativa é feita por Luís Martins e José Fragata, autores de um livro sobre erro médico que será lançado este mês, e que ontem foi noticiado pelo Expresso.
Tal como já havia explicado Luís Martins ao DN, «esta estimativa parte de estudos conduzidos nos EUA» adaptando-os à realidade nacional. Porém, o levantamento exaustivo deste fenômeno está ainda para ser feito neste País.
Para este professor do ISCTE, «o erro médico é a ponta do iceberg de uma gestão hospitalar desadequada», e pode ser minimizado ao aperfeiçoar-se a organização das unidades de saúde.
O bastonário da Ordem dos Médicos sublinha que o erro médico é diferente da negligência, e muito mais freqüente, concordando que este é «muitas vezes conseqüência da própria estrutura organizacional» das instituições. Por isso, considera que devia haver uma responsabilidade partilhada com os conselhos de administração. Apesar de sublinhar que «o ideal é não haver erro nenhum», Germano de Sousa considera que três mil casos por ano não é um número elevado, comparando com a realidade internacional.«O organismo humano não é uma máquina, não se pode prever com exatidão o resultado do que se faz», afirma. Além disso, trata-se de uma profissão de risco. «Os médicos estão sujeitos a situações de grande pressão, sendo obrigados a tomar decisões de urgência que mais tarde podem vir a revelar-se erradas. São erros aceitáveis e nada têm a ver com negligência, que se aplica apenas aos casos em que um médico não atua da melhor forma, por incompetência ou desleixo», defende. Por isso, Germano de Sousa diz que, independentemente de se encontrar culpados, quando estes existem, há uma responsabilidade que deve ser assumida pela instituição de saúde e não apenas pelo médico, havendo já diretivas comunitárias que o prevêem.
Recorde-se que, em 2002, a Inspeção-Geral de Saúde investigou 348 casos por negligência. Destes, foram aplicadas 47 penas, 23 a médicos e 24 a enfermeiros.
Fonte: Diário de Noticias de 7 de novembro 2004

Como estamos vendo, a instituição médica não é aquele rochedo inabalável que muitos acreditam ser, a ponto de se entregarem confiantes como fazem os pré-adolescentes quando em busca de auxílio recorrem aos braços dos pais. Porque um sem número de vezes, ouvindo a voz da empáfia ao invés da competência, persistem julgando-se porta-vozes do verdadeiro saber, mesmo quando, por terem parado de se esclarecer (freqüentar congressos, ler publicações médicas etc.), deixam de ser médicos no sentido lato da palavra.
Para o bom observador, o procedimento de muitos médicos se assemelha aquele dos fanáticos por futebol, porque estes, quando discutem a respeito de quais jogadores deveriam ser escalados para tornar seus times invencíveis, jamais chegam a um consenso.
Doutor, “disseram-me que quando se tomam anticoncepcionais se incorre em certos riscos, que há efeitos colaterais. O Doutor Confirma isso? Não, é uma inverdade! Milhares de mulheres os tomam ao redor do mundo e todas elas, por estarem satisfeitas, continuam tomando-os para não engravidar”.

Em julho de 2003, Kamila Papa, então com apenas 21 anos, recebeu a notícia que tinha um nódulo na mama esquerda. Feita a biópsia, veio o diagnóstico: câncer. Kamila se submeteu a mastectomia radical e passou por seções de químio e radioterapia. Com o câncer sob controle, ela decidiu também extirpar a mama direita como forma de evitar o reaparecimento da doença. Hoje, aos 24 anos, ainda está em tratamento. “Apesar do choque, nunca me deixei abater e consegui vencer a doença”, diz. Kamila é uma das 15000 participantes do primeiro levantamento feito no Brasil sobre o aumento da incidência de câncer de mama em mulheres entre 20 e 35 anos.
Conduzido por pesquisadores do Hospital do Câncer A.C.Camargo, em São Paulo, um dos centros de referência para estudo e tratamento da doença no país, o trabalho mostra que, entre 1999 e 2004, quadruplicou o número de jovens vítimas de tumores malignos na mama. Das pacientes apenas 19% tinham histórico familiar da doença – o que torna o cenário revelado pela pesquisa do A.C.Camargo ainda mais assustador. Tradicionalmente, o câncer de mama se manifesta a partir dos 40 anos e, entre as mulheres mais jovens, sempre esteve associado à herança genética. “Esses dados são extremamente preocupantes e nos obrigam a repensar na doença, tanto do ponto de vista da prevenção quanto do diagnóstico e do tratamento”, diz o mastologista Mário Mourão Neto, coordenador do levantamento.
Quando comparado ao total das notificações, o número de jovens vítimas de câncer é pequeno. Estima-se que nos Estados Unidos, por exemplo, 11000 mulheres com menos de 40 anos descobrirão até o fim deste ano que sofrem do mal – o que representará 0,5% de todas as doentes.
O que chama a atenção, contudo, é a velocidade do crescimento da doença entre as moças na faixa dos 20 anos. Os especialistas calculam que, na última década, os casos triplicaram em todo o mundo. “Esse fenômeno equivale praticamente à descoberta de uma nova doença, com novos fatores de risco que precisam ser esmiuçados”, diz o epidemiologista Sergio Koifman, da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro. A medicina ainda não conseguiu determinar com precisão por que o câncer da mama passou a aparecer mais precocemente, mas pistas levam, para variar, ao ritmo e aos hábitos da vida moderna.
Hoje, as mulheres menstruam mais cedo e têm filhos mais tarde.Elas também amamentam por menos tempo e, desde cedo, tomam pílulas anticoncepcionais. Para se ter uma idéia, na década de 70, as jovens recorriam à pílula a partir dos 20 anos. Agora, aos 15, elas já usam o anticoncepcional. Todos estes fatores fazem com que as mulheres fiquem muito mais expostas à ação do estrógeno, o hormônio feminino por excelência e uma espécie de combustível para as células cancerosas. Outro fator que pode contribuir para o aparecimento do câncer na mama é o abuso no consumo de álcool e de alimentos à base de conservantes, como enlatados e embutidos. “As substâncias contidas neles podem danificar o material genético das células mamárias e, com isso, deflagrar o tumor”, diz o mastologista Antonio Frasson, professor do Centro de Mama, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O câncer de mama não é a única doença que começa a fazer vítimas mais jovens. O diabete tipo 2, por exemplo, era conhecido no passado como “diabete senil”. Isso porque a doença se manifestava, sobretudo em pessoas com mais de 50 anos, em média. Hoje, esse tipo de diabete é bastante comum em homens e mulheres na faixa dos 30 anos. Colesterol alto, câncer de intestino e hipertensão, são outras enfermidades que hoje atacam muito mais cedo do que no passado.
Com o aumento dos casos de câncer precoce, os médicos estudam a possibilidade de mudar sua cartilha. Em média, o tumor tem de 2 a 3 centímetros de diâmetro ao ser percebido por meio de auto-exame, a forma de diagnóstico mais utilizada pela maioria das pacientes jovens. Nessas condições, as chances de cura são de 85%. Quando é diagnosticado com menos de 1 centímetro, a taxa de sucesso no tratamento sobe para quase 100%. Tumores desse tamanho, no entanto, só são flagrados por meio da mamografia, da ultra-sonografia ou da ressonância magnética – indicados atualmente para mulheres com mais de 40 anos. Ou seja, è provável que, num futuro próximo, eles também comecem a serem recomendados, como rotina, para quem está na faixa dos 20, 30 anos.
Uma das participantes da pesquisa do A.C.Camargo tinha 35 anos quando encontrou um nódulo numa das mamas. Até que recebesse o diagnóstico de câncer, passou por quatro médicos. Dada a sua idade, nenhum deles desconfiou que o tumor pudesse ser maligno. “Jovem demais”, diziam. Só o último, e por insistência dela, recomendou os exames. Se a cartilha fosse outra, ela não precisaria ter batido em tantas portas.
Texto extraído da revista Veja de 9 de agosto 2006

Para se prevenir contra o câncer da mama faça o auto-exame todos os meses após a menstruação, examinando os seios desde sua raiz até os mamilos diante do espelho. Abaixe o braço esquerdo, mantendo-o perpendicular rente ao corpo, e com as pontas dos dedos (indicador, anular e médio) da mão direita, faça movimentos circulares com alguma pressão sobre toda a superfície do seio esquerdo. Levante o mesmo esquerdo – agora estendendo-o para cima, e repita a apalpação.
Concluído o exame do seio esquerdo, proceda de forma idêntica, utilizando agora a ponta dos dedos da mão esquerda para examinar o seio direito, inicialmente com o braço direito abaixado e depois estendido para cima. O objetivo é verificar se há alguma alteração no formato, protuberância, nódulo, inchaço, dor ou outra deformidade na pele.
Finda esta etapa, com as mãos na cintura empurre os ombros e os cotovelos para frente até sentir o esforço dos músculos do peito, e observe se há mudanças na forma ou no contorno dos seios.
Faça o exame durante o banho porque os dedos deslizam mais facilmente sobre a pele ensaboada. Em caso de dúvida, consulte um médico, preferencialmente aquele que nas paredes do seu consultório expõe dezenas de diplomas.

Vimos um exemplo de stress causado pelo desemprego e outro por temer de ser demitido, mas não entramos no mérito daquele que não deveria existir porque as pessoas, por estarem empregadas, estão recebendo o salário que no primeiro momento as deixou exultantes.
Obedecendo a um impulso sadio, que acompanha a evolução de quem se esforça para progredir profissionalmente, na medida em que o “empregado” acredita que está capacitado a exercer uma atividade melhor remunerada, se o empregador não lhe oferece esta chance, a busca no mercado de trabalho.
Assumido o novo encargo, o diferencial a maior que passou a integrar a composição do novo salário, logo é destinado à aquisição de novos bens ou a substituição daqueles que pelo “status atingido” passam a ser considerados inadequados. Resultado: meses depois, o desaparecimento da “folga financeira” que resultou da alteração salarial, por se ter dissolvido, torna-se um fator de aborrecimento, porque o ímpeto de continuar consumindo está novamente travado. Resultado, olhando ao seu redor, em um shopping, por exemplo, o sujeito retorna a se sentir agredido por aquela sensação de que, por ter um salário inadequado, está impedido de participar da sociedade de consumo. Não se da conta que ele, assim como seu semelhante, também é escravo dos atos e fatos da sua própria contabilidade. Deste modo, se não houver acréscimo na receita, a contra partida, que é a despesa, tem que ser mantida estável. Isso significa que na medida em que forem criados “novos desejos”, estes têm que ser submetidos a uma escala de prioridade cuja realização está sujeita a uma folga orçamentária. Se fecharmos os olhos a esta verdade, ao constatarmos que as lojas, as imobiliárias, as promotoras de turismo etc. estão lotadas de clientes que compram, a “sensação de impotência” prontamente se transforma em stress.
Um cenário semelhante é criado via de regra após a perda do emprego, porque durante este período, principalmente se for longo, o desempregado ou alguém da sua família chega até a fazer promessas. I ir ao santuário de Nossa. Sra. Aparecida, por exemplo, para tentar uma barganha: “Se a Senhora ajudar meu marido a encontrar um novo emprego, prometo que distribuirei 20 cestas básicas aos necessitados”.
Nesse momento a prioridade não é a definição do “valor do salário” que deseja que o marido receba, mas um emprego. Obtido, não só as promessas deixam de ser pagas, mas em curtíssimo tempo o regozijo inicial se transforma em um rosário...Não preces de agradecimento, mas lamurias que a seguir se transformam em execrações pelas razões que já expusemos: Jamais o salário é suficiente seja ele qual for.
Conhecemos um casal que invariavelmente se queixava porque, habituado a adquirir todos os anos uma obra de arte para sua galeria pessoal, nos últimos anos não mais conseguia fazê-lo.

Utilizamos o termo “empregado” para designar um funcionário, um dependente de uma firma qualquer, mas se o substituirmos por “empresário” e efeito é o mesmo, porque segundo o SEBRAE, a cada dez empresas que são abertas, oito são fechadas ao longo do primeiro ano. Se examinarmos, agora, segundo a revista Exame, quem foram as 500 maiores empresas em 1990, e verificarmos se em 2006 permanecem no mesmo ranking, teremos muitas surpresas, sem consideras as que tiveram que encerrar as atividades. Nesse contesto, ainda, inserem-se médicos, advogados, engenheiros ou os titulares de quaisquer outras atividades liberais. A matéria abaixo, extraída da revista Veja, é muito oportuna.

O médico carioca Samuel Zuinglio de Biasi Cordeiro, de 50 anos, chefe do serviço de emergência do Instituto Nacional do Câncer, convive diariamente com a impotência diante do desespero de doentes incuráveis. Ainda assim, segundo ele, essa não é a principal causa de stress entre os médicos. “Há a competição profissional, a falta de tempo para a família e a dupla jornada de trabalho”, comenta. A maioria dos médicos trabalha em mais de um hospital, no consultório, e ainda fica de prontidão permanente para qualquer emergência. “E no fim do mês, o salário nem sempre é suficiente para pagar todas as contas”, diz Cordeiro.

O salário não é suficiente para pagar todas as contas, mas que contas? Com certeza não as relativas ao conjunto de itens necessários para usufruir uma moradia, se alimentar, vestir-se e instruir os filhos, mas as que, além destas, são praticadas para possuir e usufruir os bens que os indivíduos, julgando-se merecedores de um status cada vez mais elevado, transformam em objetos de desejo. Em outras palavras, um dispêndio crido imprescindível para que “pessoas de bem” se sintam felizes.
Felizes por algum tempo, porque logo em seguida a posse daquilo que desejavam, eis que surge um novo “alguma coisa” que ativa a cobiça, e na medida em que se pensa nele, torna-se cada vez mais indispensável. Consumismo, o combustível que alimenta a dinâmica do mundo moderno.
Mas, o que é um desejo? Filosoficamente falando é um “tesão” que leva o ser humano em direção a “alguma coisa” que ele considera uma fonte de satisfação. Ou se quisermos, uma “intenção” consciente ou inconsciente. Sim, o desejo é uma “atitude mental”, um impulso ativado pela mente para a realização de um fim esperado ou a posse de um bem específico. Portanto, como tradicionalmente os desejos pressupõem “carências”, aqueles que possuem o necessário para viver não deveriam desejar nada.
A partir desse pressuposto, o desejo pode sim, racionalmente falando, em um primeiro momento ser contido e sucessivamente administrado até a data em que é permissível realizá-lo. Porque foi dito, então, “que na medida em que se pensa neles se tornam cada vez mais indispensáveis?”
Porque fazendo isso, como a ciência explica, por ser prazeroso pensar neles, induzem nossos neurônios a segregar o hormônio do prazer: as endorfínas.
O que são as endorfínas? São opióides, substâncias bioquímicas e analgésicas, segregadas pelos neurônios que tem um papel fundamental no equilíbrio do tônus vital. Para onde vão estes hormônios? Seus receptores, por exemplo, se encontram no coração, na pele, no cérebro, nos rins, no pâncreas, na saliva, no trato gastrintestinal, na região pélvica e em todos os demais tecidos corporais:
De repente, ao acordarmos uma manhã, percebemos que há em nos uma intensa alegria, e o novo dia - mesmo antes de olhar pela janela afora - nos parece tão maravilhoso que mesmo sem o perceber estamos cantarolando ainda que para isso não haja nenhuma motivação. Entretanto, há. Durante a noite, talvez durante um percurso onírico que não recordamos, nossos neurônios produziram uma abundante dose de endorfínas. Freud definiu este efeito “sensação oceânica”.
Alguém já se perguntou porque o cão quando vê o dono balança o rabo e o gato quando acariciado ronrona? Isso mesmo, naquele momento seus cérebros segregam o hormônio da felicidade, as endorfínas. Assim como é sob a ação destes hormônios que seja a mulher como o homem, quando pensam na cerveja predileta salivam, ou “degustam” mentalmente o prato preferido antes mesmo de chegar ao restaurante.
É devido à atuação destes, ainda, que euforicamente alardeamos as características do automóvel ou apartamento que estamos programando adquirir, ou ainda os predicados do novo namorado (a) para aqueles que nos são mais íntimos.
Contudo, quando o “tesão” que nos levou a posse “do bem” que julgávamos uma fonte de satisfação se evapora, porque ao possuí-lo e usufruí-lo diariamente se torna mesmice, consciente ou inconscientemente nos envolvemos em novos desafios. Isto é: conseguir o que ainda não possuímos.
Após isso, por não ser mais tão prazeroso refletir à respeito do que já é de nossa propriedade, nossos neurônios só passam a segregar endorfínas quando conjeturamos a respeito das “novas coisas” que, após despertar nosso interesse, nos excitam.
A existência desses hormônios, que regulam uma rede interna de sensações de prazer, foi demonstrada cientificamente por John Hughes e seus colegas da “Unit for Research on Assitive Drugs” e é considerada uma das mais importantes descobertas dos últimos cem anos. Tudo depende do cérebro e das estruturas nervosas periféricas que são os receptores, porque estas moléculas especiais, similares às proteínas, possuem a capacidade de gerar sensações que vão do prazer ao êxtase e da tristeza à depressão profunda.
Desse modo, quando em plena saúde nos sentimos bem, o seu nível de emissão é ótimo, e quando nos sentimos deprimidos ou experimentamos uma sensação de mal-estar, o nível emitido é escasso. Nesse caso, se não houver uma inversão, persistirá uma continua queda do estado de saúde geral.
Dor, ansiedade, tensão, irritação e demais sintomas correlatos, indicam que o equilíbrio físico sofreu alterações porque o nível de emissão de endorfínas decresceu. Entretanto, mesmo se a ciência não desvendou até hoje como controlar esta produção, asseveramos que a chave que a controla é a nossa mente, a psique se preferirmos, uma vez que é de acordo com o seu “estado de ânimo” - indissoluvelmente interligado ao grau de moralidade alcançado - que se manifestam às fobias, manias, caprichos, preferências ou rejeições, aquelas que no palco somático são avaliadas pelo fluxo destes hormônios.
Todavia, se por um lado à ciência ainda não descobriu como ativar a produção de endorfínas para, por exemplo, inverter um processo de stress ou curar outras enfermidades, alguns processos endógenos para favorecer a fabricação desses hormônios foram identificados.
1. Alimentação: o cacau, e a quase totalidade das gorduras vegetais e animais.
2. Relacionamento: abraços, caricias, a relação sexual em si mesma, porque a pele é o mais extenso órgão sensorial - cerca de 2 metros quadrados.
3. Pensamento: muitas formas de pensamento produzem grandes quantidades de endorfínas: fantasiar, projetar, desejar, recordar momentos felizes, orar, meditar, acreditar em si mesmo, ajudar o próximo etc.
4. Exercícios físicos: o esporte é notadamente um catalisador da produção das endorfínas, por este motivo quem pratica esportes, seja qual for seu nível, se obrigado a um período de repouso, experimenta diferentes tipos de síndrome de abstinência.
O mesmo mecanismo que produz as endorfínas, todavia, pode funcionar ao contrário, por exemplo, produzir estímulos negativos: não confiar em si mesmo, achar-se enfermo, medo, intranqüilidade etc. Estes estados impedem a produção de endorfínas.
Mas o estado depressivo não está somente ligado à diminuição de endorfínas, porque o stress estimula a produção de outro tipo de hormônio, o adrenocorticotropico – ACHT que, mesmo sendo da mesma família, diminui a imunidade do organismo e leva o individuo a situações limite.

Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936), fisiologista russo e prêmio Nobel em 1904, em uma de suas experiências retirou alguns cães desde seu nascimento do convívio materno e os alimentou só com leite artificial. Como é lógico, revelaram naturalmente os reflexos congênitos, quais o patelar e o córneo-palpebral, mas, quando a carne foi colocada diante dos seus olhos e ao alcance do seu olfato, mesmo sendo esta o alimento tradicional da espécie, não deram a mínima, em outras palavras, não segregaram saliva. A segregação salivar só aconteceu quando a carne (colocada na boca) entrou em contato com o paladar. Depois disso, todas as vezes que viam ou sentiam o cheiro da carne começavam a salivar.
O que havia acontecido? O estímulo (ou fator indutivo), desencadeado pela carne introduzida na boca, provocou um reflexo condicionado que se adicionou ao reflexo congênito. Pavlov não conhecia as endorfínas. Compreende-se, deste modo, que mesmo o ato de se alimentar ou beber é um hábito estratificado na personalidade, e que o ato de preferir, seja o que for, é uma atitude que excita, compelindo a psique a exteriorizar uma ideação (idéia-pensamento) que no nível somático se traduz na segregação de endorfínas. Neste caso, agindo sobre as células gustativas de um indivíduo, pode torná-lo dependente de um determinado alimento.
Temos assim plenamente evidenciadas a auto-sugestão, encorajando essa ou aquela ligação, esse ou aquele hábito, demonstrando a necessidade de um contínuo autopoliciamento racional em relação a todos os nossos interesses, porque, conquistada a razão, com a prerrogativa da escolha, todo o alvo da nossa atenção se converte em fator indutivo, compelindo-nos a emitir pensamentos contínuos, por serem excitantes, na direção do objeto de nosso interesse...Somente até possuí-lo, porém.
Este é o processo que, se não barrado pela reflexão racional, torna seres equilibrados e saudáveis em fumantes, alcoólatras, dependentes químicos, obesos ou sofredores das enfermidades que lhe são correlatas, permitindo, além disso, que indivíduos menos escrupulosos se tornem assaltantes, estupradores, assassinos ou praticantes das demais tipologias comportamentais que conhecemos.
Dissemos que o mesmo mecanismo produtor de endorfínas pode funcionar ao contrário, isto é, produzir estímulos negativos. Aos já citados, acrescemos o egoísmo, a inveja e o ódio.
O egoísmo é uma espécie de exclusivismo que leva as pessoas a tomarem a si mesmas como referência a tudo. Uma vaidade excessiva porque acrescida de pretensão, orgulho e presunção. Aristóteles dizia que o egoísta não é aquele que ama a si mesmo, mas a pessoa que sente por si mesma uma desvairada paixão.
No filme o grande ditador (The Great Dictator), uma produção de 1940, em uma das muitas inimitáveis cenas, Charles Chaplin, como Hynkel (plagiando Hitler), brinca com o globo terrestre passando a idéia de que era o dono do mundo. Em outra – ao lado de Napoloni, este plagiando Mussolini, luta pela disputa de cadeiras até que por fim, conseguindo sentar em uma alta, força “Mussolini” a se sentir inferior porque, por estar sentado em um assento mais baixo, tem que olhar para cima para falar com ele. A mesma estratégia que até alguns anos atrás era utilizada em algumas empresas para forçar os subalternos (ou clientes em caso de bancos), a se sentirem (menores) quando sentados diante de diretores ou gerentes.
Este exemplo demonstra que os “poderosos” (na sociedade a classe mais alta, no mundo empresarial a diretoria, assim como os vários níveis de autoridades, além dos acadêmicos e todos os que se julgam “donos da verdade” porque se atribuem o título de formadores de opinião), acreditam que não é o “papel” que exercem que os “privilegia”, mas os predicados da sua personalidade. Sim, como afirmava Aristóteles, sentem por si mesmos uma desvairada paixão.
O orgulho e a presunção, acolá da cobiça, claro, é uma constante no estereótipo humano, independentemente do nível cultural que possui ou da classe social à qual pertence. Neste quadro, também se insere a inveja, que é o desejo por atributos, posses, status ou habilidades possuídos por outros.
A cobiça, entretanto, não é uma característica intrínseca do gênero humano, nasce, porque na nossa sociedade somente poucos indivíduos - entre os bilhões que existem - disputam entre si poder, riqueza, status etc. São estes atributos, por conseguinte, que geram entre os que não os possuem uma reação de revolta porque os almejam.
A psicologia denomina esta relação “formação reativa”, um mecanismo dos mais “fracos” contra os mais “fortes”. É desse espaço, do conteúdo que diferencia os “ricos” dos “pobres”, que nasce, ao mesmo tempo, aquele sentimento de profunda antipatia (desgosto, aversão, inimizade ou repulsa) que é chamado ódio.
Um bom exemplo é aquele que ocorreu na década de 60 no Guarujá, em São Paulo. Na época, além de só ser acessível pelo sistema de balsas Santos Guarujá, era um espaço exclusivo da alta sociedade que ali havia construído mansões e poucos prédios de luxo.
Com o advento da indústria automobilística, e dos carros populares, este cenário foi mudando: O numero de pessoas que se servindo de seus veículos passaram a usufruir as praias deste local no fim de semana aumentou gradativa e continuamente, até que o D.E.R., sentindo-se pressionado, acresceu o número de balsas.
Mesmo assim, o tempo de fila para embarcar - seja para ir como voltar - que já era de horas, aumentou, mas não o suficiente para impedir que também os cidadãos sem carro, de ônibus fretado, começassem a freqüentar o local. Logo, a classe social que havia elitizado o Guarujá, já aborrecida pela invasão da burguesia, viu-se vítima de outra agressão: a poluição das praias: a maioria dos “turistas de fim de semana” consumiam aí, sem posteriormente higienizar o local, os alimentos que traziam de casa.
O novo agito local não passou despercebido a indústria imobiliária. Imediatamente começaram os loteamentos e a construção de casas e apartamentos. A Piaçaguera - Guarujá, posteriormente, se encarregou de levar para aquela região milhares de novos interessados não só em freqüentar as praias no fim se semana, mas em possuir um imóvel para o mesmo fim. Conclusão. Muitos se sentiram “abalados” com a invasão, porque de certa forma, utilizando o foco de Charles Chaplin, obrigava os “Hitler” a se sentarem no mesmo plano dos “Mussolini“.
Mas foi por pouco tempo. Em seguida abandonaram o local por terem construído novas mansões, agora com campos de pouso ou heliportos, em novos locais ao longo das praias mais belas do litoral norte.

Depois dessas explanações, conseqüentemente menos leigos, além de nos inserirmos com mais facilidade no texto a seguir, avançaremos mais um pouco no sentido de reconhecer que a “dor permanente das contrariedades” nada mais é do que a contrapartida da “infindável busca da felicidade” à qual o homem se engajou desde que evoluindo alcançou o degrau de “homo erectus”. Sim, os “plebeus” jamais concordaram em deixar que a “felicidade” permanecesse um status de direito dos “nobres”, mesmo se estes podiam se permitir os “luxos” que quisessem nos momentos em que os desejassem, enquanto eles, por não deterem poder, riqueza ou status, só esporadicamente podiam usufruí-los. Por esse motivo, todas as vezes que se empenham para tornar o que para eles é incomum menos ocasional e não são bem sucedidos, tornam-se escravos da angústia e por decorrência do stress.
Essa perene e saudável luta, de certa forma alimentada pela invídia porque o “plebeu”, na medida em que deseja deixar de sê-lo, força o “nobre” a ser mais nobre, para manter intacta a distancia que há entre si, não se restringe a uma peleja entre essas castas, porque se expande e multiplica no cerne de cada uma delas na medida em que entre os “nobres” há múltiplos degraus de “nobreza”, assim como entre os “plebeus” há diversos níveis de “plebe”.
No frigir dos ovos, no entanto, nada mais é do que o resultado de um processo bioquímico cujas implicações, pelo fato do homem ainda não ter aprendido a controlá-las por si mesmo, induziram a medicina a desenvolver meios (fármacos no caso), que, inibindo ou estimulando os hormônios que segrega em seu cérebro, consintam que este continue o percurso que iniciou há milênios. Mesmo porque, se o mundo só abrigasse “nobres”, a inexistência de “plebeus” há muito teria causado seu colapso.

A população dos países mais ricos passa por uma crise existencial: a sensação de que no passado se vivia melhor. A história e as estatísticas, no entanto, mostram que a média dos moradores dos Estados Unidos e da Europa Ocidental nunca teve uma vida tão prospera. As pessoas vivem mais, tem mais acesso à educação e, descontados os desejos mais extravagantes, realizam como nunca os sonhos de consumo. Cinqüenta anos atrás, os objetivos de uma família americana eram a casa própria, o carro na garagem e pelo menos um dos filhos na universidade. Hoje, seu estilo de vida excede essas expectativas, graças a um aumento de 50% na renda da classe média nos últimos 25 anos. O que hoje é comum – uma frota de carros na garagem, assistência médica de primeira e férias no exterior – no início do século XX era privilégio de uns poucos milionários. Há muito mais: algumas doenças letais que nos anos 50 não poupavam nem sequer os muitos ricos, como a poliomielite, foram praticamente erradicadas. Apesar de todos esses avanços, os psicólogos identificam um fenômeno que tem sido chamado de “hipocondria social” ou “paradoxo do progresso”: a sensação crescente de que tudo o que se conquistou com as melhorias sociais é mera ilusão.
A idéia de que um bom nível de vida não é garantia para a realização pessoal é antiga. Há mais de 2000 anos, o filósofo grego Aristóteles já afirmava que a felicidade se atinge pelo exercício da virtude, e não da posse. Uma pesquisa recente realizada pelo sociólogo holandês Ruut Veenhoven, da Universidade Erasmus de Roterdã, concluiu que com uma renda de 10 000 mil dólares o indivíduo tem o suficiente para uma vida confortável em qualquer país industrializado. A partir dai, como na propaganda de cartão de crédito, existem coisas – um sentido para a vida, uma paixão e amizades – que o dinheiro não pode comprar. A melancolia que contamina as sociedades ricas do século XXI é mais complexa do que a velha frase “Dinheiro não compra felicidade”. O jornalista americano Gregg Easterbrook, pesquisador do Instituto Brookings, no livro “O Paradoxo do Progresso: Como a Vida Melhora Enquanto as Pessoas se Sentem Pior”, lançado no fim do ano passado, faz uma análise profunda do fenômeno. Para Easterbrook, se a classe média americana não está se sentindo bem, isso é culpa de uma mistura indigesta que inclui decepção com o progresso, consumismo exacerbado, falta de novos objetivos para a vida e excesso de opções. “Uma pessoa de classe média não dispõe de serviçais, mas, de modo geral, preferiria moram num subúrbio americano de hoje a viver no palácio de Buckingham há 500 anos”, disse Easterbrook a Veja.
Por definição, o progresso pressupõe crescimento gradual do bem-estar, em direção a um objetivo idealizado. Se uma pessoa já realizou todos os seus objetivos, isso significa que atingiu a felicidade? Não, é a resposta de um estudo realizado pelo psicólogo israelense Daniel Kahnman, da Universidade Princeton, nos Estados Unidos. Segundo ele, as pessoas julgam seu bem-estar não pela situação atual, mas pela perspectiva de melhorar de vida no futuro. Ou seja, nada como uma boa esperança para dar a sensação de felicidade. A classe média americana vive na fartura, mas não percebe que melhorou. Uma explicação pode ser encontrada num antigo ditado americano segundo o qual “a maré alta levanta todos os barcos”. Ou seja, quando um sobe, todos sobem juntos, e por isso perde-se a perspectiva de como era a realidade antes da maré subir.
Insatisfeitos com o que já têm, os americanos tentam se realizar através do consumo desenfreado. Easterbrook chama isso de “Síndrome dos dez martelos”. Ou seja, as pessoas compram tantas coisas supérfluas que quando precisam fincar um prego na parede, não conseguem encontrar nenhum dos nove martelos que possuem e acabam adquirindo mais um. O consumismo cria uma espécie de ansiedade pelo enriquecimento, criticada num livro recente do sociólogo americano David Callahan.
Em “A cultura da trapaça”, lançado dois meses atrás nos EUA, Callahan discute a distorção ética que passou a vigorar no país nos últimos anos. “Vivemos uma cultura que privilegia a vitória acima de tudo e encoraja a desonestidade desde a escolinha infantil até a cúpula das grandes empresas. Isso piora a vida de todo o mundo”, escreveu ele.
O progresso dos países desenvolvidos criou novos problemas no lugar daqueles que o avanço tecnológico ajudou a resolver. A disponibilidade de comida, por exemplo, aumentou tanto nas últimas décadas que o maior problema de saúde nos Estados Unidos é a obesidade, que atinge 65% da população. Outros problemas são mais prosaicos, mas não menos angustiantes: o telefone celular revolucionou a comunicação. Por outro lado, tornou constantes as ligações do chefe nos momentos mais impróprios. Até a liberdade, uma das maiores conquistas modernas, tem sido causa de infelicidade. Liberdade de escolha com quem se casar, onde morar e qual a profissão a seguir: há cinqüenta anos, tudo isso muito mais limitado. Hoje, o excesso de caminhos a seguir é motivo de ansiedade e seções redobradas no psicanalista.
No começo do século passado, o filosofo alemão Oswald Spengler imprimiu um tom pessimista á teoria do progresso. Para ele, o progresso, como um ser vivo, passa por fases de crescimento, maturidade, decadência e morte. Impregnada pela crença nessa idéia, a população dos países ricos convive com o medo de que todo o seu belo mundo entre em colapso através de crises econômicas, calamidades naturais ou terrorismo. Esse medo é anterior até aos atentados de 11 de setembro de 2001. A queda das torres gêmeas apenas tornou esse medo mais tangível. O pessimismo que se abateu sobre a sociedade americana também pode ser percebido na preferência da população por más noticias. A explicação para isso está em Darwin e na teoria da seleção natural. Ou seja, desde os primórdios, a suspeita e o descontentamento ajudaram o ser humano a sobreviver a todo o tipo de ameaça. Contra o hábito de reclamar de barriga cheia, Easterbrook propõe um exercício coletivo a seus conterrâneos: que sejam mais gratos pelo que possuem, mais generosos com o próximo e mais otimistas com o futuro.
Texto extraído da revista Veja de 14 de abril de 2004

Easterbrook, ao nos enriquecer com sua pesquisa, permitiu focar outras causas do stress. Afirma que a sociedade humana “se sente mal” ao pensar que pode perder o que conseguiu arregimentar até ontem e “sofre” porque receia o que lhe pode reservar o amanhã, enquanto hoje, por ter muitas opções de caminhos a seguir, devido à “ansiedade” que isso lhe causa, recorre a seções redobradas no psicanalista. O stress devido ao progresso.
Em 4 de julho de 1776, quando os Estados Unidos da América promulgaram a Declaração de Independência, a partir da idéia de que “todos os homens são iguais”, fizeram constar nela que todos tinham idêntico direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade.
Cinco anos mais tarde, em 1781, quem passou a sofrer a “amargura da contrariedade” foi a coroa britânica, porque depois que suas tropas foram vencidas, ao reconhecer em 1783 a soberania Americana naquele continente, perdeu as terras que haviam sido colonizadas por seu povo.
O desgosto, contudo, teve curta permanência, vez que nessa época a Inglaterra começava a viver seu apogeu: estava em curso a Revolução Industrial e foi ela que impulsionou, como dantes nunca havia acontecido, o sonho da busca da felicidade via bens materiais.
Esse evento também teve o seu oposto, porque se por um lado foi responsável pela geração de riqueza, do outro sinalizou o fim do patriarcalismo (influência social do homem), porque quando o desejo de possuir os novos bens que passaram a serem produzidos ficou além do alcance do poder de compra imposto pelo salário do “chefe da família”, para obtê-los, a mulher se engajou na luta rumo a sua emancipação.
A Revolução Industrial marcou o início do processo de acumulação rápida de bens de capital, com o conseqüente aumento da mecanização em suas fábricas, porque até então o progresso econômico sempre fora tão lento que eram necessário séculos para que a renda per capita aumentasse em termos significativos. Depois dela, esse índice, assim como o da população, começou a crescer com uma rapidez nunca antes vista na história da humanidade.
Por exemplo, entre 1500 e 1780 a população da Inglaterra que era de 3.5 milhões passou para 8.5, enquanto entre 1780 e 1880 saltou para 36 milhões, também devido à drástica redução da mortalidade infantil.
Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era desenvolvida por artesãos. Estes utilizavam ferramentas rudimentares, na maioria das vezes eram os donos da matéria-prima e ainda comercializavam o produto que resultava do seu trabalho manual.
Trabalhavam a sós ou em grupo (desde que conseguissem dividir as etapas do processo produtivo), e como não havia fábricas ou máquinas, por ser “manufatura” o trabalho era realizado em “oficinas” montadas nas residências dos próprios artífices.
Depois da Revolução Industrial os trabalhadores deixaram de ser “donos” para se tornarem operários ou empregados, passando a trabalhar para um empresário (operando máquinas e produzindo), para que este tivesse lucro.
Trabalhavam de 12 a 14 horas diárias em troca de uma remuneração que não era ajuizada como deveria, e só mais tarde, com o advento dos sindicados, puderam começar a lutar por seus direitos. Neste momento teve iniciou aquela relação que até hoje é chamada “capital trabalho”.
O tempo correu e eis que finalmente a mulher, nos ditos países civilizados, alcançou a emancipação. Mais uma ocorrência com desdobramentos positivos e negativos. A primeira conseqüência foi que a mulher deixou de ser dependente como até então havia sido, inicialmente dos pais e depois do marido. No entanto, quando deixou os filhos para assumir um posto de trabalho - crendo que com esse arranjo alcançaria mais rapidamente seu bem estar, estes se “emanciparam” também.
De fato, ao passarem a se desentender com os genitores, porque, queiramos ou não, a ausência plenitude da mãe, ao serem deixados aos cuidados de babas, escolas ou parentes, lhe faz chorar o coração, conscientes ou inconscientemente passaram a “aprontar” cada vez mais. Um método natural de chamar atenção que os pais traduzem, com o escopo de amenizar a sua constante ausência, como uma necessidade de oferecer ainda outras compensações.
Entretanto, neste cenário, este não é o único aspecto negativo. Conhecemos casais com filhos, cuja rotina diária, a guisa de um caminho sem volta, os está conduzindo á separação. Seu dia começa antes das seis da manhã e mesmo assim seu tempo é escasso. Depois do banho, adiando a refeição matinal para fazê-la às pressas em um bar perto do local de trabalho, deixam seus filhos na escola para só ir buscá-los as 19:00 horas, ou seja, 12 horas depois. Na hora do almoço, como é costumeiro á milhares de pessoas, devoram em poucos minutos uma refeição em um self-service por quilo, refeição nada salutar, porque para levar os clientes a encherem seus pratos, as ofertas devem ser visualmente atraentes, e para sê-lo, nada melhor do que serem pródigos em molhos e gorduras, isto é, a melhor formula para que ecloda uma ulcera, depois de curtir uma gastrite devido à impossibilidade de curá-la (a rotina diária) mesmo ingerindo os fármacos receitados pelo doutor.
Findo o expediente, devido ao transito intenso, o carro tem que voar para chegar à escola em tempo hábil para pegar os filhos e ir para casa... Entretanto, não antes de parar para um lanche rápido, visto que “nem sempre há o entusiasmo” adequado para preparar o jantar. Mais tarde, vendo a esposa esgotada, o marido retorna ao tema que ela está cansada de ouvir: amor deixa te dizer isso mais uma vez, para de trabalhar e fica em casa cuidando dos meninos. O salário que eu ganho é suficiente para todos nós. A esposa, então, que não deseja abrir mão da sua independência financeira, mais uma vez retruca entediada: você já disse isso um milhão de vezes... Ainda não entendeu que não quero parar de trabalhar?
A mulher mãe, contudo, não foi agredida somente pelas novas e inesperadas (mesmo se previsíveis), exigências da família, mas concomitantemente pelas decepções, ou seja, a angústia, o medo, a rivalidade, as pressões do chefe e demais agressões que fazem parte de qualquer ambiente de trabalho, isto é, os ingredientes que, não sabendo manuseá-los adequadamente, por serem “explosivos”, detonam, deixando sempre atrás de si seqüelas que iniciam com a irritação, passam pelo mal-estar, evoluem para os mais variados quadros enfermiços, seguem levando ao stress, precipitando depois disso o indivíduo, na maioria das vezes, em depressões que, somatizando, abrem caminho para as mais variadas enfermidades ou separação entre cônjuges quando não suficientemente hábeis para evitá-las.
Estas inquietações, que a maioria não consegue fechar na gaveta ao deixar o trabalho, ou esconder sob o tapete de casa, somando-se às demais, terminaram por desaguar acolá da margem do bom senso, do respeito e da tolerância e, transformando-se em impaciência, mau humor e agressividade, como uma infecção por bactéria atingiu toda a família. Resultado: ao invés de ser o lar um espaço para o cultivo do entendimento, carinho, confiança e o respeito recíproco - sentimentos indispensáveis para dosar entre marido e mulher, e destes para os filhos, o adequado para manter todos no contesto da família, da sociedade e da cidadania - tornou-se um ambiente de insatisfação e revolta, a receita que no dia-a-dia transforma pais e filhos em inimigos.
Estes conflitos geram nos adultos uma sensação de culpa, sensação esta que para ser amenizada exige atitudes compensatórias. Assim, a precisão de tentar “recuperar o perdido” torna-se sinônimo de mimos desnecessários: passeios, roupas de marca, tênis importado, animais de estimação, móveis novos para o quarto, objetos decorativos, televisão, som, computador e tantas outras coisas que impelem a criança ao consumismo irresponsável. Esta terapia é inadequada mesmo se aconselhada por muitos terapeutas.
O primeiro efeito, mesmo se inicialmente trás um certo alívio, por contrariar o ditado que diz “não de o peixe, mas ensine a pescar”, afirma aos filhos que existe sempre uma fórmula para conseguir o que se quer sem muito esforço. A decorrência são adultos psicologicamente desajustados que, tendo a chance, mesmo permanecendo dependentes dos pais, se encaminham pelas trilhas do ilícito ou, para fugir das responsabilidades da vida, se entregam aos vícios.
A terapia do “dar para receber”, além disso, quando há mais do que um filho, exacerbando o ciúme natural já existente, abre espaço para novas contestações, disputas só amenizáveis com “mais doações”.
Mas, mesmo no caso do filho único os efeitos são inconvenientes. Quando seu quarto é transformado em um lar dentro do lar; quando este cômodo é dotado de todo o conforto moderno, adeus harmonia familiar. Sentar junto, conversar, trocar idéias ou apreciar um bom filme se tornam atos impossíveis. Pior do que isso. Na maioria das vezes o dormitório se transforma em uma cidadela inexpugnável aos pais.
Assim educados, os filhos tendem a se tornar consumistas compulsivos e, sem o beneficio do bom senso, por não terem como avaliar o impacto de suas exigências no orçamento doméstico, passam a exigir cada vez mais. Mais, até não haver mais verba para atendê-los. Nesse momento, a contrapartida é o recrudescimento da incompreensão, que como veremos na pesquisa a seguir, torna-se mais uma turbulência estressante do cotidiano.
Mãe: O que você quer filho?
Filho: Guitarra!
Mãe: Não vou levar uma guitarra para você.
Filho: Eu quero.
Mãe: Hoje a mãe não vai levar, está bom?
Filho: Hoje?
15 minutos depois...
Filho: Eu quero (chorando)
Mãe: A gente compra outro dia, prometo.
Filho: Outro dia! (berrando). Eu quero agora (chorando).
Mãe: Não faz assim filho! Vai, escolhe outra coisa baratinha. Tadinho!
De birra em birra, cada vez mais os filhos tem poder de decisão nos gastos da família. É o que diz uma pesquisa realizada em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre as mães de todas as classes sociais que possuem filhos entre 2 a 14 anos.
Em 2002, 71% das crianças e adolescentes já influenciavam fortemente as compras familiares. Três anos depois, em 2005, esse percentual subiu para 82%.
“Meu dinheiro vai praticamente todo com ele. È brinquedo, é bala! Compro tudo o que ele quer. Por isso, quando chega o fim do mês estou sempre sem dinheiro”, confessa a estudante Mariana, mãe de João Felipe, que berrava pela guitarra.
De acordo com a psicanalista Ana Olmos, essa atitude é péssima, porque a criança, descobrindo que é ela quem decide, passa a exigir cada vez mais. Contudo, a pesquisa dos supermercados indica que 23% das vendas são de produtos escolhidos pelas crianças e pré-adolescentes.
A equipe do Fantástico, para documentar o que acontecia, acompanhou Fernanda e seus dois filhos, Bruno (4 anos) e Luiza (1 ano e 4 meses) durante algumas compras. Bruno: Biscoito!
Fernanda: Esse ai? Leva outro.
Bruno: eu quero levar este também.
Fernanda: Você já pegou bolinho de chocolate.
Bruno: Eu vou levar esse também...Agora vou levar esse.
Fernanda: Você quer tudo! Então devolve uma destas coisas e leva isso.
Bruno: Eu não vou tirar.
Por que a Fernanda não consegue dizer não? “Porque eles são tudo o que eu tenho. Nunca vou dizer não para eles”, justifica.
Entretanto, de acordo com a psicanalista, amar significa também saber dizer não aos filhos quando necessário. “Lamentavelmente a mamãe não vai comprar isso que você quer porque não precisamos ou porque não podemos”, argumenta Ana Olmos.
Material extraído do programa fantástico da rede Globo.

No lar, assim como veremos no arquétipo a seguir, entre pais e filhos há competições muito mais estressantes e devastadoras do que as produzidas pelo consumismo.
Minha filha tentou se suicidar ingerindo veneno de rato - nos contou uma mãe desesperada em busca de auxílio. Por sorte, a irmã menor percebeu e me telefonou. Conseguimos desse modo levá-la ao hospital para uma lavagem em tempo hábil.
A filha, uma adolescente de 14 anos aparentando 18 ou 20 que não se relacionava com os pais desde que se apartaram, depois da alta hospitalar, continuou dizendo que era melhor morrer do que continuar sendo jogada de um lado para o outro.
Semanas depois a mãe nos procurou novamente dizendo que ela, assim como o pai, não sabia mais o que fazer. Ela tem um namorado, ou melhor, tinha um namorado de 18 anos que lhe deu um fora. Esta deve ser a causa da tentativa de suicídio. Tentei trazê-la para conversar com o senhor, mas ela bateu o pé e não quis me acompanhar.
Senhora - lhe dissemos, desculpe, mas é insensato julgar que sua filha deseja se matar por causa do ex-namorado. A razão é que vocês, os pais, quando se separaram para iniciar novos relacionamentos, na maioria das vezes se olvidam dos filhos no momento em que estes mais necessitam de compreensão. A leitura que eles fazem é que foram abandonados a mercê da própria sorte. Entretanto, agora, não adianta chorar sobre o leite derramado. Urgem providências no sentido que a adolescente se dê conta que vocês, mesmo tendo outros interesses, continuam amando-a. A esta altura, todavia, replicar as promessas feitas e não compridas equivale a colocar mais lenha na fogueira. São necessárias outras atitudes, além de muita paciência, carinho e diálogo.
Meses depois, ao se darem conta que o processo exigia muito deles (é comum a nova mulher do pai e o novo homem da mãe “se intrometerem” quando percebem que para ajudar os filhos seus genitores voltam a se relacionar), lavaram as mãos: Despacharam a filha para a casa dos avos maternos no Piauí.
Estes pais, como tantos outros, por acreditarem que os filhos - por serem crianças - não são atingidos pelos problemas por eles cunhados, para “viverem um novo amor”, cegos diante do fato que para coexistir é imprescindível doar, ao fugirem de suas responsabilidades transformaram a filha estressada em uma depressiva crônica.
As crianças são sempre muito mais sensíveis do que os pais podem imaginar: para elas um simples gesto ou entonação de voz diferenciada vale mais de mil palavras. A reportagem a seguir extraída da revista Veja é muito elucidativa.

O stress, até alguns anos atrás só privilegiava os adultos, todavia, mais recentemente, ampliou seu leque e passou a envolver as crianças. O alarme partiu da Sociedade Americana de Hipertensão – a partir de agora, os médicos pediatras devem medir a pressão arterial dos pacientes com mais de quatro anos de idade.
As novas diretrizes foram divulgadas num encontro recente de especialistas em Nova York e serão publicadas na edição de julho da revista científica “Pediatric”. O zelo se explica. Nos últimos dez anos, detectou-se um aumento significativo dos níveis de pressão arterial em crianças e jovens. E esse é um caminho para o desenvolvimento da hipertensão, um dos principais fatores de risco para o coração, ao lado do colesterol alto e do diabete.
Pesquisas mostram que 80% das crianças com níveis de pressão acima do desejável, ou seja, a partir de 12x8, tem grande probabilidade de se tornarem adultos hipertensos. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a hipertensão infantil era rara. Hoje já se sabe que ela é bastante comum, diz o cardiologista Flávio Cure, pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Por trás do aumento dos níveis de pressão arterial nas crianças, estão o excesso de peso e o sedentarismo. Nos Estados Unidos, a porcentagem de meninas e meninos gordinhos, entre seis e onze anos, triplicou desde os anos 60. Uma em cada sete crianças é obesa, ou seja, está no mínimo 25% acima do seu peso ideal.
No Brasil, estima-se que esse números seja o mesmo – as mães brasileiras adoram entupir seus filhos de farináceos e açúcar, na crença de que a gordura é sinônimo de saúde. Para estes casos, não há estratégia melhor do que orientar os pais a incentivar mudanças na alimentação e nos hábitos do dia a dia dos seus filhos. No entanto, em 5% a 10% das ocorrências, a hipertensão é sintoma de algum distúrbio, como alterações hormonais ou doenças cardíacas e renais congênitas. A saída são os tratamentos medicamentosos.
Desde que a Food and Drug Administration, agência de controle de venda de alimentos e remédios nos Estados Unidos, autorizou estudos clínicos com crianças, os médicos estão mais seguros em prescrever remédios anti-hipertensivos para elas.
As novas recomendações americanas, que certamente serão seguidas pelos pediatras brasileiros, só foram possíveis graça a um estudo de quase vinte anos, que acompanhou milhares de crianças de 1977 a 1996. Com base nos dados, os pesquisadores puderam definir a pressão ideal por idade, sexo e faixa etária. De maneira geral, meninos e meninas devem ter uma media de 11X7. Cerca de 20% das crianças que moram nos grandes centros urbanos, no entanto, apresentam uma pressão arterial de 12X8 para cima. Esse número se refere aos Estados Unidos, mas os especialistas acreditam que por aqui não seja muito diferente.

A reportagem, refletindo o aspecto que preocupa a ciência médica, versa a respeito do efeito do stress (sem esquecer os fármacos curativos, óbvio) - mas não entra no mérito das causas. É até compreensível, porque se estas fossem tratadas preventivamente com a mesma ênfase, a contra partida inevitável seria um decréscimo na demanda de antidepressivos. Contudo, se quisermos nos debruçar um instante nessa janela, perceberíamos claramente que as raízes do stress estão entrelaçadas ao processo de desenvolvimento moral e cultural em que transita a humanidade.
Hoje, nada é mais estressante para os filhos do que a percepção e posteriormente a constatação que seus pais – os seres que mais amam no mundo, mesmo se durante o processo de ampliação de seu espaço muitas vezes os enfrentam – estão se separando. Esta borrasca, aliás, fere de muitas formas, e entre elas a mais contundente talvez seja o medo de que seu futuro, entendendo como tal escola, faculdade, bom emprego, vida abastada etc., “por estarem sendo abandonados”, esta se dissipando naquele instante.
Porque o stress está entrelaçado ao processo de desenvolvimento moral e cultural em que transita a humanidade? A resposta é oferecida pelo filosofo americano Wil Durant (1885-1981). Eis seu relato:
Em Futuna e no Havaí, a maior parte dos nativos não se casavam, pelo menos no tempo deste historiador. Os Lubus juntavam-se indiscriminadamente sem qualquer concepção de casamento, e certas tribos do Bornéu são sexualmente livres como os pássaros. Na primitiva Rússia, os homens utilizavam às mulheres sem qualquer distinção e nenhuma mulher tinha macho fixo. Os pigmeus africanos não conheciam o casamento, seguiam simplesmente seus instintos.
Um outro bloco de informações de Durant diz o seguinte: Uma variedade de uniões experimentais veio substituir a ligação indeterminada. Entre os nativos de Orang-Sakai a moça ficava algum tempo com cada homem da tribo, passando de um para outro até voltar ao primeiro. Entre os iacutos da Sibéria, os botocudos da América do Sul, as classes baixas do Tibet e outros povos, o casamento era completamente experimental e rompia-se por vontade de qualquer um dos cônjuges sem que fossem necessárias justificações. Entre os damaras, segundo Francis Galton, a esposa era trocada semanalmente. Nos bailes, a mulher passava de homem a homem e por sua própria vontade deixava um marido por outro. Jovens meninas de pouco mais de 10 anos, tinham muitas vezes quatro ou cinco maridos e todos vivos.
No Havaí, a palavra original para o casamento significa experiência. Entre os taitianos, há um século, quando não havia filhos, as uniões eram livres e dissolúveis à vontade. E se vinha prole, os pais ou a destruíam sem nenhuma condenação social ou criavam-na e ficavam morando juntos. O homem comprometia-se a sustentar a mulher em troca dos trabalhos que a “mãe” teria que assumir. (Ob. Cit. vol. 1 pág. 42).
Will Durant acreditava que o que levou os seres humanos deixarem a poligamia e organizarem o ato do casamento foi o fator econômico. Foi ficando difícil a um homem sustentar várias mulheres e todas as implicações desse tipo de união. Também foram surgindo problemas de propriedade e herança, com a melhora dos valores sociais do mundo. Isto levou os seres humanos a adotarem uma só mulher e procurar desenvolver com ela todo o empreendimento da família.
Claro, no estágio da jornada evolutiva alcançada por estes seres, como não havia casamento mas acasalamento, muito se distanciavam do homem civilizado. Mesmo assim, no seu meio, devia haver contrariedades, mas estas deviam carecer de soluções de seu mesmo nível intelectual.
Wil Durant, nesse fragmento, reporta o que acontecia na sua época entre alguns povos autóctones. Mas na América onde vivia, que fase de responsabilidade social havia alcançado a relação homem mulher? Ele articula: Sentimos a nossa vida moral ameaçada e a nossa vida intelectual ampliada excessivamente pela desintegração dos antigos costumes e da antiga fé. Tudo é novo e experimental nas nossas idéias e ações, nada estabelecido e certo. A complexidade, a variedade e a marcha da mudança operada hoje não têm precedentes (...); em redor de nós, todas as formas estão alteradas, desde os instrumentos complicadores do trabalho e das engrenagens e rodas que nos mantém num perpétuo movimento sobre a terra, até as nossas inovações na vida sexual e a áspera desilusão das nossas almas."
A família é a instituição primária das sociedades. Entre suas principais funções podemos citar a reprodução biológica, o sustento econômico, a socialização, a educação e a transmissão de propriedade e cultura. Ela é a mais eficiente estrutura de relação humana criada pela sociedade para a realização de certas funções essenciais.”
"A família tem sido o veículo dos costumes e das artes, das tradições e da moral". E acrescenta "A essa função da família como centro moral e integrador da sociedade veio somar-se a função econômica: a família tornou-se uma unidade, um núcleo de produção”. Durant deixou este mundo em 1981, há mais de 25 anos, portanto, mas o que relataria hoje se estivesse vivo a respeito da instituição do casamento?
No Brasil, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) relata o seguinte:
Os divórcios em 2005 cresceram em 15.5% em relação a 2004, ano em estes haviam decrescido 3.7% na comparação com o anterior. Por outro lado, como às estatísticas de 2005 demonstram que o número de divórcios cresceu o dobro em relação às separações consensuais (estas tiveram um acréscimo de 7.4% em relação ao ano anterior), significa que há uma mudança no comportamento da sociedade.
Para o IBGE o cidadão brasileiro está aceitando o divórcio não só mais naturalmente, mas como uma “solução” para seu “mal de amor”. Esta constatação leva a deduzir que o ingresso da mulher no mercado de trabalho, direta ou indiretamente, contribuiu para o que está acontecendo.
O Instituto, ainda, cita a mudança da legislação que facilita a dissolução do casamento via divórcio, porque antes disso a separação judicial, mesmo sendo uma metodologia legal, impedia que depois houvesse um novo casamento civil.
Segundo as mesmas estatísticas, a idade media dos homens que se divorciaram é de 42,9 anos, enquanto a das mulheres é de 39.4. Enquanto isso, o percentual de mulheres solteiras que se casaram com homens divorciados pulou de 4.1% para 6.2% entre 1995 e 2005. E no mesmo período o percentual de mulheres divorciadas que se uniram legalmente a homens solteiros cresceu de 1,7% para 3,1%. Finalmente, os casamentos entre divorciados também aumentaram de 0,9% para 2,%.
O que as estatísticas não indicam, no entanto, é o numero de “mortos e feridos” causados por estes “distúrbios”, entendendo como tais não as “baixas” indicadas pela mídia devido ao ciúme, vingança, suicídios etc.etc., mas o número de pessoas que por terem sido “chutadas” pelos consortes ou “esquecidas” pelos pais biológicos, por não estarem preparadas para encarar racionalmente estas situações, tornam-se consumistas de antidepressivos.
Aliás, segundo o que é veiculado mundo afora, nas grandes cidades pelo menos uma entre dez pessoas consome estes fármacos.
Esta realidade, não computada pelos jovens porque, ao serem “atingidos pelas chamas da paixão (das endorfínas)”, preferem se deixar levar pela lembrança das fábulas que os deslumbraram quando guris (como a do belo príncipe, por exemplo, que cavalgando seu branco alazão, após salvar a linda princesa das garras do monstro, com ela se casa e vivem felizes para sempre), quando são por ela agredidos, por não terem desenvolvido defesas, sucumbem.
Não desenvolveram defesas, isto é, jamais consideraram a hipótese que tanto um como o outro está sujeito a ser “cingido” por outros interesses, porque, alem de elegerem a lua cheia testemunha de suas juras de amor, optaram por se entregar de corpo e alma aos inesquecíveis versos de Vinícius de Moraes.
De tudo ao meu amor serei atento.
Antes, e com tal zelo e sempre e tanto que,
mesmo em face do maior encanto,
dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
e em seu louvor hei de espalhar meu canto
e rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou ao seu contentamento.
E assim quando mais tarde me procure quem sabe a morte
angústia de quem vive,
quem sabe a solidão, fim de quem ama,
Eu possa dizer do amor (que tive):
que seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure.
Na prática, entretanto, se despirmos o amor das roupagens que lhe foram acrescidas pelos menestréis de todas as épocas, veremos que desde que mundo é mundo - sempre que as partes não o aceitaram sob a premissa: “que seja efêmero, posto que é chama, mas que seja ilimitado enquanto dure”, seu término sempre foi palco de inúmeras tragédias.
O amor, hoje como no passado, só perdura enquanto as “chamas da paixão”, em relação ao “desgaste causado pela obrigação de ser compreensivo e tolerante com o consorte”, no fim de cada dia tem saldo positivo. A longo andar, porém, quando a inalterabilidade da vida a dois se torna rotina, eis que o saldo após zerar, torna-se negativo.
Negativo? Sim, e as razões são sempre as mesmas. “Ou é a receita que diminui, ou há um aumento da despesa”.
Receita e despesa de amor? Claro. Queiramos ou não, cada uma das partes possui um “balancete pessoal” chamado amor próprio, onde a outra, através de suas atitudes, de contínuo lhe aloca valores a débito ou a credito.
Que valores são estes? Elementar: a atenção que é recebida vai a crédito, assim como a desatenção entra a debito. Os itens são muitos: afabilidade ou desacato, educação ou grosseria, lealdade ou deslealdade, interesse ou desinteresse e camaradagem ou hostilidade, por exemplo. No entanto, se mesmo no dia-a-dia de um relacionamento entre pessoas não estressadas há débitos e créditos, quando uma delas o é, sai de baixo, porque em todas suas atitudes há um componente que agride.
Além disso, há o “peso dos vícios”: cigarro e bebida para citar alguns, e manias: chegar tarde em casa após on trabalho, por exemplo, que quando do marido são lançados a débito pela esposa, e se desta, lançados a débito pelo do marido.
A esse respeito queremos fazer um adendo, vez que, quaisquer que eles sejam, durante a “lua de mel”, ou seja, quando os “pombinhos”, saudosos por estarem distante um do outro, se telefonam e dizem: “amor, não vejo a hora que chegue a noite porque não consigo viver sem você”, nem são notados. Algum tempo depois, entretanto, compartilhando cama e teto, alguns começam a incomodar, e por fazê-lo, vagarosamente assumem um peso, peso este que anos mais tarde costuma se tornar insuportável.
Fatores externos, como insatisfação no trabalho, perda de emprego, dívidas, doença, amizades, desentendimentos etc., se não controlados, tornam-se débitos muito dificilmente passíveis de serem zerados. Tem um componente, entretanto, que tem um peso ainda maior: “a mesmice”. Quem não souber evitá-la...Sempre paga.
Dessa forma, quando uma das partes assume um “débito” que a outra considera impagável, a leitura que essa última faz é que não está mais interessada em fazer sua parte, isto é, continuar “alimentando a chama da paixão”. Resultado: logo só resta um braseiro que o tempo se encarrega de apagar.
Sem calor a atmosfera se torna fria, frígida como os últimos dias do outono, e logo inóspita, insuportável mesmo, como o são os dias invernais dos países árticos. A “resistência ao frio” , como sabemos, difere de pessoa para pessoa, desse modo, um dos dois, antes ou depois, toma a iniciativa de acender um outro “fogo”, aventura esta que comumente, quando “preenche o vazio que julga ter dentro de si”, se transforma em um novo relacionamento...Somente fadado a se manter estável, todavia, se a experiência ensinar que a paixão, por ser o resultado de um processo bioquímico (dura enquanto os neurônios, ativados pelo desejo, prosseguem segregando endorfínas), tem seus dias contados, mas que isso não impede que os cônjuges se mantenham aquecidos pelo carinho que é o fruto da tolerância, compreensão, consideração e respeito mútuo.

O stress é a enfermidade que é, porque, “quando se deseja uma coisa e acontece outra” ou “quando se perde algo que não se queria perder”, por não sabermos administrar o ocorrido, (mesmo se na circunstância que for continuamos sendo os mesmos), entramos em um impasse psicológico. Analogicamente falando, em um labirinto do qual, sem fazermos uso da razão, da inteligência que a “natureza” nos privilegiou, jamais sairemos.
O que seria do agricultor se, mesmo após perder a colheita devido a uma tempestade, não continuasse psicologicamente preparado para um novo plantio, independentemente de possuir ou não os recursos necessários? Ou do empresário que, tendo que recorrer à concordata, não investisse tempo e trabalho nela para se safar da falência?
Vocês estão perguntando de que forma é possível nos mantermos psicologicamente preparados para recomeçar tudo de novo? Admitindo antecipadamente que a probabilidade de não obter o que se deseja, ou perder o que se lutou para ter, por mínima que seja, sempre existe, vez que mesmo o planejamento dos melhores estrategistas ou do país mais potente do mundo está sujeito a fatores que, por estarem alheios ao seu controle, podem inviabilizá-lo.
A máxima que diz: “quando um não quer, dois não realizam”, não se limita a ser uma verdade irrefutável só na vida de um casal. É aplicável a todos os contextos onde o empenho de uma pessoa, grupo, empresa ou país, rivaliza com o esforço daqueles que lhe se opõem.
Quem não lembra dos torcedores truculentos que no aeroporto, quando os jogadores da seleção retornaram após a derrota na Alemanha, por não aceitá-la, estavam dispostos a agredi-los. Ou daqueles que, vítimas da própria ignorância, por não aceitar a derrota do seu time, matam?
Todavia, existem casos ainda mais alógicos: os torcedores tão irracionais que chegam a enfartar diante da televisão ao perceber que seu time está em dificuldades diante do adversário. Sim, o esporte também é um inesgotável manancial de stress.
Vencer seja o que for, jamais é uma obrigação, mas um comprometimento. Um comprometimento que, mesmo se assumido com todo o aporte lógico desejável, pode ser derrotado até por uma fatalidade.

Retornando aos divórcios, ouve-se freqüentemente dizer que quem se separa é o homem e a mulher, jamais o pai da mãe porque os dois, presentes ou ausentes, continuarão sendo os pais biológicos dos filhos. Esta frase ilude, porque ser pai e mãe, literalmente falando, extrapola o fato biológico em si.
A responsabilidade de ambos diz respeito á saúde da prole, alimentação adequada e a educação apta a inseri-los no contexto da família e da sociedade como cidadãos cumpridores de seus deveres, sem esquecer o respeito ao próximo e as leis que vigem no país.
Pais separados dificilmente têm condições de se dedicarem como deveriam aos filhos adolescentes de um casamento desfeito, e sob esta ótica, em que porcentagem sua ausência contribui para levá-los a trilhar o caminho do ilícito ou no caso das filhas à gravidez na adolescência? Nascentes de stress que décadas atrás eram quase inexistentes.

Em 1980 o Brasil possuía 27.8 milhões de adolescentes entre 10 e 19 anos de idade, o que representava 23% da população geral. A taxa de fecundidade entre os 15 e 19 anos era de 11% . Nessa época, dos partos realizados pela rede do INAMPS, 13% eram de menores de 19 anos (Institutos Brasileiros de Geografia e Estatística, 1980).
Conforme dados da Organização Panamericada da Saúde -OPS (1992), no começo da década de 80, 12,5 % dos nascimentos da América Latina eram de mães menores de 20 anos. A população de 15 a 24 anos (de alto risco para engravidar) chegou a 71 milhões em 1980. Estima-se que chegou a 86 milhões em 1990 e que no ano 2000 estaria em torno de 100 milhões de adolescentes. Isso indica que durante o período 1980 - 2000 a população de adolescentes na América Latina aumentaria aproximadamente 41,6%. A adolescente representaria, no ano 2000, 19% da população latino-americana.
Na América Latina nascem 3.312.000 filhos de mães adolescentes por ano. A nível mundial, de cada 100 adolescentes entre 15 e 19 anos, 5 se tornam mães anualmente, o que eleva a 22.473.600 nascidos de mães adolescentes.
No Brasil, é no estrato social mais pobre que se encontram os maiores índices de fecundidade na população adolescente. Assim, no estrato de renda familiar menor de um salário mínimo, cerca de 26% das adolescentes entre 15 e 19 anos tiveram filhos, e no estrato de renda mais elevado, somente 2,3% eram mães (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1988).
Nas regiões faveladas do Recife, de cada dez mulheres que são mães uma é menor de 15 anos, sendo que 60% das mulheres têm menos de 20 anos de idade (Lima et al., 1990).
Em nosso meio as taxas de gravidez na adolescência variam de serviço para serviço, mas estima-se que de 20% a 25% do total de mulheres gestantes sejam adolescentes, apontando que há uma gestante adolescente em cada cinco mulheres (Santos Júnior, 1999).
Estudo realizado em 1985, por Nóbrega et al. em nosso meio, mostrava que a distribuição de partos entre adolescentes de baixo nível socioeconômico-BNSE se dava da seguinte forma: 1,4% nas < 15 anos; 18,5% entre 15 e 19 anos, sendo que a população adolescente representava 14,4% do total e as menores de 15 anos 0,2% do total.
Em trabalho retrospectivo realizado no ano de 1991 no Amparo Maternal (SP), entidade filantrópica que assiste basicamente a população de BNSE, encontrou-se: 6.316 partos com recém-nascidos vivos no período, sendo que a população adolescente representava 24,4% do total e as menores de 15 anos 2,6% do total (Vitalle, 1993; Vitalle et al., 1997). Há, portanto, aumento da freqüência de gravidez na adolescência quando comparamos os dois trabalhos.
Rocha (1991), no Recife, encontrou 24,5% de partos na adolescência, em amostra de 5940 recém-nascidos vivos de BNSE, sendo que as menores de 15 anos representavam 0,5% do total e as de 15 a 19 anos 23,9% do total, dados muito semelhantes aos do Amparo Maternal (Vitalle, 1993), exceto pelas mães menores de 15 anos onde se observam percentuais maiores na população estudada em São Paulo, confirmando, assim, que a gravidez na adolescência está aumentando às custas, inclusive, das gestantes mais jovens.
Fonte: e-mail: vitalle.dped@epm.br

Tudo vai bem dentro de casa, até que o marido surge com a noticia que vai se aposentar. A mulher entra em pânico, pois sabe que sua rotina vai mudar completamente. Ela terá de conviver com um marido que critica, faz cobranças e dá ordens num território que sempre foi dela. Até os programas com as amigas ficam em perigo. O fenômeno, que atinge as mulheres na faixa dos 50 ou 60 anos, é tão comum no Japão que já recebeu batismo: síndrome do marido aposentado. O criador do nome foi o medico Nobuo Kurokawa, pesquisador que se transformou em autoridade no tema “maridos aposentados, mulheres a beira de um ataque de nervos”.
Não é por acaso que dessa designação veio do Japão. Lá, fieis à antiga tradição, muitas esposas são praticamente “serviçais” do marido. Uma pesquisa realizada naquele país revelou que, enquanto 85% dos homens que estão próximos da aposentadoria se mostram muito felizes, 40% de suas esposas se declaram deprimidas com a perspectiva.
O divorcio entre pessoas casadas há mais de vinte anos praticamente dobrou no Japão desde os anos 80, segundo as estatísticas oficiais. A “intimidade” forçada entre o casal, depois da aposentadoria do homem, está diretamente ligada ao fenômeno. Quando não chegam à separação, as mulheres adoecem. O medico Kurokawa estima que cerca de 60% das esposas cujos maridos se aposentaram desenvolveram ulceras estomacais irritações na pele e distúrbios psicomotores, como dificuldade de falar. Todos sintomas de stress. Segundo médicos e psicólogos, a síndrome só tende a piorar. Eles apostam em uma explosão do distúrbio diante do descomunal número de homens que devem se aposentar nos próximos anos: um quinto dos japoneses tem hoje mais de 65 anos, a porcentagem mais alta do mundo.
A síndrome do marido aposentado também existe no Brasil – embora não de maneira dramática.
A professora Sonia Helal Costa Dias tinha 44 anos e o marido 55 quando ele se aposentou, uma década atrás. “Ele parou de trabalhar e começou o bangue-bangue entre nós. Ele passou a interferir na rotina da casa. Ficava irritado quando não conseguia encontrar um utensílio de cozinha, e nos acabávamos discutindo”, conta ela. Há cerca de três anos, o marido voltou a fazer trabalhos para a empresa da qual se aposentou. “Nossa vida melhorou muito. Voltamos a ter prazer em ficar junto”, diz a professora.
No Japão, os manuais de auto-ajuda para mulheres que precisam lidar com um maridão aposentado abarrotam as livrarias. Como esses livros ainda não chegaram ao Brasil, ficam aqui duas dicas do doutor Kurokawa para as donas-de-casa que se deparam com uma situação desse tipo. Façam terapia. E mantenham distancia do marido naquilo que for possível.
Texto extraído da revista Veja de 16 de novembro de 2005

A respeito do stress, ainda, em fins de janeiro de 2007, um canal de TV entrevistou um empresário e em seguida uma psiquiatra para que esclarecesse os motivos que o deixavam estressado.
A queixa deste: Estou tendo dificuldade de retomar as rédeas da minha empresa após voltar das férias e não entendo a razão disso, mesmo porque, são as mesmas que exercia antes de viajar. Não durmo, irrito-me facilmente e, como não consigo me dedicar ao trabalho, gasto meu tempo planejando a melhor maneira de aproveitar o feriado prolongado do carnaval.
A psiquiatra, recitando uma fórmula indigesta devido à repetitividade com que é ouvida, afirmava que o stress do empresário era natural visto que, ato contínuo ao término de suas férias, mergulhara de cabeça na administração da empresa ao invés de assumí-la aos poucos.
O mesmo gatilho que no Japão estressa as consortes deixando-as enfermas. Lá, fieis à antiga tradição, a maioria das esposas deveria prosseguir comportando-se como uma ”serviçal” do marido uma vez que, por ser uma tradição milenar, é algo que foi aceito, ou seja, contratado por ambos antes do casamento.
Entretanto, depois de um “período de férias” ao longo do qual se dedicou ao lazer (uma trégua em relação à submissão ao marido por estar este ausente devido ao trabalho), vendo-se obrigada a reassumi-la com o advento da aposentadoria, não se predispondo a aceitá-la, torna-se vítima do stress. Temos, de tal modo, dois cenários diversos que mantém um aspecto em comum.
Retornando ao empresário, a obrigação de administrar a empresa da forma mais eficiente possível é redundância de ser ele o proprietário, sem esquecer que é da sua lucratividade que retira o numerário para realizar seus desejos. Se isso provoca stress, então está no ramo errado e é por isso que à volta das férias lhe é tão dificultosa.
Se gerir a empresa lhe desse prazer, ou o satisfizesse como deveria, lazer e trabalho, complementando-se, tornar-se-iam razões de alegria.
Entretanto, pode haver sim outra causa, e esta é determinada por não conferir a si mesmo a obrigação de responder pelas próprias ações, isto é, abre mão de ser racional por entender que a irracionalidade é a mãe da irresponsabilidade. Em outras palavras: dane-se, estou cansado de ter que abrir mão de minhas satisfações pessoais. A vida é curta. Melhor do que trabalhar é me divertir.
Mas, o que teria dito esta psiquiatra se o estressado ao invés de um empresário fosse um executivo de uma empresa qualquer? Com certeza o diagnóstico seria outro, considerando que se um gerente retorna das férias e ao invés de mergulhar de cabeça, “enrola”, dois dia depois está no olho da rua.
Sim, se você leitor é um daquele que ao acordar na segunda feira de manhã (ou ao voltar das férias) revoltado, emite pareceres do tipo “saco, vou ter que começar tudo de novo”, não perca mais tempo e repense sua vida. Ou na melhor das hipóteses no seu emprego porque com certeza “algo está podre no reino da Dinamarca”.
Vamos entender, agora, o porque do paradigma japonês, a razão pela qual este povo jamais se insurgiu contra o hábito de considerar a mulher uma serviçal do pai, do irmão mais velho e posteriormente do marido.
Em relação à mulher, no código civil de 1868 ainda se lia que por ser incompetente devia servir o chefe da família por toda a sua vida, ou seja, subordinando-se inicialmente ao pai, depois ao marido e posteriormente ao filho.
Mas para podermos compreender melhor sua origem e legitimidade, vamos retroagir ao Japão do período de Tokugava, ou seja, entre 1603 e 1868, porque nesses anos o país por um lado estava hermeticamente fechado ao mundo ocidental, e do outro, a sociedade feudal, governada pela classe guerreira, considerava a mulher um ser totalmente irrelevante.
Em 1868, com a restauração Meiji, a soberania voltou ao imperador, mas quando este adotou uma Constituição semelhante à ocidental, permitindo algumas liberdades, por exemplo, deixou que a mulher permanecesse na condição de subordinada.
Foi somente durante a ocupação americana, depois do sistemático desmantelamento material e ideológico do Japão após a segunda grande guerra, que foi aberto o caminho que começou a transformar o universo feminino, porque a nova Constituição reconheceu a igualdade dos sexos. O Código Civil de 1948 deixava claro que o matrimônio, assim como a família, devia ser regido pelo respeito, a dignidade individual e a igualdade entre os sexos.
A alteração mais importante, entretanto - pelo menos ao nível da lei, foi à abolição do sistema onde o “chefe da família” (normalmente o homem mais idoso), tinha plenos poderes sobre ela e de maneira especial sobre a mulher, porque no Código Civil de 1868, como vimos, definindo-a incompetente, fornecia a roupagem jurídica apropriada à crença popular que julgava “natural e virtuoso” que a mulher servisse o “chefe da família” por toda a sua vida, subordinando-a inicialmente ao pai, depois ao marido e posteriormente ao filho.
No imaginário geral, a partir dos anos 70, marido mulher e filhos – como bons amigos – dividiam o trabalho de casa e transcorriam junto a maior parte do tempo. Pouco tempo depois, no entanto, vieram à tona as contradições: a mulher, depois de se ter dedicado ao matrimônio, ao marido e aos filhos, ao chegar na soleira dos quarenta anos, de repente, tornava-se inútil. Este drama se tornou tão intenso que no começo dos anos 80 esta condição a levou ao alcoolismo.
Depois dessa data, para fugir da tendência à dependência alcoólica, um número cada vez mais expressivo de mulheres passou a procurar um posto de trabalho no mercado. Mesmo assim, sujeitando-se a uma discriminação que iniciava na admissão, continuava no enquadramento salarial e persistia até a aposentadoria.
Entre as últimas lutas iniciadas para melhorar a posição da mulher situou-se à do divórcio, e este, mesmo não sendo interpretado como um reflexo da “falência da sociedade” (no Japão o número de divórcios é contido em relação a outros países), entre os que são casados há mais de quinze anos passou a existir uma tendência cada vez mais exponencial.
Motivo: o retorno do marido ao lar, por ter sido aposentado, após longas auxências por razões de trabalho.
A mulher, que ao longo de todo esse tempo havia gerenciado o lar sem a sua interferência, comumente passa a achar insuportável a presença do cônjuge em seus domínios. Alias, mesmo no Brasil, é comum encontrar o recém aposentado diariamente em casa cuidando daqueles “probleminhas” que até então não haviam merecido sua atenção. Depois, por “atrapalhar” a esposa por não ter o que fazer, é ela que sem paciência lhe dá um “chega para lá” porque se intromete até na cozinha para saber antecipadamente o que está preparando para o almoço:
Sai de casa, homem. Vai dar uma volta para conversar com os amigos! Logo mais, porém, quando passa a preferenciar o bar, os amigos e a bebida (ao invés de ler um bom livro retirado da biblioteca pública) e o efeito do álcool começa a se fazer notar, eis que ela entra em depressão porque o marido “virou alcoólatra”.
O pilhérico, entretanto, e que, mesmo sendo lugar comum entre elas comentarem que não agüentam mais o marido aposentado bisbilhotando na cozinha, quando este por não ter o que fazer abraça seriamente a culinária, e, esforçando-se, se torna um cozinheiro tão o melhor do que ela, é a esposa que entra na cozinha, levanta as tampas das panelas e depois pergunta: “porque logo hoje você está preparando peixe se eu estava pensando em frango?” Esquecendo, que quando era ela a cozinheira jamais perguntara ao marido o que ele desejava para o almoço.
Mas, no Japão, só há mulheres estressadas? Claro que não, porque na decada de 90 explodiu o fenômeno dos hikikomori.
Tashiro, um instrutor de mergulho de uma escola de Tóquio, tinha 32 anos quando, após desincompatibilizar-se com o chefe, resolveu abandonou o emprego. Depois disso, por não conseguir uma nova colocação, teve que se manter fazendo bicos durante um ano. A desordem emocional gerada por este dois episódios, diz ele, “quebrou alguma coisa dentro de mi. Por conseguinte, parei de trabalhar, de sair, de me relacionar com os amigos e me tranquei no quarto onde permaneci por dois anos sem sequer abrir a janela”. Tempos depois, como residia na casa do pai, este, não suportando a situação, vendeu a casa em que habitavam e deu ao filho parte do dinheiro dizendo-lhe: se quiser continuar vivendo desse modo, então vá morar sozinho.
Tashiro, então, alugou um pequeno apartamento e nele se manteve recluso por mais oito anos. Dormia de dia, a noite montava quebra cabeças e de madrugada, para minimizar a chance de ser visto por vizinhos, saia para fazer compras.
Shuichi, também conhecido só pelo primeiro nome para não ser identificado, 20 anos, adepto de jeans e casacos a lá Rod Steward porque desejava ser um guitarrista, depois de abandonar a escola, também se trancou em seu quarto e lá permaneceu durante um ano. Fujiwara, um caso análogo, também abandonou a faculdade e qualquer tipo de relacionamento social para se abrigar no seu quarto. Quando o deixou, treze anos depois, a única coisa que fizera, além de jogar e ver televisão, fora algumas centenas de modelos de automóveis. Só que, considerando a expectativa de vida dos cidadãos de seu país, já havia transcorrido metade da sua existência.
Tashiro, Shuichi e Fujiwara sofreram de um problema que no Japão é chamado hikikomori, termo que indica pessoas que se isolam da sociedade e se trancam em seus quartos permanecendo em quase completa solidão por muitos anos.
Só varões? Não, o hikikomori feminino também existe, mas é a minoria vez que os homens representam 80%. De acordo com as estatísticas, a superioridade é de adolescentes entre 13 e 14 anos e a média de permanência no quarto é superior a 15 anos.
A Coréia do Sul, além de Taiwan, também sinalizou a existência de hikikomori, mas é no Japão que na última década estes se transformaram em um fenômeno social.
Como a anorexia, que predominantemente agride a adolescência feminina nas culturas ocidentais, os hikikomoris são considerados uma síndrome que prospera durante uma fase particular na história de alguns países.
Para tentar minimizar este problema, ao redor dos hikikomoris foi montada uma industria que por um lado agrega grupos de pais, estudiosos e psicólogos que se especializam no assunto (é auxiliada pelo instituto central de estatística e recebe amparo financeiro do governo), e do outro, programas específicos com o objetivo de ampliar a oferta de trabalho, depois de treinar os hikikomoris para exercê-lo, e a construção de novos apartamentos-dormitório para ampliar a oferta.
O governo japonês estima que existam entre 600.000 e um milhão de pessoas como Tashiro, Shuichi e Fujiwara, a metade deles na faixa etária de 30 anos, que se trancaram em seus quartos depois de um evento estressante, isto é, não passar nos exames, não conseguir admissão na faculdade, perder a namorada, serem demitidos e assim por diante.
O gatilho que aciona este comportamento, segundo o psiquiatra Tamaki Saito (o criador do termo que serve para indicar seja o distúrbio como a pessoa que sofre dele, isto é, hikikomoris), é a sensação de não conseguir corresponder à expectativa da família ou da sociedade.
Existe um fato histórico-social, porém, que explodiu concomitantemente aos hikikomori, mesmo se anos antes já havia registro deles: a recessão dos anos 90 e o desmoronamento do arcaico regime de trabalho japonês, aquele em que o empregado jamais era demitido porque o emprego era praticamente vitalício.
Numa cultura, dizem os estudiosos, que tem raízes no confucionismo, ou seja, onde o estudo, os rituais (o cultivo dos valores tradicionais) e o trabalho sempre haviam sido valores inalienáveis, estes jovens, diante do regime cada vez mais competitivo imposto pelo mercado mundial, se transformaram em uma espécie de pária, condição em que muitos hikikomori de fato de enquadram. É como se eles fossem peças que não passaram pelo controle de qualidade, diz Masayuki Okuyama, cujo filho, Yoichi, se tornou um hikikomori aos 15 anos.
A colateralidade do fenômeno é que os hikikomoris, por também envelhecerem, depois de muitos anos de reclusão dificilmente conseguem se reintegrar plenamente na sociedade. De fato, ao emergirem de seus dormitórios, dificilmente conseguem um trabalho estável, e, como seus genitores, na maioria já aposentados, logo morrem, em seguida, sós, passam a ser um problema social cujo custo onera sobremaneira o governo já acossado por uma economia ainda em declínio.
No Japão, os filhos vivem comumente com os pais, e, mesmo se a economia do país não vive seu melhor momento, são muitos os genitores que podem se permitir sustentar seus filhos em definitivo. Mas, como um estudioso de hikikomori afirma, ao mesmo tempo em que os progenitores japoneses preparam os filhos para “voarem”, não lhe permitem isso porque os mantém amarrados pelos pés.
Foi em 1980 que o Dr. Tamaki Saito começou a atender jovens que se trancavam em seus quartos, diagnosticando esta enfermidade como uma desordem de personalidade, depressão, ou um tipo de esquizofrenia. Entretanto, depois de tratar um número cada vez maior deles, passou a utilizar o termo hikikomori para diferenciá-los dos demais.
Saito, que já curou mais de 1000 deles, observa que o hikikomori, na família, é uma espécie de enfermo social cuja causa, por um lado, é a interdependência entre pais e filhos e pela pressão que é exercida pelos primeiros para prepará-los academicamente com o escopo de se sobressair, mas tarde, no mundo corporativo. Em verdade, a maioria dos hikikomoris alega que as longas horas de estudo, desde a tarde até a noite, para se prepararem para entrar na faculdade, foi muito desgastante. Isso porque, como a taxa de natalidade no Japão é muito baixa, a classe mais abastada de genitores é muito exigente em relação a eles, exigente a ponto de considerá-los deficientes se não conseguem serem admitidos nas melhores faculdades.
Enquanto isso, do ponto de vista da sociedade japonesa, o fenômeno dos hikikomoris é conseqüência de mães que exigem demais de seus filhos, da ausência dos pais, da pressão acadêmica, da exigência cada vez maior da sociedade e porque muitos jovens, ao invés de se prepararem para enfrentar o mercado de trabalho, se dedicam cada vez mais aos vídeos-jogo.
Mieko e Kazuo, por exemplo, tem quatro filhos adolescentes e Hirosci, o mais velho deles que é um hikikomori, fala muito raramente com eles mesmo se o quarto onde se isola está a poucos passos da cozinha. Tão infrequente que nos últimos dois anos só almoçou duas vezes com a família.
Mieko, sua mãe, diz que seria feliz em cozinhar para Hirosci até três vezes por dia se ele consumisse o alimento. Ele é muito duro comigo mesmo sendo sua mãe, ela diz, esclarecendo que só ocasionalmente encontra na lixeira da cozinha caixinhas vazias de soja fermentada - um indicio que o filho não se alimenta como deveria.
Os genitores de Hirosci possuem uma explicação a respeito da clausura voluntária do filho: confundiu-se em uma prova oral durante os exames e não se laureou. Depois disso, amargurado, se trancou no quarto.
Reconhece, entretanto, que ela e o marido sempre pressionavam o filho porque haviam criado muitas expectativas a respeito dele. E acrescenta: “é um filho muito inteligente, todavia, acho que falhamos porque jamais o elogiamos ou lhe exprimimos o nosso afeto. Sim, o forçamos a se inscrever em uma ”Junior Higt School” e para permanecer nela teve que estudar muito. Foi a partir dessa fase que o nosso relacionamento começou a se degenerar.
A partir deste relato, para permitir que cada leitor compare sua conclusão a respeito do fenômeno dos hikikomori com a da psicologia e psiquiatria, vamos relatar o ponto de vista de alguns de seus representantes que foi intitulado “fuga para o quarto fechado”.
O “quarto fechado” da nova geração japonesa é um fenômeno de certa complexidade porque sua manifestação não se limita somente ao que foi definido “retiro social dos adolescentes problemáticos”, mas tem que ser entendida como “uma nova comunicação da geração humana atual”, termo que não se atribui a toda a realidade juvenil, mas que representa a inquietude do mundo observada pelos olhos de quem não tem facilidade em se comunicar.
Todas as mutações, todos os acontecimentos e todos os desvios que estão na órbita do termo “adolescentes problemáticos” têm que serem vistos como o emergir de um reposicionamento de um ser que está deixando a idade inocente. Os elementos de crise que definem cada adolescente iluminam, através de suas especificas manifestações, a estrutura de cada um deles independentemente da cultura e das épocas visto que estas necessariamente permanecem em mutação continua.
Hoje, rituais menos complexos e de pouco valor simbólico assinalariam a passagem para uma outra fase da vida. Todavia, quase sempre, estas mutações não acompanham passo a passo à emergência hormonal, uma metamorfose que com a evidencia das mutações do corpo assexuado não é mais possível ignorar. Em todas as sociedades a passagem do microcosmo familiar ao macrocosmo do mundo externo, e da queda da onipotência e dependência infantil, para necessidade de se capacitar para assumir responsabilidades sempre mais vastas, é considerada uma fase muito complexa. Um período mais ou menos longo, de solidão e de perguntas sem respostas, durante o qual é necessário enfrentar as mutações da própria existência e da própria impulsividade em relação á sociedade até a aceitação incondicional da fase adulta.
A separação da mãe, do núcleo familiar, e mais especificamente de todas as iniciativas que participam deste relacionamento, é sentida pelos adolescentes como uma espécie de perigo de morte. Desse modo, o abandono da onipotência infantil é sentido como uma etapa durante a qual a personalidade em desenvolvimento sofre pela quase ausência de apoio familiar, por um lado, e do outro devido à necessidade de substituí-lo pessoalmente e de forma autônoma. Uma “chamada” para assumir responsabilidades á qual é impraticável não responder.
Assim sendo, comportamentos “desviados” como o fenômeno dos hikikomoris, evidenciam pontos conflituosos e ratificam que o adolescente nem sempre está capacitado a se afirmar individualmente em todos os aspectos da sociedade.

Nesse momento, se compararmos a “situação que estressou” o empresário a quem fizemos referência com a das esposas japonesas e hikikomoris, e estas situações com às demais até agora abordadas, cientificar-nos-emos que “por detrás do stress” há sempre um ou mais choques causados pela “falta de adaptação a alguma coisa” mesmo quando já convivemos com ela.
Em outras palavras, ao sermos atingidos por um evento insatisfatório, novo ou velho que seja, nosso instinto de conservação (impulso natural que determina o primeiro movimento que dirige homens e animais em seus procedimentos) reage antagonicamente vez que representa uma ameaça aos “direitos que estimamos haver adquirido” ou a “liberdade que julgamos ter conquistado”. Mas... O que é liberdade?
· Um soldado pode ter um parecer pessoal diverso daquele do seu superior ou de seu governo, e por isso refutar-se a combater uma guerra que considera injusta sem se sujeitar às penalidades que nestes casos são impostas?
· Um sacerdote, teólogo ou frei católico tem a liberdade de pensar, falar e agir contrariando os dogmas de sua religião sem ser afastado ou demitido de seu cargo?
· Uma freira tem a liberdade de se produzir, ou seja, pintar o cabelo, se maquiar e se vestir como faz qualquer mulher não religiosa, sem ser reprimida ou castigada pela madre superiora?
· Pode um cidadão, seguindo sua consciência, ter a liberdade de não pagar as taxas que considera absurdas ou incabíveis, sem correr o risco, na melhor das hipóteses, de ter que pagar o que deve acrescido de uma multa ou na pior, de ver seus bens penhorados ou seu saldo bancário bloqueado?
· Um piloto da formula 1 tem a faculdade de (divergindo das leis de trânsito vigentes), imprimir ao seu veículo uma velocidade acima da permitida só porque seu carro é novo e é equipado com um motor possante, ou estacionar em local proibido somente porque está com fome, sem estar sujeito às penalidades cabíveis?
· Um funcionário, independentemente de ser operário ou diretor, pode tomar as decisões que deseja, mesmo julgando-as corretas, se estas divergem daquelas ditadas pela diretoria da empresa sem correr o risco de ser demitido?
A liberdade, como estamos vendo, é um termo esdrúxulo porque nega a existência da submissão e servidão, mesmo quando estas são exigidas onde quer que o homem esteja. Assevera a independência do homem, mas este, em qualquer sociedade da qual faça parte, jamais é livre verdadeiramente. Porque?
Quando um náufrago, levado pelas correntes marítimas aporta em uma ilha deserta, por estar só, tem a liberdade de escolher o local que mais lhe agrada e ali construir uma habitação sem ter que dar satisfações a ninguém. Sua liberdade é plena, movimenta-se à vontade e faz ou desfaz conforme lhe parece conveniente porque é o senhor absoluto daquela porção de terra.
O tempo passa, e eis que surge outro náufrago. Com sua chegada a situação se altera porque o primeiro a chegar começa a ter limitações a não ser que se disponha a eliminar o recém chegado. Mas, se for racional, terá que admitir que seu direito de dispor da ilha como sempre quis agora esbarra no direito de seu companheiro de cuidar da própria sobrevivência. Dessa forma, os recursos existentes como a água potável, animais, peixes, vegetais etc., assim como o espaço físico da ilha, terá que ser compartilhado. Sua liberdade, então, deixa de ser plena e continuará reduzindo-se na mesma proporção em que, chegando à ilha novos náufragos, o grupo se organizar em uma sociedade.
Em uma sociedade estamos impedidos até mesmo de permanecer na inércia - se fisicamente capacitados, claro, - porque não nos pertencem os bens comunitários. Sim, alimentos, abrigo e roupas que são itens indispensáveis à nossa própria subsistência pertencem àqueles que os produzem. Dessa forma, somos exigidos a produzir com a força do trabalho a fim de que, em regime de permuta, possamos atender às nossas necessidades.
Como a perfeita compreensão dos deveres comunitários, isto é, os que restringem a liberdade individual, é virtude rara, passaram a existir mecanismos destinados a orientar e conter as indisciplinas da população, isto é, as leis que definem direitos e obrigações e os órgãos para fiscalizar sua observância. Assim sendo, os infratores sujeitam-se às sanções legais que vão de multas até a confinamento em prisões por tempos que são ajuizados de acordo com a natureza dos prejuízos causados a alguém ou à sociedade.

Quanto maior a expansão demográfica e a concentração urbana, mais difícil o controle da população. Assim sendo, há infrações que nem sempre podem ser enquadradas como delitos passíveis de punição ou nem sempre podem ser rigorosamente detectadas e corrigidas pelas autoridades. Assim ocorre com o industrial cuja fábrica despeja poluentes na atmosfera ou nos rios. Com o jovem que por transitar com o escapamento aberto faz um barulho ensurdecedor, com o alcoólatra que se comporta de forma inconveniente na rua, com o fumante que em recinto fechado expira baforadas de nicotina obrigando os circunstantes a fumarem com ele, com o pichador de paredes que polui moral e culturalmente a cidade desenhando frases de mau gosto e obscenidades, com o maldizente que se compraz em denegrir reputações e muitos outros que revelam total desrespeito pelos patrimônios individuais e coletivos da comunidade ou pelo inalienável direito comum à paz e tranqüilidade.
Mas a linha que separa os diretos das obrigações, ou seja, que determina o limite da liberdade é tão imperceptível, tão facilmente superável, que são poucos os que se atem aquém dela mesmo quando as vítimas são eles mesmos. Somente sob o título “esportes radicais” se abre um leque de riscos tão vasto (cada acidente é uma fonte de stress) que para descrevê-lo seriam necessárias um incontável número de páginas. Desse modo, como a mídia se encarrega de divulgar estes aspectos, preferimos abordar um tema que ela preferencialmente descarta. Estamos falando da inconseqüência e dos resultados catastrófico de inúmeras dietas alimentares adotadas.
Estamos lembrados da experiência de Ivan Petrovitch Pavlov, o fisiologista russo que em uma de suas experiências retirou cães do convívio materno e depois de alimentá-los só com leite artificial, quando colocou carne diante deles - mesmo sendo esta o alimento tradicional da espécie - não deram a mínima? Mas que depois de prová-la todas as vezes que a viam ou cheiravam começavam a salivar? Sim, o estímulo ou fator indutivo desencadeado pela carne em contato com o paladar provocou um reflexo condicionado que se adicionou ao reflexo congênito por meio dos hormônios segregados pelo cérebro. (Compreende-se deste modo que mesmo se o ato de se alimentar ou beber é um habito estratificado na personalidade, o ato de preferir, seja o que for, é uma atitude que excita e excitando, libera os hormônios do prazer, as endorfínas).
A carne, entretanto, mesmo se para muitos é insubstituível, para outros - como atestam os milhões de vegetarianos existentes no mundo, a desprezam. A bem da verdade, porém, não é a alimentação original da espécie humana, porque o ancestral do homem - que é o mesmo do nosso primo chimpanzé - deixou a este como herança - assim como aos primeiros hominídeos, uma dieta a base de frutas mesmo se contempla folhas, flores, sementes e pequenos animais como alguns pássaros, formigas, cupins, vespas e algumas larvas. Em síntese, uma dieta que por privilegiar os vegetais pode ser considerada vegetariana. Mas o que os especialistas dizem a respeito das dietas vegetarianas?
Das Universidades, dos órgãos públicos, da TV ou dos que se intitulam expertos, até hoje se aguarda uma informação objetiva e atualizada também a respeito do delicado espaço da alimentação, porque aparentemente ninguém quer relatar que entre os vegetarianos o índice de mortandade de inúmeras enfermidades é inferior, assim como é menor a incidência de patologias como a hipertensão arterial, o câncer do cólon e o enfarte do miocárdio. Outros estudos revelaram também uma diminuição do risco do câncer na mama nas mulheres vegetarianas.
Não podemos deixar de citar que os vegetarianos, por seguirem um caminho cultural, ético, econômico e ecológico, de certa forma radical em respeito á si mesmos e daqueles que com eles convivem, além de preservarem ambiente que os hospeda, essencialmente não bebem álcool (ou a quantidade é modesta); não fumam, não usam drogas e seguem um estilo do vida que lhe garante a manutenção do peso ideal através da atividade física.
Estas escolhas têm demonstrado, através de pesquisas sobre o universo de vegetarianos, que seus índices de mortandade devido a doenças crônico-degenerativas é inferior ao dos não vegetarianos, assim como o diabete mellito não insulino-dependente.
Como dissemos, mesmo a mortandade por problemas coronários é inferior em relação aos não vegetarianos, e um estudo recente atesta que há um melhoramento nas enfermidades coronárias sem a utilização de fármacos, quando é adotada uma dieta vegetariana muito pobre em gorduras aliada à abolição do fumo de cigarro e a redução do stress via exercício físico moderado.
A obesidade também é ausente nos vegetarianos, mesmo se é presente entre os que acrescentam à sua dieta leite, queijos e ovos.
O falso tabu das proteínas chamadas “nobres”, também está em via de ser definitivamente descartado também por aqueles nutricionistas historicamente velhos inimigos da dieta vegetariana, porque foi provado que muitos vegetais possuem o mesmo conteúdo protéico da carne (a soja, por exemplo) que satisfazem a demanda dos aminoácidos essenciais. Sim, cereais integrais, legumes, verduras, tubérculos e frutas (com ênfase as de casca dura como as nozes), contêm todos os aminoácidos necessários.
Nas últimas recomendações dos L.A.R.L. (Assunções Dietéticas Recomendadas) é aconselhado não exceder a quota protéica e reduzir a dos lipídios em favor dos glicídios, porque reduzindo essa quota há uma maior retenção e menor necessidade de cálcio, o que é muito salutar para os rins.
A dieta vegetariana, por ser riquíssima em fibras, permite um trânsito intestinal mais rápido, e na medida em que isso acontece, diminui a incidência de algumas enfermidades graves incluindo a do câncer do cólon.
O ferro é há muitos anos o ápice do orgulho daqueles que defendem a dieta de carne. No entanto, se fosse possível colocar um sobre os outros todos os carnívoros que sofrem de anemia de ferro, chegaríamos a Lua.
Concordamos, entretanto, que o ferro contido na carne animal é mais facilmente absorvível daquele dos vegetais. Mas um estudo desenvolvido pela clínica pediátrica da Universidade de Verona (Itália), publicada com a colaboração do Dr. Riccardo Trespidi, no qual eram confrontada crianças vegetarianas dos cinco aos doze anos de idade com outras onívoras de idade idêntica, emergiu que a absorção de ferro pelos vegetarianos e três vezes maior daquele dos carnívoros. Isso porque a maior absorção de vitamina C pelos vegetarianos favorece a absorvência do ferro.
A vitamina B 12 é um outro elemento que denigre a dieta vegetariana e talvez seja o único ponto fraco desta. Contudo, aqueles que consomem leite, ovos e queijos, não sofrem esta carência. Esta vitamina é produzida pelos microorganismos presentes no aparato gastrintestinal dos animais não humanos e humanos, e também se encontra na superfície dos vegetais não lavados.
Entretanto, existem outras vitaminas que são absorvidas em quantidades insuficientes também pelos onívoros, como a B 6 e o ácido fólico. Por esse motivo, nos Estados Unidos da América, há mais de 40 anos grande parte dos alimentos é fortalecida com esta vitamina. Além disso, a partir de uma data mais recente, a essa integração foi acrescido o ácido fólico.
Concluindo, uma dieta vegetariana tem que assegurar um aporte calórico diário suficiente para atender a demanda energética, conseqüentemente deve contemplar todos os cereais existentes, assim como as verduras, cuidando para que a coloração de cada produto seja diferente da cor do outro. Além disso, devem ser ingeridas muitas frutas e seus sucos.
É aconselhável, ainda, o consumo de no máximo dois ovos semanalmente, preferencialmente de galinhas “felizes”, entendendo como tais às não crescidas em granjas de criação intensiva.
Fonte: Dr. Riccardo Trespidi do “Comitato Cientifico A.V.I”.

Longe de nos, entretanto, desejarmos condicionar o leitor a seguir esta ou aquela dieta, vez que em todos os demais aspectos da vida, o equilíbrio é sempre o alicerce das virtudes.
Utilizamos a premissa da dieta vegetariana para melhor explicar a razão que quase levou à morte – para não falarmos do stress - um casal de nossas relações.
Estes indivíduos, só ao pensarem em churrasco (compreende-se deste modo que mesmo se o ato de se alimentar ou beber é um hábito estratificado na personalidade, o ato de preferir, seja o que for, é uma atitude que excita, e excitando libera os hormônios do prazer, as endorfínas), se sentiam felizes, vibravam mesmo. Esta “sensação de bem estar” os levava a executar, praticamente todo fim de semana, um ritual onde o churrasco era preparado e servido o dia inteiro.
Certa feita, no sentido de orientá-los em favor de uma mudança de cardápio - mesmo porque carnes e batatas fritas compunham o menu diário – tomamos a liberdade de lembrá-los que o consumo prosseguido deste alimento, devido a gordura saturada que contém, poderia ser o estopim de enfermidades de difícil controle. Não sem uma certa dose de escárnio, responderam: Nesse mundo em que vivemos, onde tudo é difícil, se a gente não puder se conceder algumas satisfações, incluindo o churrasco de fim de semana, nem vale a pena viver.
Logo, a circunferência da cintura de ambos pôs-se a aumentar e alguns anos depois atingiram a fase da obesidade mórbida.
Tentando correr aos reparos, inicialmente optaram por regimes controlados e em seguida, por serem ineficientes, à cirurgia de redução estomacal. Tiveram sucesso, ou melhor, em termos estéticos ficaram satisfeitos, porque seu peso corporal se adequou a relação com a altura de cada um. A felicidade, contudo, foi efêmera, porque mesmo se os índices de colesterol eram satisfatórios, logo tiveram que se sujeitar a outros exames cujos resultados indicavam a existência de gordura em suas artérias. Resumindo: o marido teve que extrair as duas safenas e a esposa está sujeita a um acidente cardiovascular se não se submeter a uma cirurgia semelhante.
Mesmo assim, o perigo de um acidente vascular persiste, porque ambos, contendo muita gordura transitando em suas artérias, estão sujeitos a ele. Sim, uma eterna fonte de stress, a não ser que, aceitando conviver com o risco de perder a vida de uma hora para a outra, a morte deixe de ser temida.
Como estamos vendo, até a liberdade de agir segundo nossos anseios, isto é, de nos comportarmos segundo nossos desejos, tem que ser cerceada, porque em muitíssimos casos quando não o é a penalidade pode ser a morte.
Portanto, se nos conscientizarmos que até para garantir a nossa saúde - além da própria vida, claro, temos que obedecer a um sem número de regras impostas pela natureza, o que importa acima de tudo é conhecê-las para nos adequarmos a elas. Significa que até aquilo que depende exclusivamente de nos incorre em eventos adversos. Sim, “opostos” indesejáveis.

A respeito dos riscos contidos no churrasco, a pesquisa desenvolvida pela Universidade de Medicina “Mount Sinai”, nos Estados Unidos (publicada na revista científica “Journal os Gerontology: Medical Sciences”), é muito reveladora. Segundo ela, alimento de origem animal, por conterem gorduras saturadas, são responsáveis pelo envelhecimento precoce, insuficiência renal, diabetes, inflamações crônicas, mal de Alzheimer, acidentes cardiovasculares e outros. Não somente pela quantidade de gordura saturada que contem, mas porque o superaquecimento ao que são submetidas durante o preparo (assar, grelhar ou fritar), produz as toxinas chamadas AGEs (sigla em inglês para “produto final da glicação avançada” que, mesmo se parte delas é eliminadas pelos rins, a outra continua se acumulando no sangue. De fato, ao analisar cerca de 200 adultos acima de 45 anos, os pesquisadores constataram que neles o acumulo de AGEs no sangue em média era 35% maior do que entre os jovens. Em outras palavras, com o passar do tempo - sem escapatórias pelo menos por enquanto - o organismo, por continuar acumulando estas toxinas, está fadado a padecer as enfermidades mencionadas.

Um outro estudo, este coordenado pelo “Instituto Superiore di Sanita Italiano” em colaboração com a “University Scool of Medicine de Sant Louis, EUA”, permitiu descobrir a relação causa-efeito entre a presença de gordura abdominal e o aumento do risco de surgimento de diabetes e enfartos.
Na presença de gordura abdominal visceral se encontra uma elevada produção de moléculas inflamatórias (especificamente a interleucina 6), que são potentes fatores de risco cardiometabolico.
Explicam: nossos estudos em relação à nutrição e longevidade demonstraram pela primeira vez que existe uma relação causa-efeito entre a gordura visceral e as inflamações sistêmicas, e que, especificamente, é a produção da interleucina 6 a elevadas concentrações, na presença de gordura visceral, a elevar o risco de desenvolver a diabete mellito tipo 2 e o enfarte do miocárdio.
Isso acontece porque nas pessoas com obesidade visceral, aquelas em que predomina a gordura que se forma no interior da barriga e não nas coxas ou glúteos, as células adiposas estimulam uma condição inflamatória sistêmica com a segregação a altas concentrações da interleucina 6 (IL6), que é uma importante molécula inflamatória.
A interleucina 6, por sua vez, estimula a produção da proteína C-reativa no fígado, um outro importante fator de inflamações.
A pesquisa é o fruto do trabalho dos pesquisadores da Washington University School of Medicine de Sant Louis, coordenados por Luigi Fontana, pesquisador inserido também no Dipartamento di Sanita Alimentare e Animale dell´ Instituto superiore di Sanita Italiano.
A gordura abdominal - explica Fontana – se distribui de duas formas: Gordura abdominal subcutânea e gordura abdominal visceral (mesentério e omental).
Desde há muitos anos era conhecido o perigo da associação entre o acúmulo de gordura abdominal e o risco de desenvolver diabete mellito e enfarte do miocárdio, mas até agora ninguém conseguira demonstrar uma relação causa-efeito. Em um trabalho precedente, publicado no New Journal of Medicine, havíamos demonstrado que a acumulação de gordura ao nível abdominal subcutâneo não era um determinante sério da insulino-resistencia ou da inflamação. Em verdade, após extrair cirurgicamente 20% da gordura corpórea em mulheres obesas (acentuadamente ao nível abdominal subcutâneo), estas não haviam melhorado seu perfil metabólico e inflamatório.
Não podendo remover cirurgicamente a gordura visceral (para evitar o risco de enfarte intestinal), medimos a concentração de algumas moléculas produzidas pelas células adiposas no sangue venoso portal (sangue que a “artéria porta” conduz ao fígado depois de ter drenado o sangue do intestino da gordura visceral e do pâncreas) e no arterial-periferico.
Dessa maneira descobrimos - continua Fontana – que a concentração da IL-6 no sangue venoso portal é o dobro respeito à concentração da mesma no sangue arterial-periferico. Foi demonstrado assim que existe uma correlação entre a concentração portal de IL-6 e aquela periférica da proteína C-reativa, as duas envolvidas na patologia da insulino-resistencia (diabete mellito tipo 2) e do enfarte.
Os resultados das pesquisas indicam que para prevenir o diabete e o enfarte, o primeiro passo é levar uma vida sadia, isto é, “dieta equilibrada e exercício físico. Esta descoberta foi publicada em “Diabetes”, a principal revista da área metabólica e diabetologica.
Em relação aos A.V.C, um estudo realizado pela Universidade de Londres, publicado pela revista médica Lancet, constatou que comer mais do que cinco porções diárias de frutas, verduras e legumes, diminui o risco de derrame cerebral em até 26%.
Enquanto isso, dados da Organização Mundial de Saúde, mostram que o derrame cerebral - ou acidente vascular cerebral (AVC) - agride 15 milhões de pessoas por ano sendo a terceira principal causa de morte no mundo. Destas, cinco milhões morrem e um número identico sofre seqüelas que os torna deficientes.
De acordo com o estudo londrino, as pessoas que comem entre três e cinco porções diárias de frutas, verduras e legumes, diminuem os riscos em até 11% em comparação com quem come menos do que três porções diárias. O estudo analisou dados de mais de 275.500 pessoas compilados em oito pesquisas diferentes realizadas na Europa, Estados Unidos e Japão, concluindo que o consumo diário de mais de cinco porções de vegetais também diminui o risco de doenças cardíacas e alguns cânceres.
Os pesquisadores alertaram, ainda, que o fumo, a dieta ruim e o sedentarismo são as principais causas que levam a um derrame. Como opção de dieta, há as frutas e vegetais - ricos em nutrientes como vitamina C, betacarotenos e potássio - além de proteínas vegetais e fibras. Eles também são menos calóricos, têm pequena quantidade de gordura e contêm antioxidantes. Entretanto, os pesquisadores suspeitam que o potássio é o principal fator para evitar os derrames.
Uma pesquisa realizada por cientistas do Imperial College, de Londres, indica que uma dieta rica em legumes e verduras pode ajudar a reduzir a pressão sangüínea. Os pesquisadores, com este fim estudaram os hábitos alimentares de 4.680 pessoas com idade entre 40 e 59 anos.
Uma das conclusões da pesquisa é que os aminoácidos, proteínas e elementos químicos presentes na composição dos vegetais - como magnésio - são responsáveis por efeitos benéficos aos hipertensos.

Artéria obstruída
Fonte: Molecularlab.it (19/02/2007)

Existem muitas outras fontes de stress, mas a causa é sempre a mesma: a não aceitação do que não satisfaz, ou a não realização do que se deseja. Sempre, no entanto, “os doentes” são aqueles que, por subestimar a “força da sua mente”, deixam-se agredir pelos acontecimentos sem se empenhar para reagir.
Cada indivíduo, de acordo com a educação que recebe, com os valores que a classe social a qual pertence lhe transmite - consolidando alguns aspectos ou eliminando outros em obediência á sua experiência de vida – sempre determina, quase que intransigentemente, “a dimensão privada em que deseja viver”, ou seja, “aquilo que julga que pode ou não fazer” e as “verdades das quais não deseja se afastar”. Fatos estes que concluem para si mesmo o que pode ser aceito, aquilo que só em determinadas circunstancias pode aceitar, e o que em hipótese alguma ira aceitar..
Estas fixações, por serem o reflexo da “imagem mental” gerada pelo fluxo magnético do próprio pensamento, no tempo se fortalecem até se tornarem quase indestrutíveis, a não ser que sejam apagadas ou alteradas por circunstâncias ou situações suficientemente racionais para forçar uma reformulação conceitual. Alguns exemplos:
· A não aceitação da morte mesmo reconhecendo que é inevitável.
Por um lado temos indivíduos que sendo ou não religiosos, mesmo sabendo desde o seu nascimento que um dia tem que morrer - como morrem diariamente milhões de pessoas independentemente de serem idosas, de meia idade, moças, jovens, crianças ou fetos no útero materno - a temem a ponto de se estressarem só de pensar nela. E do outro, uma multidão de criaturas que aparentemente não a receiam porque, julgando-se em condições de enfrentá-la e vencê-la, a desafiam constantemente através da prática de esportes radicais, das drogas, do fumo, dos excessos de qualquer natureza ou simplesmente debochando dos cuidados que deveriam adotar para preservar sua saúde, até que, ao perceberem seu erro através de um acidente ou uma grave enfermidade, deflagram dentro de si mesmos um dilúvio de negatividades: culpa, medo, cólera, revolta, e agressividade, para depois despencarem em profunda depressão se não houver melhora.
Existe uma verdade estóica de Sêneca, que veremos oportunamente, que diz: a vida, para ser bem vivida, tem que ser um constante aprendizado, e este aprendizado inclui a instrução adequada para quando chegar o momento, saber morrer.
· Os desajustados.
São os que vivem estressados vinte e quatro horas por dia. Sabem que devem estar no emprego as oito da manhã, mas não se organizam para este fim. Vão para a cama de madrugada, acordam tarde, fazem seus veículos voarem, mas como diante deles sempre há um farol vermelho ou alguém que dirige sem a mesma pressa, julgam que são estes que lhe estorvam a vida. Ameaçam, vocalizam impropérios e gesticulam até que, irritadíssimos, chegam ao seu destino. Uma vez lá a azucrinação não só continua, mas sobe de intensidade, porque por terem certeza que estão certos, acham que todos os outros estão errados.
Sem estabelecer prioridades e tempos em relação às atividades que devem ser executadas, ninguém pode ser eficiente, independentemente de ser dona de casa, secretária, gerente, diretor, empresário ou o que for. Assim sendo, a falta de tempo é uma constante. Resultado: vivem sob o domínio do stress por não conseguirem fazer o que se desejam.
Definir prioridades significa dar precedência ao que deve ser feito em detrimento do que pode esperar, organizando-se, depois disso, os tempos adequados para que haja eficiência na execução das tarefas escolhidas. A partir desta coordenação – como faz o médico que em cada horário só atende o paciente agendado – só se executa a tarefa que foi programada sem se envolver com outra. A organização do trabalho seja ele qual for, trás inúmeras vantagens. Entre estas, menor cansaço mental e físico alem de maior produtividade.
· Quantas vezes ouvimos de alguém “estou feliz?”
Não obstante, literalmente falando, todos os dias são iguais chova ou faça sol. A única coisa que se altera de um dia para o outro é o nosso humor. Sendo assim, se sentimos a necessidade de externar um pensamento (quando não a sentimos estamos sendo tolerantes), qualquer que ele seja, ele sempre reflete a nossa harmonia ou o nosso caos interior. “Estou feliz” expressa alegria, paz e plena harmonização com tudo o que está ao redor. “Que horror, que saco, este tempo é insuportável, etc.”, ao contrário, é a demonstração do desconcerto vivido no momento.
O equilibrado, quando há uma tempestade, mesmo se necessita sair, aguarda que ela se afaste ou toma as precauções cabíveis para se proteger, mas o estressado, por não avaliar as conseqüências, sai de qualquer jeito.
A solidão ou isolamento para muitos também é causa de stress. Solitário, entretanto, pode não ser aquele que ao se transferir de uma cidade para outra não conhece ninguém, porque talvez faça parte daquele grupo cuja fidúcia em si mesmos é mais do que suficiente para sobrepujar quaisquer obstáculos que a vida pessoal ou profissional possa lhe reservar. Mas pode ser a pessoa que devido a um desequilíbrio qualquer, ou por não ter sido habituada desde a infância a ser responsável e confiar em si mesma (isso acontece quando os pais ou são ausentes ou superprotetores), mesmo quando está inserida em um grupo de amigos que a apreciam, continua solitária.
Alguns estudiosos chegam a afirmar que ter amigos para os quais seja possível telefonar e perguntar “o que você faria numa situação dessa” (tendo certeza que responderão sinceramente), ou então buscar forças para superar aflições, corresponde a um alento, um porto confiável para enfrentar em segurança as tempestades da vida. Chegam a citar Santo Agostinho, porque ele escreveu: “Entre os valores que mais se aproximam do amor, dos quais pode-se extrair um fluido vital, há a amizade”.
Mas, quem conhece a história do bispo de Hipona, antes e depois de deixar a África - com ênfase após sua conversão ao cristianismo - sabe que não foram às amizades que o fortaleceram porque estas sempre foram poucas. De uma forma ou de outra sempre foi um solitário, como continuou sendo quando declarou guerra os cristãos que por descordarem de seus pontos de vista considerava herege.
Sim, sempre esteve muito seguro de si mesmo, e esta certeza o levou a abandonar a humildade para ser ousado e arrogante de especial modo com o bispo Giuliano de Eclano e Pelagio Britânico.
Mesmo assim, no livro “O Poder da Amizade”, lançado no Brasil pela Editora Sextante, é citado que quem tem um grande amigo no trabalho é sete vezes mais produtivo, mais criativo e mais engajado nas propostas da empresa do que aqueles que não conseguem se relacionar com os colegas, e quem tem três bons amigos apresenta 88% de chances de ser mais feliz na vida pessoal daqueles que por serem tímidos se mantém isolados. O fato de ter amizades sólidas com os colegas de escritório, diz, ainda, aumenta em 50% as satisfações do empregado.
Em quaisquer páginas, seja de livro, caderno ou o que for, enquanto virgem, pode se escrever o que se deseja, como o texto de uma determinada obra que afirma que a revolução industrial, da qual já falamos, só foi possível graças às importações do Paraguai, sendo que este país, naquele momento, estatisticamente falando não contava mais do que 1500 habitantes.
Por isso, se ter amigos corresponde a ser criativo, produtivo e ser feliz, considerando que a amizade entre as pessoas sempre existiu, desde claro, que haja afinidades entre elas, então o mundo não seria o campo de contendas que é (a arena da qual sempre sai um derrotado estressado), onde antes ou depois, amigos ou não, todos tem que se enfrentar se querem “lutar pela posse daquilo que almejam possuir”.
Quando se fala da evolução das espécies, não se deve entender que foi um meio pelo qual a natureza aprimorou, ao longo do tempo, os grupos - animais ou vegetais - que hoje vicejam no nosso Planeta, porque esta continua e persistirá a implementar aperfeiçoamentos em todas as formas de vida, ou a alterar no seu todo ou em parte (até que as construções celulares o permitam), todos os seres.
Desta forma, no habitat em que vivemos, como sempre foi, aliás, só sobrevivem (mesmo com a medicina e seus fármacos), tão somente os seres - o homem é um deles - que melhor se adaptarem às mudanças que a humanidade para atender seus anseios insiste em implementar. Como Charles Darwin afirmou (ratificado por aqueles que lhe seguem os passos): os seres vivos não surgiram prontos na forma em que os conhecemos, sempre se modificaram, e em muitos casos se extinguiram.
Ele, raciocinando inspirado pelas suas pesquisas, disse: Os animais – incluindo o homem - que descendem todos de um ser primordial - vivem numa luta continua pela sobrevivência e pela reprodução. Aqueles cujas características lhe permitem se adaptar mais facilmente ao ambiente em que vivem, “sobrepujarão sempre seus rivais na arena de todas as disputas”.
Os vencedores são os que, através do permanente esforço para superar seus limites diante dos desafios que lhe enriquecem a existência, transformam a si mesmos física e mentalmente. Estes, assim agindo, modificam-se até geneticamente e desse modo transmitem aos seus descendentes seus aprimoramentos que por sua vez os passarão para as gerações seguintes.
O homem, jamais foi chamado a se esforçar como hoje (não que seja imprescindível, porque de uma forma ou de outra consegue sobreviver), mas porque não consegue mais, por se ter viciado, viver satisfeito se não consegue ampliar sucessivamente o conforto que se acostumou a ter.
É esse perpetuo e insano duelo, como se o mundo em que vive continuasse a ser a savana de outrora, que trás em si perigos que, por não saber avaliá-los, o surpreendem com situações para as quais não quis se preparar. Mesmo assim, continua dedicando a maior parte do seu tempo à vida profissional, esforçando-se na perseguição de “taxas de retorno” cada vez mais altas, reduzindo, na contra partida obrigatória, o tempo que dedica à família, ao lazer e, em uma linha de responsabilidade maior, a saúde.
No pretérito, no que diz respeito a estes quesitos, o homem destinava a maior parte do seu tempo à busca de alimento: nutria-se de tubérculos, frutas, e só mais tarde implementou sua dieta com carne, porque à caça, para se tornar eficiente e desnuda dos riscos que lhe eram inerentes, exigiu o desenvolvimento de armas e estratégias cada vez mais aperfeiçoadas. Saciada a fome, a pele dos animais transformou-se em roupas e abrigos contra o frio. A gruta substituiu o asilo primário e no tempo, aperfeiçoando a habitabilidade, teve protegida sua entrada por amontoados de pedras para resguardá-la do frio e dos predadores.
Depois que dominou o fogo, as chamas serviram para aquecer e iluminar o ambiente além de consentir cozer o que até então havia sido consumido cru. Serviu ainda para afastar do lar os grandes predadores.
Com os minerais surgiu o sal, os metais, e com estes últimos às armas para caçar e guerrear. A gruta foi substituída pela casa de juncos, de madeira e terra, de tijolo, de cimento, concreto e com este, apartamentos nos arranha-céus.
Foi inventada a roda, a tração animal, o carro, a fabricação em série... Bem, já tivemos a revolução industrial, o avião, a lua, as estrelas o foguete e a nave interplanetária. Neste percurso, só os mais fortes sobreviveram.
Não os robustos de estrutura óssea e massa muscular, mas os que, utilizando a razão, se acautelaram diante da precipitação, desviaram-se dos costumes temerários, fugiram dos riscos que ameaçam sua sobrevivência e, diante das opções que se materializaram, nem sempre escolheram as que melhor remuneravam, salvaguardado desta forma a própria integridade.
Os fracos (nesse caso os que se desobrigam de valer-se da a razão), além de se perpetuarem como vítimas, quando tomam conhecimento que fulano ou sicrano morreu de enfarte, derrame, ou por outra moléstia qualquer, coitado, limitam-se a dizer, ele não merecia isso. No entanto, como há sempre uma causa, foi essa que, por não ter sido vencida, provocou os efeitos que causaram a morte.
Poucos se dão conta que independentemente do órgão que a provocou: coração, pulmões, fígado, cérebro, pâncreas, rins etc.etc., a verdade é que a maioria dos que morrem sem ter chegado à fronteira da terceira idade prosseguem sendo vítimas da perene e inexorável seleção da natureza. Sim, o stress - a enfermidade do século – pode ser considerado a mais nova metodologia de seleção da mãe natureza.
As vítimas do stress, do álcool, do fumo, como as do trânsito ou da maioria dos demais acidentes (claro, se não estiverem enfermas mentalmente), são pessoas que, por se terem acostumado a manter a mente em estado letárgico, agem automaticamente, ou seja, por impulsos irrefletidos, logo, não submisso ao crivo da razão. Equivalem ao desempenho de um “sensor” que, programado para uma determinada tarefa - por ser burro - a executa mesmo quando desnecessário.
Por exemplo, quando um sensor é destinado a fechar a capota de um conversível para evitar que a chuva molhe seu interior, a fecha mesmo em um dia de intenso sol se sobre ele caírem algumas gotas do refrigerante que foi aberto para matar a sede de quem o dirige.

Esta “preguiça mental”, ou talvez inaptidão para explorar os recursos da própria mente, leva muitos indivíduos a pratica de atos que, por serem irrefletidos, são inconscientes, e por o serem, levianos e irresponsáveis. Em outras palavras, as pessoas se deixam levar por “comodismos”, sejam eles vícios, esportes radicais, ou qualquer outro risco porque se tornaram incapacitadas a assumir compromissos morais ou materiais que sejam, mesmo quando estes na contra partida habilitam derrotas, enfermidades, são prejudiciais a saúde ou até podem ser um atalho para a morte.

Ratificamos: falecimento do cônjuge. Divórcio ou separação. Falecimento de familiar. Acidente com mutilação. Enfermidade considerada terminal. Perda de emprego. Aposentadoria. Mau relacionamento na família. Problemas com os filhos. Gravidez. Sexo não prazeroso. Nascimento de filho. Problemas financeiros. Morte de amigo próximo. Hipoteca ou empréstimo. Filhos que deixam o lar. Início ou término de aulas. Exames. Problemas com os superiores etc. são fontes de stress.
Contudo, a razão é sempre a mesma: certas pessoas, diante de situações que devido a sua cultura pessoal (hábitos mentais até então adotado) consideram que são um beco sem saída, entram em uma espécie de embargo psicológico e dele não saem até o momento em que, se ninguém aparece que mereça integralmente sua confiança para agarrar sua mão, findam seus dias “afogando-se” na amargura do seu desespero.
Hábitos mentais até então adotados? Cada pessoa, em obediência à educação que recebeu, aos valores que a classe social a qual pertence lhe transmitiu - implementando alguns aspectos ou eliminando outros por se subordinar às experiências vividas - determina para si mesmo, e consolida no tempo, uma “dimensão psicológica pessoal”. Dimensão cujos parâmetros basicamente são estabelecidos pelo que se predispõe a aceitar, pelas situações que em determinadas circunstancia pode até aceitar, e pelas demais que em nenhuma hipótese aceitará. Mas o que significa “aceitar”?
Há alguns anos, por algum tempo mantivemos um relacionamento com uma senhora cujo filho, de aproximadamente 20 anos, estava ficando cego devido a uma enfermidade congênita (ainda sem cura) que se perpetuava entre os descendentes da mesma família há alguns séculos. O primeiro caso dera-se na Itália e, como após a escravatura um neto migrou para o Brasil, trouxe a esta terra o gene que se responsabilizou pela disseminação da saga nesse continente. Este jovem era uma de suas vítimas.
Eu não aceito que meu filho fique cego, bradava alto e bom tom esta mãe, e seus gritos ecoaram com tanta intensidade que, enquanto da Itália chegavam cientistas para estudar a enfermidade com o objetivo de desenvolver um antídoto, redigiu e publico um livro relatando as vicissitudes da estirpe e a revista Veja deu destaque do caso em suas páginas.
O “não aceito” dessa mãe, todavia, em relação à cegueira do filho teve que ser refreado, porque tempo depois os cientistas informaram que, mesmo tendo sucesso em seu tentame, necessitariam de um número indeterminado de anos para desenvolver uma vacina, testá-la e posteriormente obter autorização para produzi-lo e utilizá-la.
Entendamos. O desespero dessa mãe não iniciou ao perceber que o filho havia sido envolvido pela moléstia, mas vinte anos antes quando teve ciência que engravidara, vez que a partir daquele instante, por temer que o fruto de seu ventre se tornasse mais uma vítima, em nenhum momento conseguiu dominar a angústia que a envolvia. Amargura esta que lhe propiciou inúmeras outras complicações.
Esta fatalidade, como um ciclone arrasava há gerações a compreensão e o bom relacionamento entre pais, filhos, irmãos, tios, primos etc., a ponto de alguns, diante deste fadário, se recusarem a casar, culpavam seus parentes pelo infortúnio, separavam-se ou evitavam procriar.
Este “desassossego”, contrariando as expectativas, ao invés de se assentar após ouvir dos pesquisadores que necessitavam “de um tempo” para tentar chegar à raiz do problema, cresceu de intensidade, porque quando a esperança da solução imediata se dissolveu, a revolta uníssona foi o estopim para a eclosão de inúmeras outras desavenças, porque enquanto alguns familiares passaram a aceitar a sina como uma fatalidade, um destino cruel e imutável, outros, liderados por esta senhora, continuaram agitando o estandarte da não aceitação.
Meses depois, esta senhora deixou de nos procurar porque enquanto lhe sugeríamos que raciocinasse, que usasse a razão para entender e aceitar que diante daquele cenário a única alternativa era se resignar, torcendo, porém, para que do outro lado do oceano uma solução aparecesse, e assim fazendo, restabelecesse seu equilíbrio psíquico para continuar garimpando alternativas onde quer que fosse, continuando sua luta sem abandonar a esperança de sucesso, ela continuava guerreando com mundo: professores, escolas, médicos etc. por entender que estas instituições estavam marginalizando o filho.
O termo “aceitar” é confundido por muito como sendo uma “entrega total e irreversível" diante de uma força maior, “uma ruína inglória e derradeira” imposta por uma força inquebrantável. Nem sempre é isso.
Para evitar o “peso emocional”, isto é, o “impasse psicológico” que é causado por um evento desfavorável: perda de um ser querido, desemprego, abandono, problemas de relacionamento, mau negócio, enfermidade etc., em outras palavras, daquele estado de coisas em que por mais que se pense a respeito parece que não há saída, só há uma alternativa: aceitá-lo.
· A perda de um ser querido tem que ser aceita plenamente porque a vida é consecutivamente limitada pela morte, independentemente da idade que a criatura contabiliza quando da sua extinção. Á dor que decorre - lógica e admirável por ser conseqüência de um apego sincero - jamais deve ser conseqüência de emoções impulsivas, mas fruto de uma meditação coerente. A resignação, conseqüentemente - considerando que o fato em si é irrecorrível e irreversível - deve se contrapor à revolta e ao desespero, mesmo porque o amor, por ser um sentimento, pode persistir sendo cultivado no coração daqueles que permanecem.
A causa do decesso também é irrelevante, vez que o número resultante da violência urbana é muito inferior ao que tem origem no descuido da saúde, entendendo como tal a má alimentação, o sedentarismo, os vícios e os esportes radicais.
Se alguém falece devido a um enfarte fulminante, ou aguardando um coração enquanto não aparece um doador, a morte não pode ser causa de um “impasse psíquico”, porque foi o desfecho de um episódio que poderia ter sido evitado ou remediado, vez que a gordura que se acumula nas artérias não se deposita ali “por azar”, mas exclusivamente devido à uma dieta errada, agravada muitas vezes pelo fumo de cigarros e com certeza pela ausência de exercícios físicos.
Por outro lado, o que resta á família de um motorista “descuidado” (excesso de bebida alcoólica, stress, velocidade exagerada etc), além de aceitar a ocorrência e se resignar a ela? Nada...Contudo, se no “cenário do acidente” houver alguém passível de ser transformado em culpado, de imediato procura um advogado para “amenizar a dor por meio de uma polpuda indenização”. Nesses casos o embarque psíquico, se houver, é imediatamente superado.
· Ser demitido, independentemente das circunstâncias causaram o evento ou da situação econômica daquele que foi exonerado, no mundo moderno é um fato corriqueiro e como tal deve ser encarado. Mesmo porque há até o desemprego tecnológico, aquele que incide quando uma única máquina é mais eficiente do que 50 funcionários.
A partir dessa realidade, agravada, ainda, por centenas de outras influências de ordem econômica ou de competitividade, o cidadão de qualquer país - já partir da sua estréia no mercado de trabalho - tem que dar início a um projeto que lhe permita afrontar, se for o caso, seis ou mais meses sem salário. De que maneira? Aplicando parte do que recebe em um “fundo desemprego”.
Isto, contudo, não é suficiente. Há necessidade de um plano profissionalizante, isto é, fixar objetivos: especializações, estudo de línguas, cursar faculdades, pós-graduações etc., porque todos sabemos que o funcionário mais preparado só em último caso é demitido, e quando o é, habitualmente é o primeiro a ser escolhido para um novo posto de trabalho. Nesse cenário, como estamos vendo, não há espaço para o “embaraço psíquico”. Este só atinge aqueles que vivem o “hoje” sem se preocupar com o “amanhã”.
Conhecemos pessoas que após se formarem em direito se diplomaram em administração de empresas e hoje - além de falarem e escreverem algumas línguas - cursam psicologia. Por que? Porque os dias continuam transcorrendo não se importando se estamos bebericando, discorrendo a respeito de futilidades, deitados no sofá diante da TV ou ampliando nossos conhecimentos.
· O abandono. De uma hora para outra um dos cônjuges comunica aà sua até então cara metade que, por não mais amá-la, lhe é impossível permanecer ao seu lado. Esta é uma das formulas. A escolha do momento considerado apropriado, todavia, reveste-se de requintes especiais: a meia noite do dia 31 de dezembro tomando uma taça de champanhe no hotel em que foram transcorrer esta data. Na primeira noite em casa, após retornar de uma excursão pela Europa. Durante um jantar em um bom restaurante ou então no momento em que outro o procura para um carinho mais íntimo. “Me perdoa, mas continuar ao seu lado tornou-se insuportável. Como a culpa deve ser minha, me esforcei para evitar este momento. Não consegui”. Vou embora e amanhã volto para pegar minhas coisas.
O atingido, naquele momento tem a sensação que de repente lhe faltou o chão sob os pés. Segundos depois, desnorteado, perde seus horizontes. Lágrimas lhe sulcam a face, há soluços, e em seguida é envolvido por uma agonia indescritível que segundo lhe parece jamais terá fim. “O que faço agora, minha vida não tem mais sentido”, pergunta-se. É o embargo psicológico, aquela fase em que, mesmo pensando em tudo, parece que não há mais saída.
Esta é a reflexão de quem foi abandonado, porque quem praticou o repúdio, por ter finalmente conseguido fazer o que desejava, sente-se aliviado e de certa forma feliz.
Estes minutos cruéis, no entanto, assim como a parte que se afastou, não são os únicos responsáveis pela quebra do laço que até então parecia inquebrantável, vez que o dolo recai no momento em que, muitos anos antes, os dois permitiram que acontecesse a primeira “rachadura”.
Rachadura? Sim, corresponde ao momento em que pela primeira vez houve um “conflito mal resolvido”, entendendo como tal “aquele episódio” em que as partes não se preocuparam em resolver, não souberam fazê-lo ou então preferiram se manterem à margem do assunto.
Em uma relação a dois, um “conflito mal resolvido” equivale a uma pedra no sapato. Machuca, mas é razoável pensar em continuar a caminhada sem retirá-la quando se tem a esperança que, “acomodando-se”, deixe de enxovalhar. Contudo, se isso não acontece sua presença se torna insuportável. Se houver mais do que uma pedra, então...
“Conflitos mal resolvidos” na vida de um casal pode haver muitos, mas rotineiramente é sempre uma das partes que causa a maior parte deles. Desse modo, consciente ou não, ela é a responsável pelo efeito “última gota”, aquele que “faz entornar o caldo”. As razões são incontáveis: ciúme, desconfiança, egoísmo, consumismo, interesses outros, não fazer sua parte na relação etc.etc. Sim, na maioria das vezes é o “modo de ser” do abandonado que desperta no cônjuge o desejo de deixá-lo.
Porque? Na sua insensatez, por se julgar o mais sábio, se recusar a analisar ou medir o “peso de seus erros”. Mais uma vez não há porque não aceitar o evento.
· Os problemas de relacionamento comumente têm vez quando uma das partes (ou ambas), “não aceita” o modo de ser da outra, esquecendo que assim como não há duas digitais, duas íris ou dois organismos idênticos (vide rejeição dos órgãos transplantados), não há dois seres iguais no modo de ver as coisas, agir, pensar ou se relacionar. Desse modo - especialmente entre os membros adultos da mesma família - não pode existir intransigência, mas a negociação, por ser o único método que consente que pessoas com “ideais” distintos encontrem um ponto de convergência para seus interesses.
Aos pais em conflito com os filhos, ou vice versa - por exemplo, lembramos que “não existe cidadela inexpugnável, somente bem defendida”. Logo, não digam: “fiz tudo o que me era possível, e até o impossível, para nos entendermos”, porque o simples fato da “cidadela não ter sido conquistada”, demonstra que a estratégia utilizada para a abordagem foi mal planejada.
Deste cenário excluímos os conflitos que até hoje, no terceiro milênio, são motivados por pais que não “aceitam” aquela moça como namorada do filho, ou aquele rapaz como namorado da filha, porque eles não devem persistir. Entrincheirar-se sob o “brasão” da família para, por exemplo, dizer: “filha, eu não quero que você case com aquele rapaz porque ele não vai te fazer feliz”, é uma covardia. A vida da filha ou do filho, quando maiores e emancipados pertence a eles, e não aos pais. Sua obrigação era educá-los, e se o fizeram convenientemente, ali termina a sua responsabilidade. Por conseguinte, deixaram de ter a obrigação, assim como o direito de se intrometer. Quando o fazem, além de não terem sucesso em seu intento, por perderem o convívio e o carinho dos filhos, acabam sofrendo a dor do arrependimento.
· Mau negócio. Conhecemos um senhor de aproximadamente 50 anos que se tornou dependente de antidepressivos porque mesmo com a assistência que procurou e teve, não soube sair do “embargo psíquico” ocasionado por um mau negócio que realizou.
Mesmo sendo há longo tempo comerciante - conhecedor, conseqüentemente, “das tramóias que são praticadas no mercado” - aceitou sem questionar um pedido de matéria prima no valor de R$. 100.000,00 que não possuía e, depois de adquiri-la por R$. 85.000,00, a entregou. Seu cliente, entretanto, mesmo conhecido, de posse da mercadoria solicitou e teve a concordata homologada, e a sua empresa, que dependia do recebimento para pagar o fornecedor, teve a falência decretada...Entretanto, sabemos que a primeira lei “em qualquer jogo”, diz que jamais devem ser apostadas todas as fichas em uma única jogada.
· Enfermidade. Para dar um exemplo que cremos similar a milhares de outros, citamos o caso de uma esposa e três filhos menores que, após perder o marido (um executivo que sustentava a família) por causa de um câncer generalizado cujas metástases se espalharam a partir de um pulmão (era um fumante inveterado), não somente teve que deixar a vida relativamente abastada para viver na penúria, mas suas dificuldades se ampliaram porque, não aceitando o acontecido, tornando-se mais uma vítima de um “nó psicológico”, somatizou. Isto é, sua psique, em pane, transmitindo seu desconcerto ao organismo, o capacitou a desenvolver inúmeras enfermidades.
Estas poderiam ser evitadas? Sim. Se a perda do marido e a conseqüente dificuldade financeira tivessem sido aceitas com galhardia, mesmo havendo um acréscimo de cansaço físico (o trabalho exerno acrescido às tarefas de gerenciamento do lar e dos filhos), a psique não teria entrado em colapso.
Fumante inveterado, dissemos. Mas estamos cientes do porque os fabricantes de cigarros são obrigados a imprimir em cada maço uma imagem que só de olhar causa calafrios? Ou porque a cada dia que passa, em qualquer país, os locais públicos onde é permitido fumar cigarros são cada vez mais reduzidos? Não, não estamos. Porque se estivéssemos não haveria tantos fumantes (especialmente adolescentes), e tantas famílias desarrimadas por causa das graves enfermidades que assolam os pais fumantes ou porque estes já se foram.

Efeitos do fumo de cigarro: – O fumo do cigarro representa uma das mais importantes causas evitáveis de morte por doenças obstrutivas crônicas, carcinoma pulmonar e acidentes cardiovasculares, acolá de ser responsável por numerosas complicações do aparelho gastro-intestinal, do sistema reprodutivo masculino e feminino, e da gestante ao longo da sua gravidez. A fumaça do tabaco é composta por mais de 4.500 substâncias, cuja maior parte resulta ser extremamente danosa ao organismo humano. Entre estas o alcatrão, aquele resíduo gorduroso e escuro que é produzido pela combustão do tabaco que, acumulando-se nos pulmões, se torna à causa principal do câncer pulmonar, enquanto substâncias como a acroleina, os fenóis e o ácido cianídrico, são responsáveis pelas enfermidades pulmonares crônicas. A nicotina, contudo, não fica atrás: além de ser a verdadeira responsável pela dependência farmacológica do fumo do cigarro, provoca alterações taquicardiacas graves, é vasoconstritora, e é a substancia que causa hipertensão arterial e a degeneração dos vasos sanguíneos.
Além disso, em relação ao chamado “fumo passivo”, também foi sobejamente demonstrado que é muito danoso para as pessoas que são obrigadas a inalá-lo; as crianças a ele expostas, por exemplo, manifestam um incremento das infecções do aparato respiratório, e em certos casos chegam a predispor um aumento da prevalência de asma dos brônquios; os adultos asmáticos, ao contrário, são levados a situações que não só passam a exigir o uso de corticoides, mas internações hospitalares.
Segundo uma das mais recentes estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de um terço da população mundial dedica-se ao tabagismo, e este é incriminado por cerca de 2 milhões de mortos anualmente. Existe uma estreita correlação entre os dependentes do cigarro e os expostos á fumaça deste, com o aumento da mortandade, que por sua vez está relacionada a idade em que se começou a fumar, ou inalar indiretamente o fumo, e ao número de anos que esta prática foi mantida. Nos últimos anos foi demonstrado que a suspensão do fumo, corresponde uma evidente redução do incremento de mortalidade. Estas observações, agregadas a inúmeros estudos clínicos e experimentais, indicam que o fumo é responsável pelo aumento da mortalidade por vícios voluntários.

No aparato respiratório: - O fumo de cigarro reduz as defesas mecânicas e biológicas do aparato respiratório, expondo assim os fumantes a uma maior freqüência de infecções respiratórias. Ele ainda pode alterar a estrutura, bem como a função pulmonar, porque provoca a hipertrofia, que é o aumento dos volumes das glândulas da mucosa dos brônquios, aliada a uma destruição progressiva do aparato muco-ciliar, aparato este destinado a remover os eventuais agentes estranhos e resíduos celulares que são à base das infecções respiratórias.
Esta condição, do ponto de vista da sintomologia, provoca tosse com emissão de expectorante mucoso - às vezes mucopurulento - por três meses ao ano e por dois anos consecutivos, em outras palavras, uma bronquite crônica causada por infecção bacteriológica pregressa.
Estas alterações clínico-funcionais determinam em breve tempo uma acelerada redução do volume expiratório máximo no primeiro segundo (VEMS), ou seja, o volume máximo de ar que um individuo pode aspirar através de um ato expiratório forçado, no primeiro segundo após os pulmões terem atingido a plena capacidade de contenção de oxigênio, o que significa que as vias aéreas que controlam o maior volume de ar que penetra no sistema respiratório está em estado precário.
O declínio desta função respiratória depende da quantidade de cigarros fumados, ou, esclarecendo melhor, mais cigarros são fumados, mais evidente é o risco de deflagrar uma bronquite crônica. Essa redução da função respiratória causa, no tempo, uma lenta destruição dos espaços aéreos distais dos bronquíolos - ramificações terminais dos brônquios - enfisemas. Esta enfermidade determina uma progressiva dificuldade respiratória – dispnéia - a qual o paciente na fase inicial não da importância, mas que, depois de um longo período de tempo, ou para definitivamente de fumar, ou se transforma em uma insuficiência respiratória crônica que passa a exigir oxigenoterapia domiciliar.
Fumar, então, provoca o envelhecimento precoce do aparato respiratório, enquanto a eliminação do vício garante uma gradual regressão dos sintomas respiratórios, mas, sobretudo, a recuperação da função pulmonar. Em verdade, só depois de um mês é que a tosse começa a declinar assim como a dificuldade respiratória, enquanto a respiração sibilante tende a desaparecer totalmente depois de seis anos. Os benefícios, todavia, não se encerram aqui. Passados dez anos do momento em que se parou de fumar, o risco de surgimento de neoplasias nas vias aéreas se reduz à metade.

No aparato cardiovascular: - O fumo de cigarro é responsável pelo aparecimento precoce no aparato cardiovascular da cardiopatia isquêmica, que representa, com a hipertensão e a deslipidemia, um importante fator de risco que o indivíduo pode eliminar abandonando o vício. Existe uma estreita correlação “dose-dependente” entre o fumo de cigarro e o surgimento da cardiopatia isquêmica.
Nos machos fumantes o risco de cardiopatia isquêmica é maior de 60%-70% em relação aos não fumantes.A primeira manifestação da cardiopatia isquêmica, nos indivíduos com pré-disposição, pode até ser a morte improvisa, e a probabilidade que esta aconteça, nos fumantes mais jovens, é entre duas a quatro vezes mais elevada em relação aos não fumantes.
As mulheres fumantes também têm um risco maior de desenvolver a cardiopatia isquêmica em relação às não fumantes, e quando estas utilizam ao mesmo tempo contraceptivos orais, particularmente as maiores de 35 anos, o risco aumenta em cerca de dez vezes.
Tem mais. Quem continua fumando depois de um enfarte agudo do miocárdio tem uma probabilidade de morte por cardiopatia isquêmica muito maior em relação aos que param definitivamente de fumar.
O fumo do cigarro, devido à nicotina - um potente alcalóide dotado de propriedade taquicartizante e vasoconstritora - reduz o fluxo coronário, favorece a arteriosclerose coronária e os eventos coronários agudos do tipo isquêmico, trombotico e arrítmico.
Alguns estudos epidemiológicos elaborados em larga escala demonstraram, seja nos homens como nas mulheres, um aumento do risco de eventos cérebros-vasculares nos fumantes em relação aos não fumantes. Entre as mulheres, um importante evento cérebro-vascular como a hemorragia subaracnóidea, se verifica, maiormente entre as fumantes em relação às não fumantes, sendo que o risco mais uma vez aumenta acentuadamente quando há associação do fumo com o uso de contraceptivos orais.
O fumo de cigarro agrava ainda as isquemias periféricas, a que acontece nos membros inferiores, e pode ainda interferir negativamente no caso da implantação de um by-pass periférico.
O percentual de mortandade devido a aneurisma na aorta de origem arterioesclerotica, é maior nos homens fumantes em relação aos não fumantes.
O fumo de cigarro, ainda, devido à nicotina, como vimos uma substância taquicartizante e vasoconstritora, representa um importante fator de risco também para o surgimento da hipertensão.
Nos indivíduos hipertensos que fumam, além disso, o risco de surgimento de graves problemas no aparato gastroenterológico, da hipertensão maligna e de decessos por hipertensão, é muito maior em relação aos hipertensos que não fumam.
O fumo de cigarro induz os indivíduos fumantes, em relação aos não fumantes, a uma maior prevalência de úlcera gástrica e duodenal, pela qual a mortalidade pela complicação mais seria, a hemorragia gástrica, é por redundância muito maior entre os homens fumantes do que nos não fumantes.
O fumo retarda a cura espontânea e farmacológica da úlcera gastroduenal, aumenta a probabilidade de reincidência desta mesma úlcera, inibe a secreção pancreática dos bicarbonatos e reduz o tônus dos sfinteros pilóricos e esofágicos, predispondo assim à “síndrome do refluxo gastresofágico” caracterizado pela sensação de queimação retrosternal – pirose – que é a regurgitação ácida e eructação.
O fumo, enfim, provoca o surgimento de uma importante enfermidade inflamatória crônica, a doença de Crohn, que envolve a última seção do intestino tênue, o íleo, em muitos casos conhecido como “íleo terminal”.

No aparato reprodutivo masculino e feminino: - O fumo de cigarro no aparato reprodutivo masculino, em médio prazo, representa – somado ao stress e ao excessivo consumo de bebidas alcoólicas - um importante fator de risco para a disfunção erétil. Enquanto os efeitos do fumo de cigarros no aparato reprodutivo feminino induzem, no tempo, através dos hidrocarburos aromáticos policíclicos, à morte prematura dos óvulos e das células uvárias prepostas à fecundação, impedindo de vez o regular processo de fecundação.
Pode-se afirmar, com certeza, que as mulheres fumantes são geralmente menos férteis das não fumantes, e além disso, a menopausa, ou seja, o período em que se verifica a última menstruação - indicando o fim do inteiro ciclo reprodutivo da mulher - acontece cerca de cinco anos antes da idade média que se situa por volta dos 48 anos, antecipando, portanto, aqueles sintomas que tanto aborrecem e preocupam, que são as chamadas ondas de calor, sudoração, palpitações, vertigens, depressão, deslipidemia, hipertensão arterial sistólica e osteoporose.

Em relação à gravidez: – O fumo de cigarro pode retardar a concepção e durante a gravidez pode interferir negativamente no desenvolvimento do feto. Durante a gestação, o fumo de cigarro pode provocar a gravidez ectópica, ou seja, extra-uterina, que se traduz em más formações fetais, abortos espontâneos, morte do feto intra-uterina e síndrome de morte improvisa do recém nascido.
Este último aspecto aumenta acentuadamente se a gravidez já era de alto risco por outras causas como a cardiopatia congênita, diabete gestacional, deslipidemias mesmo familiares, e hipertensão sistólica e distólica.
O peso dos recém-nascidos gerados por mães que fumam durante a gravidez é menor, mediamente em 200 gramas, em relação aos que nascem de mães que não fumam durante a gestação. Esta é provavelmente uma conseqüência da reduzida circulação no útero placentar. Fumar durante a gravidez pode interferir negativamente ainda no desenvolvimento psicossomático da criança.


Rins
Coração
Ossos
Pênis
Bexiga
Sist.Reprodutivo
Sist. SrccCirculatório
Ap.Digestivo
Pulmão
Nariz
Laringe
Boca
Cérebrooooooooo
Enfermidades provocadas pelo fumo de cigarro

Enfarte do miocárdio; Angina pectoris; Hipertensão; Arteriosclerose; Acidente vascular cerebral; Tromboangeite obliterante; Bronquite crônica; Enfisema pulmonar; Gripe; Pneumonia por Legionella pneumophila; Pneumonia por Branhamella catarrhalis; Pneumonia a colesterol; Tuberculose; Câncer do pulmão; Câncer de boca; Câncer da faringe; Amidalite; Otite; Sinusite; Morte súbita; Sindactilia; Estrabismo; Lábio leporino; Prenhez tubária; Aborto; Descolamento precoce da placenta; Placenta prévia; Diabete; Periodontite; Câncer da laringe; Câncer do esôfago; Câncer do estomago; Câncer do pâncreas; Câncer da bexiga; Câncer dos rins; Leucemia mieloide; Câncer do colo do útero; Câncer da mama; Doença de Crohn (Mycobacteria paratuberculosis); Úlcera do estomago; Úlcera do duodeno; Osteoartrite; Osteoporose; Catarata; Estomatite; Bronquite; Pneumonia; Câncer da pleura; Aneurisma da aorta; aneurisma abdominal; Câncer da próstata; Câncer do intestino; Câncer do reto; Linfomas; Menopausa precoce; Derrame suboracnoide na mulher com associação de anovulatórios.

Quando asseveramos que o único jeito de “driblar o stress” é acolher os eventos adversos do mesmo modo que o são os aprazíveis, isto é, gerenciando as emoções que lhe são pertinentes, queremos dizer que, ou nos disciplinamos para agir assim, ou todas às vezes que tivermos que nos defrontar com “alguma coisa ou situação” que pelos padrões que desenvolvemos “não é aceitável”, o choque emocional correspondente - além de “provocar um apagão na acuidade que nos é natural” (desarmonia da psique com as conseqüentes bizarrices próprias dos estressados), neutraliza os defensores do organismo (glóbulos brancos), favorecendo dessa maneira a proliferação dos agressores que sempre estão a espreita: bactérias, vírus etc.
Jamais se deve abrir mão de gerenciar racionalmente as emoções, sejam elas despertadas por eventos felizes ou infelizes, porque em ambos os casos a penalização é a desdita.
Ganhar 50 milhões na mega sena, por exemplo, e em seguida começar o dispêndio guiado tão somente pelos anseios retidos, isto é, sem planejar o que se deseja de fato, profissionalizando-se, quando é o caso, antes de começar a exercer a atividade escolhida, significa, como infelizmente é averiguado, perder em poucos anos os cinqüenta milhões recebidos.
Por outro lado, enquanto a não administração do período pós-desemprego, por exemplo, pode até transformar um executivo em um dependente alcoólico, impedindo-o, por esse motivo, de ser reconduzido ao mesmo cargo em outra empresa, um planejamento ótimal das atividades que devem ser desenvolvidas nesta fase, pode levar o gerente demitido a exercer uma função de maior relevância em outra organização.

Aceitação ou resignação estóica são conceituações que as classes que se julgam eruditas ridicularizam, por entenderem que se referem a uma capitulação final e irrestrita. Entretanto, diante da morte, por exemplo, ou de muitos outros casos semelhante aos mencionados, ser estóico equivale a não se estressar mesmo diante das circunstancias mais agressivas que vez ou outra embaraçam a existência.
Aceitar uma derrota em “qualquer campo de batalha” pode ser uma inigualável estratégia para auferir do tempo necessário para se preparar para “ganhar a guerra”. Quantas vezes o perdedor de ontem é o vencedor do amanhã?
Resignar-se tem o mesmo significado, visto que é freqüentemente inteligível recorrer a esta pratica quando “a situação que for” naquele momento é invencível, é tanto ruim como imutável, ou ainda quando o “preço da mudança” é impagável.
Em tratamentos psicoterapeuticos, no entanto, o contrário é possível, porque para que a terapia tenha sucesso, pode ser necessário que o paciente tenha que aceitar circunstâncias ou atitudes pessoais que repudia, sejam elas quais forem. Ao mesmo tempo, o psicoterapeuta pode exigir do paciente a diminuição da sua resignação em relação a certos aspectos, se considera que é tolerante ou submisso demais em relação a eles.
Noções de aceitação são proeminentes em muitas religiões, especialmente as cristãs. Os Hinduístas e Budistas, por exemplo, convidam a aceitar o sofrimento como parte integrante da vida, porque sofrer é sinônimo de espiar os desacertos das vidas passadas.
A mesma coisa é ensinada pelo Kardecismo, sendo que este afiança, ainda, que o planeta Terra (conseqüentemente todos os que nele habitam), se encontra no seu segundo ciclo, a fase de expiações e provas, aguardando o fim do III milênio para evoluir para o terceiro período que é o de regeneração. Uma nova etapa, considerando que neste orbe só permanecerão aqueles que o merecerem, em outras palavras, que tiverem se esforçado para crescer moral e espiritualmente como a fase de regeneração requer. Este novo “clima”, em relação ao atual, não incluirá as penúrias hoje existentes.
As três doutrinas dizem textualmente que o homem não se deve “revoltar” diante das agruras que permeiam sua vida, porque estas são ditadas pelas obras que foram praticadas ao longo das vidas passadas. Entendamos, não pregam que as “agruras devam ser aceitas resignadamente porque fazem parte do destino que é imutável”. Ao contrário, esclarecem que diante destas o homem não deve se revoltar, amargurar ou perturbar, porque se assim fizer perde sua capacidade de continuar racional, de usar sua inteligência para, continuando a fazer da melhor forma possível sua parte, se manter habilitado a percorrer os caminhos disponíveis para atingir suas metas. Veremos posteriormente que estes conceitos também eram defendidos pelos Estóicos. Sêneca, por exemplo.
O que isso tudo tem a ver com o stress? Vamos, então, retornar ao caso daquela senhora que gritou: “não aceito que meu filho fique cego”. Seu brado foi o reflexo de seus instintos, como sabemos, os primeiros movimentos que impulsionam homens e animais em seus procedimentos. Uma ação automática e irrefletida - irracional, portanto, na qual o homem que é dotado da razão, abdica integralmente dela para se comportar como faz seu primo o chimpanzé.
Mesmo assim, as atividades que escoltaram o “não aceito” dessa senhora foram assaz louváveis, porque mesmo perturbada arregaçou as mangas e com seu esforço superou obstáculos e realizou coisas que até então nenhuma outra mãe, diante de enunciado idêntico, havia conseguido. Sua perturbação, entretanto, conseqüência do embargo psíquico, a prejudicou e com certeza continua prejudicando-a de múltiplas formas, ocorrências que declinamos por razões éticas. Podem ser imaginadas, todavia, porque são as mesmas padecidas por todos aqueles que se deixam vitimar por esta enfermidade.
O que desejamos deixar claro é que o ser humano, por ainda não ter entendido que as emoções, se não controladas, abalam sua mente (psique), e que este abalo, se duradouro, acaba por afetar - às vezes até irreversivelmente os órgãos do soma (enfermidades psicossomáticas), toda vez que é contrafeito, ao invés de preservar a racionalidade, que lhe permitiria enfrentar e superar as dificuldades que o atingem, não o faz, e assim procedendo, adoece e até morre.

Todos já ouviram histórias como “Fulano envelheceu depois da morte do filho” ou “Sicrano ficou de cabelos brancos quando cuidou do pai no hospital”. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos Estados Unidos, acaba de demonstrar que há verdade por trás destes clichês. O estudo comprova pela primeira vez que o stress acelera o envelhecimento. Além disso, a pesquisa indica a influência direta do estado psicológico sobre a longevidade das células do organismo. Pessoas que tem uma percepção elevada do próprio stress envelhecem mais rapidamente. “Existem certas formas de” pensar “que contribuem para o stress – a idéia, por exemplo, de que os problemas com que lidamos são insolúveis”, diz a psicóloga Elissa Epel, uma das coordenadoras do estudo.
Elissa e sua equipe examinaram 58 mães de 20 a 50 anos, 39 das quais cuidavam de filhos com autismo, paralisia cerebral ou outras deficiências. Os cientistas analisaram o grau de “envelhecimento de células do sistema imunológico” dessas mulheres. O principal indicador do envelhecimento celular é uma seção na ponta do cromossomo – as fitas de DNA que guardam nosso material genético – chamada telômero.
Trata-se de uma espécie de tampa bioquímica, que tem a função de manter a integridade de DNA, impedindo que a molécula se desfaça. Cada vez que uma célula se divide o telômero fica um pouco menor, até atingir um ponto crítico. A partir daí, a célula não se reproduz mais e acaba morrendo. O telômero, portanto, é um indicador de idade celular. Ao mostrar que o stress encurta prematuramente os telômeros, a pesquisa indicou uma relação entre ele e o envelhecimento.
A pesquisa comprovou que o desgaste de prestar cuidados intensivos a um filho cobra seu preço. A diminuição dos telômeros foi mais acelerada nas mulheres que cuidavam de filhos deficientes. Testes psicológicos revelaram que o modo como essas mulheres encaravam seus problemas também desempenhava um papel. A idade celular daquelas que se percebiam como tendo altos níveis de stress chegou a ser dez anos superior a das mulheres da mesma idade com baixos níveis de stress.
Além do comprimento do telômero, a pesquisa mediu níveis de telomerase – uma enzima que tem a função de restaurar as perdas do telômero – e de radicais livres, substâncias que danificam tecidos celulares, intensificando o envelhecimento. Os resultados foram consistentes: mulheres mais estressadas apresentaram níveis mais baixos de telomerase e mais altos de radicais livres. A pesquisa deixa uma lição básica: paz de espírito ajuda a retardar a velhice. “Muitos gostariam de ter uma pílula mágica, mas o modo mais efetivo de reduzir o stress está em mudanças no estilo de vida”, diz Elissa Epel. A pesquisadora recomenda relaxamento e alimentação equilibrada para combater o stress. E uma atitude mais serena diante de aspectos da vida sobre os quais não se tem controle.
Texto extraído da revista Veja

A psique, de acordo com os dicionários, é a alma, o espírito ou ainda o inconsciente. Exatamente onde, devido aos desequilíbrios emocionas, se dá a ruptura, em outras palavras, o momento em que a “capacidade de resistir” é suplantada pelo “peso” representado pelos eventos indesejados.
Mesmo se essa relação difere de indivíduo para indivíduo, porque enquanto alguns possuem uma capacidade de resistência maior, outros cedem diante de pesos menores, o resultado é sempre o mesmo. Dá-se a ruptura, a pessoa perde o controle sobre si mesma e depois disso, por deixar de ser coerente, se torna uma pessoa difícil, irascível, de pavio curto, permanentemente em estado de guerra com tudo e todos. Além disso, repetindo, nesse estado, sem defesa porque seu sistema imunológico se tornou precário, passa a ser um alvo fácil para a maioria das enfermidades.
Sigmund Freud (1856-1939), o pai da psicanálise, em seus tratados já dizia que o homem, em certas circunstâncias, gostaria de poder retornar ao útero materno para se proteger. E que, quando finalmente acreditava que havia aprendido a lidar com elas, isso só era exeqüível porque do consciente haviam migrado para aquele vasto e obscuro oceano chamado inconsciente ao sabor do qual o homem faz suas escolhas e leva a vida. Acrescentava, ainda, que o homem por si só não estava capacitado a “cuidar” das angústias que habitam seu inconsciente, criando, desse modo, a necessidade do psicanalista.
Foi Hans Selye, como já vimos,, que começou a utilizar o termo stress nas questões humanas, chamando o conjunto de ações necessárias para ampliar a capacidade de resistência ”Síndrome Geral de Adaptação ao Estresse”.
Dizia que o stress era uma reação neuro-endócrina / metabólica / motora do corpo, diante de situações que, por não se estar acostumado a enfrentar, exigem uma adaptação. Analogicamente, seria como pedir a um sedentário que erguesse e carregasse um saco de cem quilos por 100 metros. Não conseguiria, ou na melhor das hipóteses o arrastaria alguns centímetros. Entretanto, se antes de fazê-lo ampliasse sua capacidade muscular através de treinamento específico, erguer e deslocar 100 quilos se tornaria uma brincadeira. O stress, então, segundo este psiquiatra, só se manifesta se não houver uma adaptação. Neste caso temos:
· O stress positivo, que é representado pelo nível de ansiedade e expectativa que prepara o indivíduo para enfrentar os desafios da vida moderna.
· O stress negativo, aquele que é vivido como se fosse uma agressão física ou psíquica, que produz um nível de tensão acima daquela que o individuo está habituado a suportar.
Muitas daquelas situações onde a pessoa “se sente em perigo” são fontes externas de stress, mas existem também as internas, que tem origem nos perigos que o indivíduo “imagina” que corre, que resultam da sua história pessoal ou da sua maneira de se relacionar com o mundo.
O stress se manifesta através de vários sintomas: insônia, sensação de fraqueza constante, enxaquecas, depressão, falta de interesse – inclusive o sexual - erupções cutâneas de tipo alérgico, suores, crises de desespero e choro. Falta de ar, boca seca, respiração ofegante, ataques agudos de ansiedade, impossibilidade de concentração, perda do bom humor, falta de apetite, ou, ao contrário, voracidade incontrolável e por fim a deterioração das relações afetivas com quem quer que seja.
Homero, o poeta épico grego, mesmo sem o saber, na sua obra Ilíada (1,101-104), descreveu magistralmente as mudanças que ocorrem no corpo de Agamenon em um momento de ira intensa (stress): “Elevou-se entre eles o herói, filho de Etreu, o muito potentado Agamenon, em fúria, olhos inchados e vermelhos, que pareciam arremessar fogo”.
A ciência explica esta alteração da seguinte forma: Sob o estímulo de perturbações externas, o hipotálamo libera o CRH (Corticotropin Releasing Hormone) e endorfínas. O CRH estimula a hipófise (uma glândula do cérebro), e esta segrega o hormônio adrenocorticotropico (ACTH) que por sua vez estimula a secreção do cortisol (o hormônio do stress), no córtex adrenal.

O stress patológico divide-se em fases:
· Na primeira fase a hipertensão se manifesta pelo meio de um persistente estado de “alarme”, acompanhado por uma permanente sensação de perigo que faz com que o indivíduo se mantenha sempre na defensiva e pronto para agredir, situação esta que obriga o organismo a utilizar grande parte das suas energias.
· Na segunda fase constata-se um agravamento dos sintomas, e o estado de “alarme” é substituído por um estado de “guerra” contra tudo e todos.
· Na terceira fase, sob o efeito do adrenocorticotropico, ou ACHT, um hormônio da família das endorfínas que é segregado em situações de stress, por não existir mais controle, o organismo passa a se desgastar por completo.

Um instituto especializado estima que o nível de stress na população brasileira esteja 50% mais elevado que há 40 anos. Os pesquisadores tiveram dificuldade em encontrar um brasileiro que não tivesse sentido pelo menos uma vez os músculos tensos, a respiração acelerada e a paciência preste a ir para o espaço, sintomas típicos da tensão.
”A sensação de impotência diante de um episódio banal do cotidiano, como enfrentar congestionamentos e não poder fazer nada para mudar a situação, é uma das principais angústias do homem moderno”, disse a Veja o médico sueco Lennart Levi, consultor da Organização Mundial de Saúde.
Com a pressão vindo de todos os lados, é natural que, num momento ou noutro, passe pela cabeça da maioria a ambição de largar tudo isso ai e ir viver uma vida tranqüila em outro lugar. Mudar de vida pode ser uma excelente solução para a tensão, dependendo evidentemente da vida que se leva. Qualquer decisão nesse sentido, porém, deve levar em conta um fato da natureza: ninguém pode evitar completamente situações estressantes. O stress não é doença, e, sim, uma reação instintiva ao perigo real ou imaginário ou a uma situação de desafio. “Uma cascata bioquímica que prepara o corpo para lutar ou fugir”, na definição do manual de técnicas para aliviar o stress elaborado pela escola de medicina de Harvard, um centro de excelência nos Estados Unidos.
O reflexo automático diante do perigo foi implantado em nossos genes para evitar que sejamos feridos ou cosa pior. Sem ele, teria sido impossível a sobrevivência da espécie. Ao contrário do que ocorre com os animais, cujo stress é predominantemente físico, a maior parte do nosso é mental. Visto sob a perspectiva da evolução, o stress psicológico é uma invenção recente. Nos, humanos, raramente somos obrigados a escapar de um predador faminto. Por outro lado, estamos expostos a assaltos, brigas de trânsito e desastres. Nas três situações há risco de morte O problema é que a vida moderna tem outros momentos estressantes em decorrência de reações emocionais e situações que não existem na natureza, como demissão, divórcio, reprovação na escola, pressão no trabalho e disputa entre colegas. Nessas circunstâncias, o corpo libera adrenalina como se estivéssemos em perigo na natureza.

Estima-se que o gatilho de adrenalina do morador de uma grande cidade seja acionado em media meia centena de vezes por dia. Na esmagadora maioria das vezes, como resultado da importância que damos aos incidentes comuns do cotidiano.
Um estudo recente da Universidade da Califórnia, em Berkeley, concluiu que aborrecimentos diários, como pais ou filhos doentes, colegas irritantes, engarrafamento e longos trajetos de ônibus, são às vezes mais estressantes até que eventos grandes e dramáticos, como a perda do emprego, o divórcio ou a morte de um cônjuge. O que se tira deste estudo é uma mensagem otimista. Está certo que não é razoável esperar uma vida sem eventos estressantes. Mas é perfeitamente possível para cada um de nos determinar até certo ponto como essas situações nos afetam no cotidiano. É nesses casos, em que não estão envolvidas questões de vida ou morte, que as técnicas anti-stress funcionam.
Quatro anos atrás, uma promoção tirou do eixo a vida do mineiro Alexandre Prates Pereira. O aumento de responsabilidade na indústria de colchões da família coincidiu com o fim do seu casamento. Ele se dobrou ao peso do stress. Perdeu a motivação, via problemas em tudo. À noite, não dormia e durante o dia não conseguia ficar acordado. “Consultei um psicanalista que me ajudou a perceber que eu fazia dos pequenos incidentes do dia-a-dia uma tempestade em um copo d’água”, diz Pereira. Como recurso para combater a ansiedade, ele voltou a fazer o que mais gostava nas horas livres.
“Comecei a praticar enduro eqüestre, fazer ginástica regularmente e viajar mais a lazer”, diz Pereira. Em alguns meses, notou que a ansiedade estava sob controle.
Se ocorrer com freqüência e por períodos prolongados, o stress torna-se devastador para a saúde e para a qualidade de vida. Cada batida do coração com a pressão sangüínea acima do normal cobra um preço das artérias.
O alto nível de glicose é um passo em direção à diabete e a obesidade. A mucosa do intestino fica vulnerável ao aparecimento de úlceras. A inundação de hormônio causa mau humor, ansiedade, irritabilidade. Um deles, o cortisol, permanece muito tempo em circulação e se transforma em toxina que mata neurônios – daí os lapsos de memória associados ao stress crônico.

A produtividade melhora quando estamos sob tensão constante – mas só até certo ponto. “Atingimos o rendimento máximo quando estamos próximos do nosso limite físico e psicológico. Depois que chegamos a este limite, despencamos”, disse a Veja o médico americano Paul Rosch, presidente do Instituto Americano de Stress e autor de vários livros sobre o assunto, entre eles, “Identificando e Reduzindo o Stress na sua vida”. Não há medida cientifica capaz de dizer o nível de pressão que cada um pode suportar antes de desabar num abismo emocional. O limite só pode ser estabelecido individualmente pelo modo com que cada um responde a situações estressantes. Para alguns, fechar negócios no pregão da bolsa de valores é motivo de tensão constante e meio caminho para uma gastrite nervosa. Para outros, é o estímulo necessário para superar obstáculos e crescer na carreira. O médico carioca Samuel Zuinglio de Biasi Cordeiro, de 50 anos, chefe do serviço de emergência do Instituto Nacional de Câncer, convive diariamente com a impotência diante do desespero de doentes incuráveis. Ainda assim, segundo ele, essa não é a principal causa de stress entre os médicos. “Há a competição profissional, a falta de tempo para a família e a dupla jornada de trabalho”, comenta. A maioria dos médicos trabalha em mais de um hospital, no consultório, e ainda fica de prontidão permanente para qualquer emergência. “E no fim do mês, o salário nem sempre é suficiente para pagar todas as contas”, diz Cordeiro.
O americano James Campbell Quick, professor da Universidade do Texas e especialista em controle da pressão no ambiente de trabalho, costuma usar um exemplo da vida real para explicar a diferença entre o stress positivo e negativo. “Quando um engenheiro canaliza toda sua energia para solucionar um problema de produção na fábrica em um curto espaço de tempo, significa que está usando o stress a seu favor”, disse a Veja o especialista americano. “Quando essa tensão não encontra saída ou não leva a solução do problema, esse é o stress negativo”. É o que acontece quando um gerente recebe a incumbência de dobrar as vendas e não tem meios de cumprir o desafio. A conseqüência é um gerente transformado numa pilha de nervos. Ele grita com os subordinados, não consegue dormir a noite e pode até desmaiar de tanto stress. O exemplo corporativo não foi escolhido ao acaso. Serve para lembrar que as características atuais do trabalho contribuem, e muito, para a transformação do stress na praga dos tempos modernos. Ninguém está a salvo, nem as crianças. Segundo o Instituto Americano de Stress, oito em cada dez consultas pediátricas nos Estados Unidos estão relacionadas à tensão. Pesquisas mostram que isso se deve a uma mudança de comportamento. Antigamente, as crianças ficavam mais soltas na rua e descarregavam a tensão em brincadeiras que envolviam exercícios físicos nos quais se exigia menos resultado que nos esportes atuais. Hoje, brinca-se em apartamentos ou playground de condomínios. A prática esportiva, por sua vez, quase sempre envolve competições e avaliação de desempenho. Entre os idosos também houve dramático aumento nos casos de stress. Antes, as famílias moravam numa mesma casa, com marido, mulher, sogros e avós. Atualmente, é comum que os mais velhos morem sozinhos ou em asilos. Mantendo pouco ou nenhum contato com os familiares.
A estrutura do casamento também mudou bastante neste aspecto nos últimos trinta anos. Antes, o matrimônio era uma força poderosa para combater as tensões do trabalho. Hoje é comum que ambos, marido e mulher, trabalhem fora. Os efeitos disso são antagônicos. Por um lado, aumenta a renda familiar. Por outro, levou para dentro do lar as pressões profissionais provocando desequilíbrios nos papeis domésticos tradicionais. A mulher passou a ter peso igual ao do homem nas decisões domésticas e isso fez aflorar novas tensões.

O ideal é se preparar para enfrentar o stress antes que ele fique grande demais, queremos dizer, tomar providencias para reduzir os riscos de sucumbir às pressões não é tão complicado nem exige decisões radicais. Um corpo saudável, por exemplo, ajuda a reagir melhor às situações estressantes. A prática regular de atividades físicas auxilia no controle da pressão sanguínea e mantém o coração funcionando em ritmo adequado.
Muito do que se sabe sobre o controle do stress é resultado das observações diretas feitas por especialistas do comportamento de pessoas que parecem naturalmente mais resistentes à pressão. Um estudo baseado na experiência de gente que sobreviveu com invejável serenidade a experiências devastadoras – seqüestro, tortura, doença e perda ou pessoas queridas – concluiu que resiste melhor ao stress quem tende a manter em foco os assuntos imediatos - o conforto de uma criança doente, por exemplo - e não os aspectos globais – como a expectativa de morte. Se há um ensinamento nessa pesquisa, é o de que o melhor remédio para o stress é não encarar cada obstáculo como se fosse o fim do mundo.
Fonte: revista Veja de 11 de fevereiro 2004

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