terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CAP.I ESPÉCIE RACIONAL

Há cerca de sete e meio milhões de anos atrás, um grupo de primatas, por razões ainda desconhecidas, passou por um processo de mutação genética findo o qual se diferenciou em duas linhagens distintas: uma deu origem á espécie que, aprimorando-se, evoluiu até se tornar o homem, e a outra melhorou até se tornar um símio conhecido: o chimpanzé.
Esse trecho da historia que narra a descendência humana e a dos chimpanzés a partir de um ancestral único, de acordo com a nova pesquisa publicada na revista “Nature” no dia 16 de maio de 2006, deve ser modificada no que tange ao aspecto cronológico. Segundo a tese publicada, a diferenciação em duas linhagens aconteceu em tempos mais recentes, ou seja, por volta de cinco milhões e meio de anos atrás.
Estas afirmações afloram dos mais recentes estudos de genética concluídos pelos cientistas americanos do Mit Broad Institute e da Harvard Medical School. A mais exata determinação cronológica do fenômeno que deu partida à história da espécie humana, foi possível graças a profundos estudos a respeito da seqüência do genoma, em outras palavras, da análise de todos os 30000 genes que constituem o DNA do homem. Esta pesquisa permitiu identificar as partes mais jovens do genoma humano, aquelas que se formaram nos tempos mais recentes, ou seja, entre 6.3 e 5.4 milhões de anos atrás.
A descoberta dos geneticistas americanos coage os estudiosos da evolução da raça humana a reexaminar as provas palenteológicas que fixavam o início da história da humanidade dois milhões de anos antes.
Segundo a teoria mais aceita, aquela população de progenitores dos homens e dos chimpanzés (devido a um evento natural), ficou isolada de seus demais semelhantes por um período suficientemente extenso para permitir que a conclusão da mutação genética gerasse as duas espécies de mamíferos mais idênticas que existem na face da Terra: o homem e o chimpanzé. Este primata, em verdade, se assemelha ao homem fisicamente e geneticamente em termos inimagináveis se compararmos visualmente as duas raças, visto que seu quadro genético é idêntico ao nosso em 98%. Somos primos, conseqüentemente. Só que, enquanto os homens são racionais os chimpanzés são irracionais.
Mas antes de prosseguirmos no desenvolvimento deste raciocínio, conheçamos melhor este nosso primo. Os chimpanzés são encontrados nas selvas tropicais e savanas úmidas da África central e ocidental. Costumavam habitar a maior parte daquela região, mas seu habitat tem sido drasticamente reduzido nos últimos anos.
Os adultos podem medir até 1,30 m. (fêmeas) e 1,60 m. (machos) e pesam entre 40 e 70 kg. Entretanto, possuem uma força muito superior à humana. Seus corpos são cobertos por uma pelagem grossa de cor marrom-escuro - com exceção do rosto, dedos, palmas da mão e plantas do pé. Tanto seus polegares, quanto o dedo grande dos pés, são oponíveis, o que lhe permite segurar objetos com facilidade.
A gestação do chimpanzé é de cerca de oito meses e os filhotes são desmamados com aproximadamente três anos de idade. Geralmente, porém, mantêm uma relação muito próxima da mãe por muitos anos, além disso.
A puberdade é alcançada entre oito e dez anos e sua longevidade em cativeiro é de cinqüenta anos. Na natureza, os Chimpanzés vivem em grupos que podem variar de 5 até mais de 100 indivíduos. No entanto, as fêmeas possuem hábitos mais solitários, passando a maior parte do tempo a sós.
Nestes grupos de animais de hábitos diurnos, terrestres e arborícolas, impera o patriarcalismo, isto é, os machos mais velhos dominam as fêmeas e os machos mais jovens. Costumam se locomover pelo chão, mas preferem se alimentar sobre as árvores durante o dia. São primatas quadrúpedes, ou seja, para andar ou correr utilizam os pés e as mãos simultaneamente. Ocasionalmente, entretanto, podem se locomover de forma bípede como os humanos. Além disso, são capazes de escalar, pular ou permanecerem suspensos.
Habitam as savanas e florestas tropicais, em áreas baixas ou montanhosas, na região central do continente africano.
Os chimpanzés servem-se de uma alimentação variada, no entanto, as frutas são o principal alimento de sua dieta. Além destas, consomem muitas folhas, flores, sementes e, ainda, pequenos animais como alguns pássaros, formigas, cupins, vespas e larvas.
Estes animais, aparentemente, possuem culturas diferentes em função da região em que vivem (assim como os humanos) e são capazes de ensiná-las de uma geração para outra. Entre estes ensinamentos, por exemplo, estão as técnicas para extrair cupins dos cupinzeiros utilizando-se de gravetos. Sementes e frutos de casca dura são quebrados com pedras e outros tipos de ferramentas adaptadas que utilizam até para caçar pequenos mamíferos.
Machos dessa espécie podem se unir para manter a liderança sobre o grupo ou destituir um líder. Para intimidar os rivais se demonstram agressivos, vocalizam alto e bom som, agitam galhos ou simplesmente agridem.
Os estudiosos da evolução da linhagem que se tornou o homem, sabem que em algumas fases, antes de alcançar a “sapiens”, os hominídeos comportaram-se semelhantemente ao chimpanzé que acabamos de conhecer.
Mas, retornando ao raciocínio anterior, o que difere uma criatura racional da irracional? Enquanto a primeira é dotada de razão e por decorrência tem a faculdade de raciocinar (tem aptidão para buscar a verdade com o auxílio da razão, ou seja, pode seqüênciar proposições deduzindo-as uma das outras até chegar a uma análise justa), a outra, por não ser dotada de inteligência não pode raciocinar. A natureza, entretanto, não a deixou órfã, uma vez que a dotou de instintos (impulsos naturais de conservação que lhe são inatos), a animação irrefletida que dirige as atitudes de todos os animais.
Por isso, se um chimpanzé ou outro animal agride e fere um homem a culpa não é dele, mas daquele que foi atacado porque não se acautelou. Mas quando é o homem que agride? A culpa é dele e a razão disso reside no fato que, enquanto o chimpanzé é movido por instintos, o homem, de posse da inteligência, refletindo em relação as suas ações, raciocina, e raciocinando (considerando que no mundo os parâmetros entre o bem e o mal estão bem definidos), a não ser que esteja mentalmente incapacitado, tem a aptidão de discernir se a sua ação é correta ou incorreta, em outras palavras, boa ou má ou ainda licita ou ilícita.
No frigir dos ovos, entretanto - e sem outra possível interpretação, incorreta, má ou ilícita é quando o resultado da ação, devido a uma decisão consciente ou inconsciente, prejudica o sujeito que a tomou ou se lhe é favorável prejudica seus semelhantes. Quando correta, boa ou licita – mais uma vez sem qualquer ulterior interpretação – é porque o resultado da ação não prejudica ninguém.
Define-se racional o critério de ação que correlaciona o agir do indivíduo com a sua motivação. Do latim “ratio” (motivo, sentido, razão). O termo racionalidade foi definido sistematicamente por Max Weber que distinguiu a “racionalidade em base a valores”, determinada pela vontade do autor de seguir critérios valoriais, e a “racionalidade que se baseia no fim”, determinada pela vontade do autor com o objetivo de atingir fins especificos. A razão não inclui somente a nossa capacidade de produzir inferências lógicas, mas também aquela de conduzir pesquisas, resolver problemas, avaliar, criticar, decidir a forma de agir e dessa maneira alcançar a compreensão de nos mesmos, dos nossos semelhantes e dos demais seres que habitam o nosso mundo.
Às vezes colocamos as sensações, as percepções, o sentimento e o desejo acima da razão, mas é esta que deve nortear nossas atitudes em relação a estes aspectos, porque de certa forma são imponderáveis.
Refletir, filosoficamente falando, é o ato pelo qual o pensamento é utilizado para nos conhecermos a nos mesmos, nossa estrutura, nossas possibilidades e nossos limites, isto é, examinar o conteúdo das nossas ações, nossos conhecimentos e nossas experiências com a finalidade de criticá-los e melhorá-los constantemente, porque genericamente falando, a distância que separa o que julgamos que é verdade daquilo que consideramos mentira é infinitamente menor do que o intervalo que separa o conhecimento da ignorância.
O homem, além disso - entre os indivíduos de sua espécie - distingue-se pelo conjunto de características psicológicas que determinam sua individualidade pessoal e social, porque o processo de formação da personalidade, devido sua complexidade, é único para cada indivíduo.
Chegamos por fim ao caráter, termo pelo qual se designa o aspecto da personalidade responsável, pela forma habitual e constante de agir que mais uma vez é peculiar a cada indivíduo. Esta “qualidade” difere de pessoa para pessoa, visto que é o conjunto dos traços que lhe são característicos: modo de ser, agir, índole, natureza, temperamento etc. É a somatória destas qualidades, boas ou más que sejam, que lhe determinam a conduta, sempre em obediência aos padrões de moralidade que, enquanto em alguns indivíduos são aplaudíveis, em outros são lastimáveis.
Destarte, como um homem não é um ser estanque, independentemente da idade que tem, está sempre capacitado (devido ao intelecto) a ampliar seu saber e se aperfeiçoar, mesmo porque o conhecimento, por crescer a uma velocidade cada vez mais vertiginosa, transforma o sábio de hoje, se não se atualizar, no ignorante de amanhã sem que ele se de conta disso. Inversamente, aquele que jamais desiste de se instruir, permanecendo douto, será aquele que, mesmo diante de adversidades, levará a melhor.
As circunstâncias desfavoráveis também enriquecem a vida? Com certeza, porque é dos nossos erros, ações, interpretações, atitudes etc. que, se nos dispormos a isso, obteremos as melhores lições. Infelizmente, nem sempre é assim, porque são muitos os que, ao chegarem ao fim de seus dias, pouco ou nada acrescentaram á bagagem que traziam ao nascer.
Razão, ainda, é a competência de raciocinar, compreender, aprender, ponderar e julgar. E o homem cuja envergadura o posiciona acima de seus semelhantes, é aquele que jamais aceita o que lhe é dito (instituição religiosa, cientifica ou o que for), sem antes submetê-lo (pesquisando exaustivamente, quando é o caso) ao crivo da sua própria razão. Este é o único meio de se manter na trilha da eqüidade ao longo de todo o período que separa o berço do túmulo.

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