terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CAP. X NEUTRALIZANDO O STRESS

Para começar, entre os melhores antídotos que existem contra o stress, nesse mundo onde imperam as exigências e os desafios, relacionamos a milenar filosofia dos monges tibetanos:
1. Se diante de ti se delinear um “problema”, não abra mão da tua calma e racionalmente análise as soluções possíveis. Se existirem - nem que seja uma só, não perca a tranqüilidade. Entretanto, se verificar que não há solução possível, continue mantendo a paz dentro de ti, porque se não o fizer, ao invés de um problema, terá como mínimo dois.
2. Em uma aldeia, um idoso mestre na arte do manuseio da espada chamado Shi-Thui, acabara de ser desafiado por um jovem que, concluído seu tempo de aprendizado, satisfazia seu ego desafiando e eliminando os mestres da região. Assustados, diante deste cenário, os amigos de Shi-Thui o exortavam a desistir do enfrentamento, visto que o desafiante, por impor uma derrota após a outra, já era considerado invencível.
No dia aprazado, diante de numeroso público, enquanto desafiante e desafiado se mediam, o jovem começou a destratar o ancião com palavras tão cruéis que poderiam enfurecer um defunto. O idoso, mesmo assim, aguardou sem pestanejar que o adversário iniciasse o duelo. Principiado, após se defender do primeiro assalto, com um golpe certeiro o feriu mortalmente.
Quando os amigos, alegres, lhe perguntaram como conseguira se manter tão calmo, respondeu: Se vocês recebem um presente e o apreciam, acredito que agradecem e o guardam. Mas o que fazem quando lhe dão algo que não desejam? O ignoramos, replicaram. É exatamente isso que eu fiz, respondeu o mestre.

O stress, que pode ser acatado como uma “fraqueza da mente”, considerando que Hans Selye afirmava que era uma reação neuro-endócrina / metabólica / motora do corpo, diante de situações que, por não se estar acostumado a enfrentar, exigem uma adaptação, após o advento da medicina moderna, isto é, depois que ela implodiu e formou milhares de especializações, passou a ser considerado da alçada de psiquiatras, psicólogo, médico etc. Todavia, pela inquietação que ecoa ao redor do planeta, estes, aparentemente, ainda estão muito longe da solução.
Houve épocas, no entanto, que os homens eram “tratados” com outras metodologias, e a fonte mais antiga destas são os Vedas, os textos sagrados do hinduísmo, mais especificamente o Bhagavad-gita (a canção do Senhor), porque é ali que se encontram as metodologias anti-stress mais eficientes.

Hinduísmo.
O Hinduísmo é a religião mais antiga do mundo. Nele, “Brahma” é a personificação do todo, o criador do mundo material, dos deuses, dos homens e das escrituras sagradas que são os Vedas. Brahma é associado a uma trindade – trimurti – representada por Siva, Vishnu e Devi.
As escrituras Hindus, também chamadas Shastras, “instruções” ou “tesouros do conhecimento” dividem-se em Shruti – o que foi ouvido de Deus, Smriti – os textos que contém as explanações sobre os Shruti e os Upanishads, que são os textos explicados pelos sacerdotes.
O Gita é uma doutrina sobre a verdade universal e trata da mais sagrada ciência metafísica. Sua mensagem é sublime, embora ele seja uma parte da trindade escritural do Sanathana Dharma, ou seja, Hinduismo.
Ele transmite o conhecimento do Ser e responde a duas questões universais: Quem sou eu e como posso conduzir uma vida pacifica e feliz neste mundo de dualidades. È um livro de Yoga, de crescimento moral e espiritual, destinado à humanidade que deseja se nortear pelos princípios cardeais da religião Hindu.
A mensagem do Gita chegou à humanidade por causa da dúvida de “Arjuna” em relação ao fato que, como guerreiro, lhe cabia guerrear, destruir e matar, enquanto a não violência, (“Ahimsa” em hindu), é o principal fundamento do hinduísmo, uma vez que a vida - seja ela humana ou não - é sagrada.
Este imortal discurso descrito no Mahabharata entre o Senhor Supremo, ”Krishna”, e seu devoto Arjuna, não acontece em um templo, numa floresta reclusa ou no alto de uma montanha, mas num campo de batalha na véspera de uma guerra.
Estas antiqüíssimas escrituras, como veremos em alguns de seus trechos, já naquela época orientavam os homens no sentido de se precaverem contra os desequilíbrios da mente. No mundo hodierno “técnicas anti-stress”.
· (2.47)-Você deve planejar sua atividade para alcançar os objetivos de seu interesse, mas, como não lhe pode determinar o resultado (esse sempre depende de fatores que estão sob a administração de outros), ao mesmo tempo em que deve dar tudo de si para executar o mais eficientemente a sua parte, jamais deve se aborrecer se, apesar do seu esforço e dedicação, o resultado não é alcançado.
Os eventos do mundo jamais se realizariam se a todos os homens fosse dado o poder de escolher os resultados de suas contendas ou uma varinha mágica para ininterruptamente realizar seus desejos. Por outro lado, trabalhar sem uma perspectiva de sucesso, ou melhor, sem a esperança de obter o resultado ambicionado com certeza é uma estupidez, mas manter-se preparado para o inesperado, incluindo o malogro se for o caso, é uma importante posição em qualquer planejamento.
Swami Karmanada disse: A essência do Karma-yoga é realizar o trabalho com o objetivo de satisfazer o Criador, enquanto mentalmente se adota uma posição neutra em relação a seus frutos, porque é dele a responsabilidade de atribuí-los a quem ele deseja.
O dever do Karma-yoga é viver dando sempre o melhor de si como um servo de Deus, quer dizer, sem almejar recompensas a titulo de pagamento pelo trabalho. Por conseguinte, as obrigações devem ser executadas com desapego, porque o sucesso em qualquer atividade é mais factível de ser alcançado se os afazeres forem executados sem se preocupar demasiadamente com o resultado.
Um bom caçador tem controle sobre a fecha que dispara, nunca sobre a caça. Harry Bhala complementa: um lavrador tem controle sobre suas mãos e sobre todo o trabalho que realiza, mas por mais cuidados que tome jamais terá controle sobre a colheita, porque esta pode ser prejudicada ou destruída a qualquer momento pelos fenômenos da natureza. Se quando isso acontece, porém, revoltado deixa de arar e plantar novamente em suas terras, jamais terá outra colheita. Quando alguém não espera com exagerada exultação a vitória, dificilmente é muito afetado pela derrota.
Temas relativos ao regozijo provocado pelo sucesso ou de consternação por causa do fracasso nunca são discutidos por um karma-yoga, porque ele se mantém de contínuo no caminho servil sem esperar pelo gozo dos frutos da ação. Ele aprendeu a se dar por satisfeito por poder trabalhar, visto que há muitos semelhantes que nem isso podem fazer.
A miopia de curto prazo, ou seja, “a busca pelo ganho imediato” é causada pela ignorância em relação à metafísica, e é a raiz de todos os males que açoitam as sociedades do mundo. (2.48)-Execute suas ações dando tudo o que puder de si mesmo, o Arjuna, mantendo sua mente ligada ao Senhor e distante das preocupações que ocorrem quando há inquietação em relação aos resultados. Entenda que deve se manter calmo e equilibrado tanto no sucesso como no fracasso, porque o trabalho sem a obcecação da recompensa já é sinônimo de paz e de tranqüilidade.
O karma-yoga é aquele que aprende a executar suas obrigações mantendo a tranqüilidade em qualquer circunstância, porque dor e prazer, nascimento e morte, perda e ganho, assim como união e separação são inevitáveis uma vez que são ditados pelas obras erigidas em vidas passadas (Karma).
Só o tolo se regozija na prosperidade e se aborrece na desventura, porque um karma-yoga permanece tranqüilo em todas as ocorrências (TR2. 149.03.04).
· (2.49)- O trabalho realizado por ensejos egoístas é inferior e está longe de ser um serviço desapegado. Portanto, seja um trabalhador desapegado, o Arjuna. Aquele que trabalha somente para gozar os frutos do seu trabalho é infeliz porque, por não ter controle sobre os resultados, tanto pode ter sucessos como insucessos. Só que, enquanto os primeiros logo são esquecidos - porque basta uma vitória para desejar outra - as derrotas amargam eternamente.
· (2.50)-Um Karma-yoga, ou uma pessoa desapegada, livra sua vida tanto da virtude como do vício. Portanto, esforce-se por serviço desapegado, Arjuna. Trabalhar valendo-se das melhores habilidades e sem se apegar egoisticamente aos frutos do trabalho chama-se Karma-yoga ou Seva.
· (2.54)-Arjuna disse: diga-me Krishna, quais são os sinais de uma pessoa iluminada cujo intelecto é firme? Como se comporta semelhante pessoa em relação aos outros e como ela vive neste mundo?
· (2.55)-o Senhor Krishna respondeu: quando alguém esta completamente livre de todos os desejos da mente, e está satisfeito com a bem-aventurança permitida pelo Ser Supremo, essa pessoa é chamada de iluminado, Ó Arjuna.
· (2.56)-Uma pessoa é chamada de sábio iluminado, de firme intelecto quando sua mente não mais está sujeita a perturbações pelas adversidades, quando já não se satisfaz com os prazeres mundanos e quando está completamente livre de apegos, de medo ou da ira.
· (2.58)-Quando alguém consegue retirar completamente seu interesse dos objetos que despertam a cobiça dos demais, assim como faz a tartaruga quando retrai seus membros para dentro do seu casco para se proteger, esta é uma pessoa firme. A mente que não se deixa afetar pelos desejos materiais se afasta de todos os distúrbios mentais, da mesma forma que as águas de um rio chegam ao oceano sem criar qualquer distúrbio. Aquele que se deixa atazanar pelos desejos por objetos materiais jamais possuirá paz.
A corrente do rio do desejo carrega longe a mente do materialista, assim como um rio carrega longe a madeira e outros objetos que encontra no seu caminho. A mente tranqüila de um yogi é como um oceano que recebe os rios do desejo sem por eles ser perturbado, porque um yogi jamais pensa a respeito de ganhos ou perdas. Faz o seu trabalho da melhor forma possível aceitando o resultado que vier.
A maioria dos desejos humanos são impossíveis de serem satisfeitos porque são infinitos. É como ter sede e só ter água salgada para saciá-la. Mais desta água é bebida mais a sede aumenta. Quem “não para de bebê-la fica louco”.
Caçar a realização de desejos materiais é como acrescentar madeira ao fogo. Contudo, ele se apagará lentamente se sobre ele não for colocada mais madeira (MB 12.17.05).

Budismo.
Buda é considerado por uma corrente hinduísta a nona encarnação de Vishnu - uma das personagens da tríade hindu, enquanto outras o consideram a nona de Balarama - a primeira expansão pessoal de Krishna.
Diz-se que os ensinamentos de Buda podem ser entendidos como uma revolta contra a classe sacerdotal Hindu, vez que esta com a desculpa de custear os sacrifício explorava o povo com pesadas taxas. Sacrifícios que, por dizimar animais, desrespeitavam o apelo a não violência, um princípio que sempre fora defendido pelo hinduismo.
Suas idéias objetivavam a libertação do “Samsâra” que é o ciclo reencarnacional (nascimento, morte e renascimento), além da salvação de cada indivíduo como é ensinado no hinduísmo.
Na sua época, muitas pessoas das castas mais humildes - chamadas intocáveis - foram atraídas pelos ensinamentos do budismo. Teve início dessa maneira a rejeição ao hinduísmo, mesmo porque este era muito rígido na demarcação das castas.
O budismo chegou a florescer por algum tempo na Índia, fundado pelos seguidores de Buda (isso aconteceu no período do imperador Ashoka, filho de Chandragupta, chefe do exército de Alexandre Magno). Depois, gradualmente foi desaparecendo, mas muitos dos seus ensinamentos foram inseridos no hinduísmo e muito mais tarde influenciaram o islamismo. Hoje, os praticantes do Budismo comportam-se diferentemente daqueles que originalmente praticavam a doutrina, porque Buda, como tantos outros mestres do passado, nada deixou por escrito.
Quem transformou suas palavras em escrituras foram seus discípulos, e como sois acontecer, como esta tarefa foi realizada muitos anos após sua morte, esteve sujeita aos acréscimos ou decréscimos ditados ou por novos interesses religiosos, ou por interpretações diferentes da palavra de Buda.
Todas elas, contudo (similarmente ao cristianismo no qual todos as religiões reivindicam para si a mais exata interpretação da bíblia) chamam a si a melhor interpretação da verdade Budista. Todavia, existem dois pontos básicos que são unanimemente aceitos por todos: que Buda alcançou a iluminação suprema e que pregava o respeito a todas as formas vivas da natureza.
O fundador do Budismo foi o jovem príncipe hindu Siddharta Gautama - também conhecido como Shakya Muni - que nascera em Kapitavasta no sul do Nepal. Filho de um grande Rei, este o manteve isolado dentro do seu castelo para protegê-lo dos sofrimentos. Assim resguardado, cresceu sem ter contato com as misérias do mundo material.
Com 29 anos, ao sair pela primeira vez do seu palácio após a morte do pai, conheceu um homem velho, viu um doente e se defrontou com um morto. Resultado: ficou desnorteado. A procura de respostas interpelou um monge sannyasi (um religioso que, por ter abdicado de todas as formas de bem-estar material, vive como um mendigo) que lhe explicou que o que vira não só era natural, mas inevitável, porque eram aspectos que faziam parte da vida. Siddharta, então, ficou triste e preocupado porque até aquele momento não conhecera o sofrimento. Logo, por não desejá-lo para si, decidiu procurar um meio de evitá-lo.
Com este fim submeteu-se a uma vida severa e ao jejum, mas o único resultado obtido foi enfraquecer até quase morrer. Esta experiência, no entanto, o ajudou a compreender que a automortificação em hipótese alguma era a estrada que levava a perfeição que procurava. Para continuar a sua busca se transformou em um mercador errante.
Segundo a tradição budista, uma noite, provavelmente por volta de 531 a.C., enquanto meditava deitado sob uma árvore na floresta Budhi Gaya, Siddharta é alcançado pela revelação (o estágio preliminar da iluminação) e, por conseguinte, finalmente compreende que a existência material é ilusória porque neste mundo tudo é transitório.
Naquele momento, ali mesmo sob a árvore, Siddharta faz o voto para alcançar a iluminação total, e com este fim, adotou a vida acética dos monges hindus e passou a estudar o brâmanes. Dotado de uma percepção perspicaz e de um pragmatismo excepcional, depois de se dar conta que o hinduísmo e suas propostas estavam longe do alcance do entendimento do homem comum, compôs as quatro verdades nobres:
· A dor existe e não somente permeia a existência humana, mas a interpenetra.
· A origem da dor está no desejo, nas paixões, e em especial no anseio de se ver livre dela.
· A dor cessa exclusivamente quando o homem consegue vencer os desejos.
· O desejo só pode ser superado se o homem viver moderadamente de conformidade com o nobre caminho octogonal que é: Percepção correta, pensamento correto, fala correta, comportamento correto, meio de vida correto, esforço correto, atenção correta e concentração correta.
Aquele que viver seguindo os ensinamentos que este caminho ensina, evoluirá gradativamente até alcançar o “nirvana”, uma espécie de extinção da dor “do eu consciente” numa absorção final no Brahma, o Todo.
Estes aspectos determinam a lei do karma, ou seja, são as ações da vida em curso que determinam o que deverá ser enfrentado na encarnação futura. É o samsâra, o ciclo do nascimento, morte e renascimento que, tendo tido origem no hinduismo, continua no budismo.
No budismo, a meditação contemplativa e determinados exercícios de cunho ascético - o yoga, por exemplo - são consideradas práticas imprescindíveis para encontrar a luz além da moralidade e das obras exemplares.

Cristianismo.
Na doutrina cristã, ou melhor, nos Evangelhos gnósticos que a igreja católica destruiu após o concilio de Nicéia (este, convocado pelo Imperador Constantino em 325 d.C., condenou o arianismo que era um credo gnóstico) e que na década de 50, quando copias destes vieram à luz chamou apócrifos, encontramos Jesus aclarando coisas em tudo similares as de Krishna e Buda.
Em 1896, foi adquirido em Berlim um documento chamado “Pap. 8502” contendo o Evangelho de Maria, o de João, os Atos de Pedro e a Sofia de Cristo. O primeiro texto, o mais breve e mais danificado, ocupa as primeiras 18 páginas e termina na décima nona com o título “o Evangelho de Maria”. Este, infelizmente, além de ter partes ilegíveis é incompleto: faltam as primeiras seis paginas, além da décima primeira e décima quarta. Falta-lhe ainda o trecho que indica sua origem.
Acredita-se, no entanto, que também tenha sido encontrado na região de Nag Hammadi como os demais que lá foram achados em 1945 em língua copta.
Mas, como saber que este Evangelho é de Maria Madalena? Os historiadores afirmam: Três mulheres acompanhavam sempre Jesus: sua genitora Maria, Marta Salome e Maria de Magdala, sendo que esta última nos demais Evangelhos apócrifos é chamada sua companheira (esposa na língua arcaica), o discípulo que Jesus aparentemente mais amava porque o beijava na boca.
Esta atitude provocava perguntas por parte dos demais apóstolos vez que não entendiam a razão dessa preferência. “Porque você a ama mais do que ama a todos nós”, perguntavam alguns deles?
São estas três as mulheres que nesta obra continuam se relacionando com Jesus mesmo depois da sua crucificação, especialmente Maria Madalena (Magdala) que, de forma crescente participa (contam-se 77 vezes) no sentido de restabelecer a confiança dos apóstolos quando eles não conseguem seguir as palavras do Mestre, ou então, quando pedem para serem esclarecidos a respeito de seus ensinamentos.
Isso e muito mais, contrariando os Evangelhos canônicos que dizem que Maria Madalena é a pecadora anônima que Jesus perdoa após retirar dela sete demônios.
O Evangelho de Maria Madalena, mesmo incompleto, é claro. Afirma que Jesus após sua ressurreição (como espírito, claro), esteve com os apóstolos, respondeu perguntas e lhes pediu para continuar a missão de espargir seu Evangelho no mundo.
Em relação a outros temas, devido ao texto ser parcialmente ilegível e incompleto, das muitas perguntas e respostas que existem somente duas permaneceram claramente legíveis. Estas se referem à matéria e ao pecado do mundo.
A primeira pergunta Jesus responde:
· “A matéria não tem nenhuma importância no mundo espiritual; vem do nada e ao nada volta: o que jamais existiu não terá existência. Existiu para um determinado fim e cumprida a missão é destruída em sua própria raiz”.
Em relação ao pecado do mundo Jesus afirma:
· “O pecado do mundo não existe a exceção daquele produzido pelo homem. E prossegue dizendo: o” bem “que veio (Ele), tem a finalidade de separar no homem o que é material daquilo que é espiritual, restituindo assim as duas naturezas as suas próprias raízes. É por isso que toda a matéria depois de nascer tem que morrer. É mais explicitamente continua: “na mesma proporção que a matéria é necessária é também danosa, porque dela emana uma paixão que desequilibra todo o corpo”. Quem tem ouvidos que ouça.

Estoicismo.
Séculos depois, eis que na velha Grécia Zenão de Cicio (264-335 d.C.) funda o estoicismo, doutrina que afirma que todas as realidades são materiais. Logo, separa a matéria passiva do princípio que anima a vida chamando-o Deus ou Razão (este princípio é tido como uma matéria sutil ou um fogo animador do todo). A alma, então, passa a ser identificada como um princípio divino, como parte do todo ao qual pertence (o mesmo conceito do hinduismo e do budismo).
Neste ponto de vista metafísico estão implícitas duas conseqüências éticas: a grande importância que a máxima «viver conforme a natureza» teve no tempo do desenvolvimento do conceito de “lei natural” na jurisprudência romana, e a doutrina fatalista de que tudo o que acontece de certa forma é predestinado.
Não obstante, a ética estóica não brota de nenhuma teoria metafísica, mas sim do ideal prático que já havia sido proclamado pelo cinismo (doutrina dos filósofos cínicos): o homem não se torna sábio através do gozo dos bens materiais, mas quando, através da razão, consegue dominar as paixões e os desejos - as inesgotáveis fontes de turbulências.
Entre os muitos estóicos, Lucio Anneo Sêneca deixou sua marca. Nasceu em Córdoba, na Espanha, em 4 a.C. e morreu em Roma em 65 d.C. Foi preceptor de Nero e seu conselheiro. Em 62 d.C. se retirou da vida pública e três anos depois, acusado de traição, foi obrigado pelo imperador a se suicidar. Na época, os homens acreditavam que era preferível morrer com honra a viver sem ela.
Sêneca sempre foi cultor do estoicismo e a “Tranqüilidade da Alma”, uma de suas obras, exemplifica isso.
A crença fundamental do estoicismo é que tudo se mantém erguido por meio da razão. Para os estóicos, no cosmo nada é casual, porque tudo é dirigido por uma lei racional. Assim sendo, o inteiro curso do universo é perfeito e predeterminado, e tudo o que nele acontece, dá-se da forma que se dá, e não diferentemente, porque a lei racional que o controla determina que assim deve ser.
Todos os fenômenos do mundo, por serem manifestações da lei racional, tem um fim que lhe é próprio, mesmo os que aparentemente são danosos ou inúteis. Desse modo às catástrofes, como os terremotos, por exemplo, são justificadas porque servem de expiação ou purificação. Desse pensamento, à atenção do estoicismo se volta para o conceito da lógica, lógica clássica, que em épocas sucessivas, somando-se à obra de Aristóteles, viria a formar o corpo lógico do próprio estoicismo. Portanto, para os estóicos, se cada aspecto obedece ao desenho do fato, então a liberdade do homem é só aparente.
A autêntica liberdade do homem é a de aceitar o curso dos acontecimentos, em outras palavras, aceitar o destino como guia, e não como antagonista ao seu projeto de vida. Deste modo, pra os estóicos, a serenidade da alma só é possível seguindo o destino, uma vez que se contrapondo a ele - considerando que o que acontece inúmeras vezes independe da vontade do homem - só se chega ao patamar do sofrimento.
O sábio deve abster-se das paixões, deve contemplar o que acontece no mundo, no seu país, na sua cidade, no seu bairro ou na rua que diariamente percorre como se fosse uma peça de teatro que ele, como espectador, só pode observar sem poder intervir. Assim, não tomando partido em relação a nenhum destes aspectos, jamais vai se turbar ou se sentir agredido.
As paixões são um obstáculo para a vida feliz, porque levam o homem a desejar que se realize o que não pode se realizar, mesmo se o que ele deseja é algo aparentemente factível aos outros. Todas as vezes que o homem deseja o que para ele é impossível, e não aceita o que efetivamente acontece, ele vai de encontro ao sofrimento. É por isso que o sábio não luta demasiadamente contra o que acontece a seu desfavor, mas o aceita porque é somente um capítulo da sua vida.
O escopo da vida, para os estóicos, é viver uma vida virtuosa, e a virtude é viver seguindo a trilha da razão. A felicidade está inserida na compreensão de que o homem é um ser racional que faz parte de um contesto racional que é o universo, e que só consegue a virtude ao compreender que as razões profundas da existência não são iguais para todos, porque estão ligadas a cada indivíduo de forma diferente.
Segundo Sêneca, é sábio aquele que age racionalmente e evita entregar-se as paixões, porque estas são a doença da alma. Isso é verdade porque a ira é uma delas, e quem se entrega a este sentimento, perde a luz da razão e passa a cometer atos tão desastrosos como se estivesse louco.
De acordo com o seu parecer, o homem é tanto mais sábio quanto mais se da conta que é sempre necessário raciocinar para evitar as emoções. Este comportamento permite eliminar toda a gama de desilusões e dificuldade, que necessariamente o homem passional continuamente encontra, porque vive uma relação de conflito constante com a realidade devido à altivez de seus desejos.
A frustração é uma condição muito difundida, porque nasce do inevitável choque entre o que se deseja e a realidade que se obtém. De acordo com ele, as frustrações que melhor são suportadas são as que o homem se prepara para enfrentar. Desse modo, admitir antecipadamente que é possível não alcançar o que se deseja é meio caminho andado. Se depois, pela razão que for, se obtém sucesso, a alegria é maior.
Para Sêneca, o destino do homem está na mão de uma força maior, força essa que decide autonomamente - segundo leis insondáveis - os eventos que o homem deve enfrentar. Substancialmente, os homens têm que entender que por mais que eles acreditem que podem driblar o destino, este de qualquer forma os golpeia no momento que quiser, especialmente depois de longos períodos felizes porque repletos de sucessos. Por esta razão, ninguém pode acreditar que tudo vai continuar bem só porque está vivendo um tempo de realizações. A própria morte, por não ter dia e hora agendada, pode acontecer, como inúmeras vezes acontece, nas horas menos impensadas.
Para combater a ansiedade Sêneca pregava um remédio muito simples e prático. Quando se tem a sensação, ou se prevê que alguma coisa de ruim pode acontecer, não adianta afligir-se, tem que se entender que, independentemente do que se quer, tem que se aceitar o que vai acontecer. Se o que vai acontecer é algo “não bom”, é uma coisa só. Aquele que por não aceitá-lo vai adoecer, está provocando a segunda coisa má, mesmo porque, enquanto os fatos acontecem, quem por eles é atingido pouco ou nada pode fazer.
Há outro enfoque no estoicismo, e este esclarece que, como o homem, para alcançar seus objetivos, sempre necessita do concurso de outros, quando estes não podem ou não querem, o resultado jamais é o que se quer.
Devemos aceitar, então, que o homem está inteiramente na mão do destino? Não, segundo Sêneca, ele tem uma certa margem de ação, e esta margem é demonstrada por uma metáfora. “O homem é comparável a um cachorro, preso pelo pescoço por uma corda de alguns metros enquanto a outra extremidade é atada a uma carroça. O comprimento da corda lhe consente uma certa oportunidade de ação, mas continuamente terá que seguir a carroça em todos os seus deslocamentos se não quiser morrer enforcado”. Moral da história: o cachorro é o homem e a carreta seu destino. Conseqüentemente, quem não segue seu destino - propondo-se a combatê-lo frontalmente - jamais evitará a catástrofe, porque a realidade é sempre mais forte de qualquer aspiração.

Os anos percorreram seu corolário, e hoje, no III milênio, mesmo se despirmos o hinduísmo, o budismo e o estoicismo de alguns de seus conceitos, as palavras de Sêneca permanecem tão atuais como o foram em sua época:
· “O homem é tanto mais sábio quanto mais se da conta que é sempre necessário raciocinar para evitar as emoções”.
· “Este comportamento permite eliminar toda a gama de desilusões e dificuldade que necessariamente o homem passional sempre encontra, porque este vive uma relação de conflito constante com a realidade devido à altivez de seus desejos”.
· “A frustração é uma condição muito difundida porque nasce do inevitável choque entre o que se deseja e o que efetivamente acontece”.

O poeta latino Décimo Júnio (60 a 128 d.C), portanto quase contemporâneo de Sêneca, dizia: Men sana in corpore sano, mas poucos conhecem o texto completo do seu adágio que é: “Deve-se rezar para ter mente sã em corpo sadio”. Esta expressão, já naquela época, traduzia a convicção dos médicos de que havia uma estreita correlação entre as emoções e a saúde do corpo físico.
No mundo hodierno, portanto quase 2000 anos depois, por um lado vemos o homem que, por não conseguir induzir seu intelecto a gerenciar seus sentimentos, se deixa esmagar pelo peso da angústia, o que demonstra, inequivocamente, que os médicos do passado, mesmo sem os recursos atuais, eram muito mais sábios do que os de hoje. E do outro, vemos a medicina ocidental, como se estivesse reconhecendo seus erros, reassumindo antigas verdades ao constatar que no oriente os idosos, por praticarem exercícios físicos e meditação diariamente (além de serem assistidos pela medicina naturalista), não só vivem mais, mas praticamente mantém boa saúde até o fim de seus dias.

Por volta do XIX século, Coube a Sigmund Freud afirmar: no inconsciente do homem se encontram os conteúdos psíquicos (desejos, impulsos, medos etc.) que a consciência escondeu de si mesma porque não conseguiu aceitá-los. Aquilo que o homem acredita que esqueceu (afastando dessa forma o sofrimento que lhe é inerente), em verdade não o foi, porque foi removido para o inconsciente onde se mantém pronto para emergir “assumindo formas patológicas” quando o sistema defensivo não mais possui as condições de realizar plenamente sua tarefa. O trabalho da psicanálise, dizia Freud, consiste em trazer à luz (lembrar) o que foi deslocado para o inconsciente com a finalidade de fazer reviver as experiências traumáticas que estão na origem do sofrimento psíquico.
Recordamos o que disse a respeito do stress o psiquiatra Hans Selye? Que era uma reação neuro-endócrina / metabólica / motora do corpo, diante de situações que, por não se estar acostumado a enfrentar, exigem uma adaptação. Teríamos uma reação semelhante se colocássemos sobre os ombros de um sedentário um saco de cem quilos pedindo-lhe que o carregasse por 100 metros. Seguramente seria esmagado pelo peso. Entretanto, se antes o fizéssemos freqüentar uma academia para maximizar sua capacidade muscular, carregar e deslocar 100 quilos tornar-se-ia uma brincadeira.
O stress, então, segundo este estudioso, só se manifesta se não houver uma adaptação. Por isso afirmamos que nada fere o indivíduo que treina sua mente para se manter harmonizada em si mesma (porque ela é a verdadeira essência da vida), independentemente dos “opostos” que tiver que enfrentar ao longo da sua existência. O mundo fenomênico não pode existir sem suas dualidades: o bem e o mal, a dor e o prazer etc.etc. e estas jamais deixarão de existir.
Desse modo, a vida pode ser comparada a um gigantesco playground que seduz os homens a se empenharem em perenes desafios. Este exige um mínimo de dois participantes por jogo ou seu múltiplo em termos de grupo, sempre interessados em defender interesses contrários. Assim, mesmo quando dois amigos são atraídos neste playground, inevitavelmente se tornam inimigos (pelo menos durante o jogo), porque cada um vai dar de si o máximo para ser o vencedor.
O verdadeiro desafio, no entanto, não é o jogo, porque se sabe de antemão que fatalmente há sempre um vencedor e um vencido, ele consiste em conseguir superar, sem sofrer nenhuma seqüela, aquelas “magoas íntimas” que fazem sangrar a alma da maioria dos perdedores. Desse modo, aqueles que ainda não se armaram para serem bons perdedores, ou se habilitam a sê-lo, ou se dispõem a integrar as fileiras daqueles que para readquirir a competitividade tem que freqüentar consultórios psiquiátricos ou estagiar em hospitais.
Nas olimpíadas da vida estes “jogos“ começam logo após o berço e se estendem até a véspera do túmulo, e, por serem ininterruptos, de contínuo deles se afastam (para retornar á mesma arena depois), milhares de perdedores.
Para estes, como foi dito, não resta alternativa a não ser a de se habilitarem a conviver com os “opostos”, porque estes, como sabemos, jamais deixarão de existir.
A habilitação é completada quando o “jogador” passa a conviver com as derrotas como o faz com as vitórias, porque, caso contrário, como não há cenários fixos, aqueles que usufruem “a alegria antes” forçosamente terão que sofrer a “tristeza depois”.
Se olharmos ao nosso redor, despidos de preconceitos, veremos que a cessão da dor sempre pariu a alegria, e a cessão da alegria sempre gerou a dor. Em outras palavras, a dor nasce do útero da alegria, a paz nasce do útero da guerra e a tristeza existe devido a um permanente anseio “de felicidade”.
Desse modo, se o desejo de felicidade for tratado racionalmente, desaparece a nascente da tristeza. Mesmo assim, para os não iniciados, a tristeza é tão somente o prelúdio da felicidade, assim como a felicidade é o prelúdio da angústia.
As mudanças são leis da natureza: do verão passa-se ao inverno, da primavera para o outono, da luz da lua cheia à escuridão da lua nova, do prazer à dor e vice-versa. Nenhum destes cenários, como vimos, é eterno, porque um é sempre a antecâmara do outro.

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