terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CAP.II ALMA, CENTELHA DA VIDA

Contrariando crenças das doutrinas orientais, himduísmo e budísmo, por exemplo, a maioria das religiões cristãs do ocidente, com ou sem raizes no cristianismo moldado pelo imperador Romano Constantino I, ou nascidas das discordâncias que houve pós Lutero, negam a pré-existência ou transmigração da alma, porque no versículo Epístola aos Hebreus 9:27, do Novo Testamento, Bíblia, é dito: “Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo final”.
Entretanto, o conteúdo dos versículos abaixo afirma o contrário, porque segundo Mateus, Jesus disse aos apóstolos que João Batista era a reencarnação do profeta Elias:
Mateus 11:13-15. Porque os profetas e a lei tiveram a palavra até João. E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar. Quem tem ouvido que me ouça.
Mateus 17:12-13. Mas eu vos digo que Elias já veio, mas não o conheceram; antes, fizeram com ele quanto quiseram. Do mesmo modo farão sofrer o Filho do homem. Os discípulos compreenderam, então, que ele lhes falava de João Batista.
Ao longo dos primeiros séculos da nossa era, entretanto, devido à simbiose entre as religiões pagãs e o cristianismo nascente, a reencarnação era um dos componentes da teologia desse ultimo, porque os pais da igreja, entre eles Orígenes de Alexandria, através de seus textos afirmavam que a reencarnação fazia parte do pensamento cristão.
Foi no segundo século da era cristã que Orígenes de Alexandria, teólogo e exegeta, aquele que se dedica à interpretação, explicação e comentários gramaticais, históricos e jurídicos da Bíblia, escreveu na sua obra “sui principi” (obra esta que na oportunidade fazia parte dos livros canônicos), que algumas pessoas, devido a sua inclinação ao mal e a associação a paixões irracionais, depois de morrerem vencido o período de permanência na forma humana, renasciam como animais até pagarem seus débitos.
Orígenes foi considerado um dos mais ilustres estudiosos da Bíblia, da Igreja, e das suas origens. Participou na elaboração do novo testamento, foi um prolífico autor de epistolas, tratados de teologia dogmática e pratica, alem de apologias e obras exegéticas famosas como a “Esapla”, uma das primeiras edições Bíblicas comparadas.
Suas afirmações, relativas a preexistência da alma, foram matéria de importantes controvérsias na igreja da idade média, porém, esta crença persistiu por alguns séculos. Entretanto, como na época a religião era gerenciada pelo Estado, sua competência era dos imperadores (até que a igreja assumisse esta responsabilidade). Eram eles que a manipulavam segundo seus interesses políticos. No ano de 553, em Bisancio, isso se repetiu.
Naquele ano, o Imperador Giustiniano I, através do quinto Concílio Ecumênico (o segundo de Constantinopla), nome dado por Constantino I à antiga Bizâncio quando passou a ser a sede do império do ocidente, submetendo-se mais uma vez aos caprichos de sua esposa, a imperatriz Teodora, ordenou a prisão do Papa Silvério, eleito em Roma um ano antes, e nomeou Virgilio, o núncio apostólico daquela cidade, para substituí-lo, depois que este se comprometeu a ajudar na destruição da crença da reencarnação.
A respeito da imperatriz Teodora, sabe-se que era filha de um tratador de ursos do hipódromo e que tivera uma juventude desregrada, visto que escandalizava a cidade com suas aventuras como atriz e dançarina.
Não se sabe exatamente como o imperador Justiniano a conheceu, mas, seu matrimônio com a antiga bailarina de circo e prostituta, teve grande importância, porque ela influenciou decisivamente várias questões políticas e religiosas.
Teodora, que não tolerava a concorrência quando decidia seduzir um homem, sem nenhum escrúpulo mandava assassinar as mulheres que lhe atravessavam o caminho. Desse modo, quando se inteirou que as almas reencarnavam, passou a se preocupar com a possibilidade de que as rivais que mandara chacinar pudessem voltar para se vingarem. O que fazer? Acreditando que como imperadora tinha cacique para extirpar o “mal pela raiz”, decidiu que a reencarnação devia ser eliminada.
Virgilio, o novo Pontífice, para cumprir o compromisso assumido, não participou do quinto Concílio, e sem ele, os 160 religiosos presentes, vencidos pela pressão do imperador, consensuaram a supressão do conceito da preexistência da alma na teologia cristã. Foi assim que Justiniano I, livre, proclamou livremente seu anátema contra Orígenes de Alexandria, afirmando, em seguida, que se alguém viesse a afirmar novamente que a alma transmigra de um corpo para o outro, seria maldito.
A partir do “consenso” daquele Concílio, falar em reencarnação passou a ser sinônimo de heresia, e este posicionamento pós-fim a qualquer outra discussão séria a este respeito. No entanto a alma, em qualquer dicionãrio, é descrita como sendo “o príncipio espiritual do homem por oposição ao corpo, ou qualidades morais boas ou más ”, o mesmo conceito que é adotado pelo cristianismo.
Fica esclarecido, desse modo, que para as religiões orientais, as Afro-brasileiras, Kardecismo e outras, a alma pré-existe e reencarna (transmigração), enquanto que os demais credos, entre os quais a igreja catolica apostolica romana, ratificam que ela existe, sim, só que, a partir da crença que Jesus Cristo ressuscitou em seu todo, isto é, de corpo e alma, ou se quizermos, de corpo e espírito, a alma é parte integrante do ser e é nele mesmo que ela se exaure.
Sim, a tese que os mortos permanecem dormindo até a “ressurreição da carne”, para serem julgados no dia do juizo final, quando está provado que, se seus restos mortais não forem preservados, em poucos anos viram pó, carece de fundamento, mas somente ruirá, levando consigo a estrutura base do cristianismo, no dia em que for “encontrado” o jazigo que esconde os restos mortais (corpo físico, claro), daquele que um dia foi crucificado. Ou será que as provas existêntes permitem derrubar esta tese agora mesmo?

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